MAHAMUDRA
A EXPERIÊNCIA DEFINITIVA
A EXPERIÊNCIA DEFINITIVA
Quinta Parte
Então, não há morte,
porque como pode um abismo morrer?
Então, não haverá fim,
Então, não haverá fim,
porque como pode o nada acabar?
Algo pode acabar, terá de acabar -
Algo pode acabar, terá de acabar -
mas só o nada pode ser eterno.
mahamudra repousa sobre o nada.
mahamudra repousa sobre o nada.
Deixa que te explique, através da experiência que tens. Quando amas uma pessoa, tens que tornar-te nada. Quando amas uma pessoa, tens que tornar-te um não - eu. Por isso é que o amor se torna tão difícil. É por isso que Jesus disse que Deus é igual a amor. Jesus sabia alguma coisa sobre Mahamudra, porque antes de iniciar seus ensinamentos em Jerusalém ele tinha estado na Índia. Também esteve no Tibete,onde encontrou pessoas como Tilopa e Naropa. Estagiou em mosteiros budistas e aprendeu o que é aquilo a que as pessoas chamam o nada. Então, tentou passar todo o seu conhecimento para a terminologia judaica. E foi aí que tudo se tornou confuso.
Não podes passar o entendimento budista para a terminologia judaica. É
impossível porque a terminologia judaica depende de termos positivos e a
terminologia budista depende de termos absolutamente niilistas: nada,
vacuidade. Mas, aqui e ali, nas palavras de Jesus há vislumbres. Ele
diz: "deus é amor" e está insinuando algo. O que?
Quando amas, tens que tornar-te um ninguém. Se permaneces alguém, o
amor jamais acontece. Quando amas uma pessoa, mesmo por um só momento,
quando o amor acontece e floresce entre duas pessoas, há dois nadas, não
duas pessoas. Se já tiveste essa experiência de amor, poderás entender.
Dois amorosos, sentados lado a lado, um ao lado do outro, ou dois
nadas sentados juntos: Só então o encontro é possível, porque as
barreiras foram destruídas, as fronteiras postas de lado. A energia pode
mover-se de cá para lá, não há obstáculos. E só em tais momentos é que
um profundo orgasmo de amor é possível.
Quando dois amorosos estão fazendo amor, o orgasmo só acontece se
forem, ambos, não-eus, nada. Então a energia de seus corpos, todo o seu
ser, perde completamente a identidade. Eles já não são eles próprios,
tombaram no abismo. Mas isso só dura por um momento. De novo voltam, de
novo recomeça o apego. Por isso é que as pessoas também tem medo de
amar.
No amor profundo, as pessoas temem enlouquecer, ou morrer, temem o
que pode vir a acontecer. O abismo abre sua boca, toda a existência
boceja e, subitamente, estás ali, podes tombar ali. As pessoas tornam-se
medrosas do amor e, então, satisfazem-se com o sexo e chamam ao sexo
"amor".
O amor não é sexo. O sexo pode acontecer no amor, pode ser parte
dele, parte integral, mas o sexo, em si mesmo, não é amor - é um
substituto. Tentais evitar o amor através do sexo. Dais a vós mesmos, a
sensação de estar amando, mas não vos estais movendo em amor. O sexo é
tal qual o conhecimento emprestado: dá a sensação de saber, sem saber,
dá a sensação de amor e de estar amando, sem amar.
Amando não estais e o outro também não: Então, subitamente, os dois
desaparecem. O mesmo acontece com Mahamudra. Mahamudra é o orgasmo total
com a completa existência.
Por isso é que em Tantra - e Tilopa é um
Mestre Tântrico - o coito profundo, o coito orgasmático entre dois
amorosos é também chamado Mahamudra; e dois amorosos em profundo estado
orgasmático estão representados nos templos tântricos, em livros
tântricos. Essa figura tornou-se um símbolo do orgasmo final.
E esse é todo o método de Tilopa e todo o método do Tantra: "Sem
fazer esforço"... porque, se fazes esforço, o ego se robustece. Se fazes
esforço, estás ali.
