SOBRE OS APEGOS
Se você não atribui um valor exagerado às coisas externas (materiais), logo não se apega nem se vicia. Se não odeia ou teme,
logo não se abstêm ou foge com medo (transcende o desejo). Então
se torna uma pessoa livre e destemida, não mais dependente dos aparentes
poderes externos. Assim passa a ser o dono de seu destino e de sua
vida de forma consciente e natural.
Utiliza as coisas externas e as
mantém sob controle sem dificuldade, e não é mais dominado por elas, ou
não se torna escravo da matéria nem dos vícios. Na realidade, é isso o
que realmente almejamos intimamente, embora muitos não alcancem devido o
estado de consciência que se encontram.
O desejo é uma questão delicada de
explicar, já que todo mundo tem desejos. Há expressões como: “evitar os
desejos”, “eliminar os desejos”, etc. Mas como? A conseqüência da repressão é a compulsão (extremos da mente humana dualística).
Quando compreendemos a frase de Jesus: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás”,
então podemos entender que não amando, odiando ou temendo o reino
material, nós adquirimos naturalmente o domínio espiritual do desejo,
sem haver repressão ou abstinência (pose de santo). Ou seja:
Já não
queremos excomungar e extirpar os desejos;
o único objetivo que nos
domina por completo é o de sempre conhecer tanto quanto for possível.
Quem deseja seriamente se tornar livre perderá a inclinação para erros e vícios, sem que nada o obrigue a isso;
também a raiva e o desgosto o assaltarão cada vez menos. Pois sua
vontade não deseja nada mais instantemente do que o conhecimento e o
meio de alcançá-lo, ou seja: a condição duradoura em que ele está mais
apto para conhecer.
Ao tentarmos dominar a sensualidade, o desejo falso, a gula; ao fazer
esforço para nos livrarmos dos traços humanos errôneos, descobrimos que
eles se multiplicam muito e muito. Não tente, por um ato de vontade,
eliminar esses erros, não se condene por qualquer traço falso ou
negativo que você possa ter; não se atormente.
Fique satisfeito ao
vê-los se dissipar em sua percepção constante do Eu (essência divina) que eu sou. Não
tente se livrar de qualidades negativas; não tente se livrar de
qualidades ou traços humanos maus. Fique satisfeito ao vê-los se
desfazer e desaparecer de sua própria inexistência, à medida que você
reside sob a proteção do Altíssimo, à medida que você reside na
consciência do Eu Superior.
Quanto mais você aprende a se identificar com a essência divina, em vez
de se identificar com o corpo e com a experiência humana, mais
qualidades espirituais se manifestarão em sua experiência.
Se eu tivesse
que tentar ser um ser humano muito bom, fracassaria. Mas, se tentar
esquecer meu aspecto humano e residir no Eu que eu sou e perceber que o
Eu é Deus, então, Ele Se manifestará no corpo, nos pensamentos e nas
ações que se originarem.
Quando a Consciência toma conta, Ela elimina todos os traços ou
desejos errôneos que possamos ter e o faz à Sua própria maneira e em Seu
próprio tempo. Se nós próprios tentarmos eliminá-los, estaremos sendo
apenas farisaicos. Isto não quer dizer que nada devemos fazer. Devemos
fazer esforço para compreender o que é Consciência, mas esse esforço não
envolve o uso de saco e cinza.
É possível ter os prazeres do mundo e se alegrar com eles, ou não
tê-los e não lhes sentir a falta. O que passa a existir é uma alegria
interior que não precisa de estímulos externos. Eu mesmo encontro prazer em muitas coisas bonitas e desfrutáveis
deste mundo, mas já não existe mais um apego exagerado por elas.
Não se preocupar com os desejos, ou não
lhe atribuir poder e focar a atenção na busca da verdade conforme sugere
também o filósofo Nietzsche, é a mesma coisa que não amar, odiar ou
temer os desejos, ou o que quer que seja. Embora muitos façam confusão a
respeito disso. Do contrário poderemos voltar a ser uma pessoa medrosa e
reprimida, e não realmente livre.
Quando odiamos as coisas externas, condenamos ou excomungamos a existência. Quando tememos,
estamos acreditando em poderes externos. Assim ignoramos e
negligenciamos o nosso Ser interior, o Todo-Poderoso, o único Poder
real. Desse modo, não há como não ser escravo dos desejos, das coisas
externas, mesmo que não queiramos e lutemos contra com todas as nossas
forças.
O despertar da nossa consciência espiritual não é algo que exija
sacrifício e esforço próprio, porém apenas compreensão e prática diária
de reflexão e meditação, a respeito da verdade única interior. Não
significa um viver triste e desagradável, através de repressão e
abstinência, pois “onde está o espírito de Cristo, aí há liberdade” (II Coríntios, 3:17).
Na verdade, não somos nós como pessoas humanas que alcança algum
equilíbrio espiritual, porém o despertar da nossa consciência, já que
isso é um dom de Deus, segundo o apóstolo Paulo (Efésios, 2:8 a 10).
Não ameis o mundo, nem o que no mundo há.
Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.
(I João, 2:15).
O amor que Ele está pedindo que vocês abandonem é aquele que cria
dependência ou esperança em relação a alguma coisa ou pessoa. Em outras palavras:
precisamos nos voltar para dentro de nós.
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