O silêncio é uma tarefa que exige o
empenho integral de todas as forças do ser
humano. Ele nos faz uma exigência moral: devemos demolir nossas atitudes errôneas, combater nosso egoísmo e abrir-nos para
Deus. O silêncio não é tanto uma técnica de
descontração, de aprofundamento ou a atitude de
desligar-se. É a arte de tornar-se um observador.
Nunca devemos andar atrás de saber como é
este ou aquele, tais perguntas apenas nos
afastam do foco em Deus e levam às calúnias e às
conversas vãs; por isso o melhor é calar-se
inteiramente. A curiosidade leva à distração. A pessoa distraída ocupa-se com todas as
coisas. É vazia e superficial. O pensamento de
Deus não pode permanecer nela. Nada pode nela amadurecer.
Quando alguém não é capaz de guardar nada
para si e tem necessidade de falar a respeito de
tudo, tanto do bem quanto do mal, não possui
profundidade. Não conhece segredos. Não consegue viver com segredos, não
consegue suportá-los. Não é capaz de penetrar profundamente em um mistério.
Destrói o mistério, porque logo quer falar a respeito dele.
Outro perigo do falar é o de julgar os
outros. Se observarmos cuidadosamente o que
falamos veremos que uma grande parte é a respeito
dos outros. Continuamente eles nos fornecem assunto para conversa. Mesmo quando queremos falar sobre os
outros positivamente, nós sempre nos surpreendemos julgando, classificando, ou
então comparando-nos a eles. Com bastante frequência falar sobre os
outros é falar sobre si mesmo, sem que disto se tome consciência.
“A tagarelice é o trono da vanglória,
onde ela senta-se em juízo sobre si mesma e toca o trombone
sobre si para o mundo inteiro.” Quem fala quer ser levado em conta, a
sério, ser ouvido,
ser considerado. E com bastante frequência ele espera ser reconhecido, ou mesmo admirado. Sem perceber, torcemos as palavras de
modo a provocar reconhecimento. O falar serve, com frequência, para satisfazer a vaidade.
Ao falar, esquecemo-nos constantemente a vigilância sobre nós mesmos. A um ouvinte atento nosso falar revela
qual é a nossa situação, em que é que estamos pensando, com que nos preocupamos e
o que não conseguimos superar interiormente. Nossa linguagem trai aos outros as nossas
emoções e desejos, nossos planos, nossas
motivações, nossos problemas e complexos.
“Assim como as portas do banho quando
ficam sempre abertas, rapidamente deixam o calor escoar-se de dentro para fora, assim também
quem muito fala, mesmo que fale de coisas boas, deixa sua lembrança fugir pelo
portão da voz”. Ao falar sempre nos afastamos de nós
mesmos e do nosso centro e passamos por cima das barreiras interiores que
erguemos para criar ordem nas nossas idéias e sentimentos.
São Bento fala, com muita clareza, sobre
a importância do silêncio. Ele acha que mesmo sobre as coisas boas é melhor
ficar calado do que falar. Com isto ele parece querer dizer que é praticamente
impossível falar-se de coisas boas sem com isto também se
entrar em
contato com as coisas más. Bento quer chamar nossa atenção para o
fato de que em todo o nosso falar o mal consegue insinuar-se.
A experiência de que em todo o falar nós
sempre pecamos não deve nos deixar oprimidos. Mas o que é importante, para Bento, não é
a pureza em relação ao pecado, mas sim, que não devemos nos iludir pensando que, ao buscar os nossos ideais, nós já sejamos quase perfeitos.
Não devemos imaginar que estejamos sempre com a consciência pesada, do contrário
haveríamos de nos tornar escrupulosos. Entretanto,
quando falamos, as palavras parecem introduzir
sentimentos ambíguos na vida. Parece ser quase impossível falar sem ao
mesmo tempo pecar. Mesmo na mais exigente discussão,
introduz-se alguma coisa que insinua poluir a
atmosfera.
Inexplicavelmente o falar diminui a
capacidade de vigilância e a abertura à energias superiores; tornamo-nos mais egocêntrico. “Eis que já se passaram trinta anos que
não rezo a Deus por causa de um pecado, mas por isso eu rezo: Senhor Jesus, protegei-me contra minha
língua – e no entanto eu ainda peco e caio diariamente pela língua” ( afirmação de um religioso )
Trechos
extraídos do livro :
As
Exigências do Silêncio de Anselm
Grun
Compartilho consigo estas importantes observações sobre o perigo do falar compulsivo. Cada vez mais compreendo que o silêncio inteligente restaura a mente e conduz à observação consciente. Convido-lhe para, juntos, realizarmos esta maravilhosa e reconfortante aventura silenciosa. KyraKally
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