Portanto, o amor não é um esforço, não podes fazer esforço para amar.
Se fizeres esforço, não haverá amor. Tu fluis para ele, tu não fazes
esforço, simplesmente consentes que ele aconteça; não fazes esforço. Não
é uma ação, é uma contecimento: "Sem fazer esforço"... E o mesmo se dá
com o final, com o total: tu não fazes esforço, simplesmente flutua
nele...
Mas permanece desprendido e natural. essa é a forma, esse é o próprio terreno de Tantra.
O
Ioga diz que se faça esforço, o Tantra diz que não se faça esforço. O
Ioga é orientado para o ego - até que finalmente ele abandone a si mesmo
- mas Tantra, desde o princípio, é orientado para o não-ego. O Ioga, ao
final de sua prática, atinge tal significação, sentido e profundidade,
que diz àquele que procura: "Agora, deixa cair o ego" - mas isto apenas
no fim. Tantra diz isso desde o inicio - e Tantra leva à Meta
Definitiva. O Ioga pode preparar para Tantra, isso é tudo, porque o ato
final deve ser feito sem esforço, "desprendido e natural".
Que entende Tilopa por "desprendido e natural"? Não lutes consigo
mesmo, desprende-te. Não tentes formar uma estrutura em torno do teu
caráter, de tua moralidade. Não te disciplines demais, de outra forma
tua própria disciplina se tornará dependência. Não cries uma prisão em
torno de ti. Conserva-se desprendido, flutuando, move-te com a situação,
responde à situação. Não te movas com um colete-caráter em torno de ti,
não te movas numa atitude fixa. Permanece desprendido como água e não
imóvel como o gelo. Permanece movendo-te e flutuando. Para onde a
natureza te levar, vai. Não resistas, não tentes impor coisa alguma a ti
mesmo, ao teu ser.
Toda a sociedade, entretanto, ensina-te a impor algo aos outros. Sê
bom, sê moral, sê isto, sê aquilo. E Tantra está inteiramente para além
da sociedade, da cultura, da civilização. Ele diz que, se fores
demasiadamente culto, perderás tudo quanto é natural e, então, serás uma
coisa mecânica, sem flutuar, sem fluir. Portanto, não forces uma
estrutura em torno de ti - vive momento a momento, vive em vigilância. E
isso já é profundo o bastante para ser entendido.
Por que razão as pessoas tentam criar uma estrutura em torno delas?
Para não necessitarem da vigilância - porque, se não tiveres um caráter
em torno de ti, precisarás estar muito, muito atento: cada momento
terás de tomar uma decisão. E tu não tens decisões pré determinadas, não
tens uma atitude. No entanto, tens de responder a uma situação: algo
está ali e estás inteiramente despreparado para isso. Terás de ser
muito, muito consciente.
Para evitar a vigilância as pessoas criaram um artifício, e o
artifício é o caráter, Force-se uma pessoa a determinada forma de
disciplina e, esteja ela ou não em vigilância, a disciplina por si só
ocupar-se-á de tomar conta. Tome-se como hábito o dizer sempre a
verdade, faça-se disso realmente um hábito, e já não será mais preciso
ter preocupações. Alguém fará uma pergunta e, pela força do hábito, será
preciso dizer a verdade. Mas, dita pela força do hábito, a verdade
estará morta.
E a vida não é tão simples. A vida é um fenômeno muito complexo. Às
vezes, uma mentira é necessária, como, às vezes, uma verdade pode ser
perigosa - devemos estar atentos. Por exemplo, se através da nossa
mentira a vida de alguém é salva, se através dela ninguém é prejudicado e
a vida de alguém é salva, que faremos? Se tivermos a mente fixa na ideia de que devemos ser verdadeiros, mataremos então, uma vida.
Nada é mais valioso do que a vida, verdade alguma é mais valiosa do
que a vida. E, às vezes, nossa verdade pode matar a vida de alguém. Que
farias? Só para salvar teu velho padrão e hábito, teu próprio ego, o
"sou um homem verdadeiro", sacrificarias uma vida - só para ser um homem
verdadeiro, só por isso? Estarás completamente louco! Se uma vida pode
ser salva, mesmo que as pessoas te achem um mentiroso, que mal há nisso?
Por que dar tanta importância ao que as pessoas dizem a teu respeito?
É difícil! Não é assim tão fácil criar um padrão fixo porque a vida
segue, movendo-se e modificando-se e, a cada momento, há uma nova
situação para a qual é preciso dar resposta. Responde com inteira
consciência, isso é tudo. E deixa que a decisão saia da própria
situação, não pré-fabricada, não imposta. Não tenhas contigo uma mente
inteiramente edificada; conserva-te desprendido e natural.
Assim é um homem realmente religioso. De outra forma, as pessoas
tidas como religiosas estão mortas. Agem de acordo com seus hábitos,
continuam agindo de acordo com seus hábitos - isto é condicionamento,
não liberdade. E percepção exige liberdade.
Sê desprendido: Recorda-te desta palavra o mais profundamente
possível. Deixa que ela penetre em ti: Sê desprendido, de forma que, a
cada situação, possas fluir facilmente como a água. A água, quando
despejada num copo, toma a forma desse copo. Ela não resiste, ela não
diz: "Essa não é minha forma." Se a água for despejada num jarro, ou num
cântaro, toma a forma deles. Não tem resistência; é desprendida.
Conserva-te desprendido como a água.
Algumas vezes terás de mover-te para o norte, às vezes para o sul.
Terás constantemente de mudar de direção e, conforme a situação, terás
de fluir. Mas, se souberes como fluir, isso bastará. O oceano não estará
tão longe, se souberes como fluir.
Portanto, não cries um padrão. Toda sociedade tenta criar um padrão, e
todas as religiões tentam criar um padrão. Só umas poucas pessoas,
pessoas iluminadas, têm sido corajosas o bastante para dizer a verdade; e
a verdade é esta: Sê desprendido e natural! Se fores desprendido, serás
natural, é evidente.
Tilopa não diz: "Sê moral!" Mas diz: "Sê natural!" E essas são
dimensões diametralmente opostas. Um homem moral nunca é natural, não
pode sê-lo. Se se sentir encolerizado, não poderá demonstrá-lo porque a
moralidade não o permite. Se sentir amor, não poderá amar porque a
moralidade está presente. É sempre de acordo com a moralidade que ele
age, e nunca de acordo com a sua natureza.
Eu, porém, te digo: Se te começares a mover de acordo com padrões
morais, e não de acordo com a tua natureza, jamais alcançarás o estado
de Mahamudra, porque esse é um estado natural, o mais alto grau do ser
natural. Eu te digo: Se te sentes encolerizado, mostra-te encolerizado -
mas a perfeita consciência deve ser retida. A cólera não deve
sobrepor-se à tua percepção; isso é tudo.
Deixa que a cólera flua, deixa que ela aconteça, mas mantém-se
inteiramente alerta para o que se passa. Permanece desprendido, natural,
consciente, observando o que acontece. Aos poucos, verás que muitas
dessas coisas simplesmente desapareceram, já não acontecem; e sem
qualquer esforço de tua parte. Não tentaste suprimi-las e elas, no
entanto, desapareceram.
Quando uma pessoa está consciente, a cólera, aos poucos, desaparece.
Torna-se simplesmente estúpida - não má, lembra-te, porque má tem valor
majorado. Ela torna-se, simplesmente, estúpida. Não será pelo fato de
ela ser má que tu deixarás de permanecer tomado por ela, mas sim porque
será uma tolice. Não um pecado, mas simplesmente uma estupidez. A avidez
desaparece, ela é estúpida. O ciúme desaparece, ele é estúpido.
Lembra-se dessa avaliação. Na moralidade existe algo bom e algo mau. E
em ser natural existe algo sensato e algo estúpido, não mau. Nada é
mau, nem bom; só existem coisas sensatas e coisas estúpidas. E, se és
tolo, prejudicas a ti próprio e aos demais. Se és sensato não prejudicas
a ninguém - nem aos outros, nem a tua própria pessoa.
Osho
https://redemetamorfose.org
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