Translate

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

MAHAMUDRA
 A EXPERIÊNCIA DEFINITIVA
 

 
Quarta Parte

"O vácuo não precisa de confiança,
Mahamudra repousa sobre nada.
Sem fazer esforço,
Mas permanecendo desprendido e natural,é possível quebrar o jugo,
ganhando assim, a libertação."


 
A primeira coisa a compreender é que o conceito do eu é criado pela mente - não há eu em ti.
Isto aconteceu de fato: Um grande budista, homem de esclarecimento, foi convidado pelo rei para ministrar-lhe ensino. O nome do monge budista era Nagasen; o rei era o vice-rei de Alexandre. Quando Alexandre retornou da Índia, deixou ali Minander como seu vice-rei. Seu nome hindu era Milinda. Milinda pediu a Nagasen que viesse ensinar-lhe. Estava realmente interessado e ouvira muitas histórias sobre Nagasen. Muitos rumores haviam chegado à corte: "É um fenômeno raro! Raramente acontece que um homem floresça, e aquele homem floresceu. Tem, ao derredor, um aroma de algo desconhecido, uma energia misteriosa. Caminha sobre a terra, mas não é da terra." O rei ficou interessado e o convidou.

Um mensageiro foi ter com Nagasen e voltou bastante perplexo, pois ele lhe havia dito: "Sim, se ele convida, Nagasen irá;mas diga-lhe que não há ninguém como Nagasen. se é convidado, irá, mas diga-lhe, exatamente, que não há ninguém que seja "eu sou". Eu já não sou."
 
O mensageiro ficou perplexo, porque, se Nagasen já não era, quem viria? Milinda também ficou perplexo e disse: "Esse homem fala por enigmas. Mas deixemos que venha." Milinda era grego, e a mente grega é basicamente lógica.

Há apenas duas mentes no mundo: A hindu e a grega. A hindu é ilógica e a grega é lógica. A hindu move-se nas profundidades das trevas, estranhas profundidades onde não há fronteiras, onde tudo é vago, enevoado. A mente grega caminha sobre a linha lógica, reta, onde tudo está definido e classificado. A mente grega move-se no conhecimento. A mente hindu move-se no desconhecido, e , ademais, no incognoscível. A mente grega é absolutamente racional, a mente hindu é absolutamente contraditória. Portanto, se encontrares demasiadas contradições em mim, não te aborreças - essa é a forma. Na contradição está a forma oriental de relatar.

Milinda disse: - "esse homem parece ser irracional, parece ter enlouquecido. Se ele não é, então como pode vir? mas deixemos que venha. Eu provarei, apenas pela sua vinda, que ele é."
Então, Nagasen veio. Milinda o recebeu ao portão e a primeira coisa que disse foi: - "estou perplexo por teres vindo, apesar de teres dito que já não és."

Nagasen respondeu: - "Ainda digo isso. Portanto, vamos resolver o caso aqui mesmo."

Um grupo reuniu-se, toda a corte apareceu ali e Nagasen disse: "Tu fazes as perguntas."

Milinda perguntou: - "Dize-me, antes de mais nada: Se algo não é, como pode vir? Se, em primeiro lugar, ele não é, então não há possibilidade para a sua vinda; mas tu vieste. É simples lógica a constatação de que tu és."

Nagasen riu e disse: - "Olha para este ratha" (o carro em que tinha vindo). Olha para ele. Tu o chamas de ratha, um carro puxado por cavalos." Milinda confirmou. Então Nagasen mandou que seus acompanhantes retirassem os cavalos. Uma vez desatrelados os animais, Nagasen perguntou: - "Os cavalos são o carro?"

Milinda disse: - "Claro que não!" Então aos poucos, tudo quanto havia no carro foi sendo retirado, parte por parte. As rodas foram removidas, e ele perguntou: "essas rodas são o carro?" Milinda disse: - "está certo que não!"

Quando tudo foi removido, nada mais restando, Nagasen indagou: - "Onde está o carro em que vim? Não removemos o carro, e tudo quanto foi removido não era, segundo foi confirmado, o carro. Assim, onde está o carro?"

E nagasen explicou: -"è exatamente assim que Nagasen existe. Remove as partes e ele desaparecerá." Apenas linhas cruzadas de energia: removam-se as linhas e o ponto desaparecerá. O carro era apenas uma combinação de partes.

Tu também és uma combinação de partes, o eu é uma combinação de partes. Remove coisas e o eu desaparecerá. Por isso é que, quando os pensamentos são removidos da percepção, não podes dizer eu, porque não há eu - apenas um vácuo é deixado. Quando os sentimentos são removidos, o eu desaparece completamente. Tu és, e contudo não és: És apenas uma ausência sem fronteiras, vacuidade.

Essa é a obtenção final; esse estado é Mahamudra, porque só nesse estado podes ter o orgasmo com o Todo. Quando não há mais fronteiras, não existe eu. Agora já não há fronteiras para ti.

O Todo não tem fronteiras. Tu deves tornar-te como o Todo - mas para isso deve haver um encontro, uma fusão. Quando estás vazio, estás sem fronteiras, e, subitamente, tornas-te o Todo.

Quando não és, tornas-te o Todo.
Quando és, tornas-te um feio ego.

Quando não és, tens toda a expansão da existência para que o teu ser seja.

Mas há contradições. Portanto, tenta compreender: Torna-te um pouco semelhante a Naropa, de outra forma estes símbolos nada levarão até ti. Ouve-me com confiança. E quando eu falo, ouve-me com confiança; se te digo que conheci isso, é assim como digo. Sou uma testemunha, dou um testemunho disso, isso é assim. Pode não ser possível dizê-lo, mas tal coisa não significa não significa que isso não seja. Podes dizer algo que não é, e podes ser incapaz de me compreender, se fores como Naropa, se me ouvires com confiança.

Não estou ensinando uma doutrina. De forma alguma ter-me-ia preocupado com Tilopa se essa também não fosse a minha própria experiência.

Tilopa disse isso muito bem:


"O vácuo não precisa de segurança,
Mahamudra repousa sobre nada.
Sobre nada Mahamudra repousa."


 
Mahamudra significa, literalmente, o grande gesto, ou o gesto definitivo; o último que podes ter e para além do qual nada é possível.

 
"Mahamudra repousa em nada.
Sê um nada e, então, tudo estará obtido.
Morre e te tornarás um Deus.
Desaparece e te tornarás o Todo.
Aqui a gota desaparece
e ali o oceano passa a existir."


 
Não te agarres a ti mesmo - isso é o que tens feito em todas as tuas vidas passadas: Agarrar-te, receoso de, se não te agarrares, ter de olhar para baixo e encontrar um abismo sem fundo.
 
Por isso é que nos agarramos a coisas insignificantes, triviais, e continuamos agarrados a elas. O agarrar-se mostra que também és consciente de um vasto vazio interior. Precisas de alguma coisa em que agarrar-te, mas isso é o teu samsara, a tua angústia. Deixa-te cair no abismo. E, uma vez que tenhas caído no abismo, tornar-te-ás o próprio abismo.
 
Osho
https://redemetamorfose.org
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário