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quinta-feira, 6 de novembro de 2014


OS PERIGOS DO FALAR
 
O silêncio é uma tarefa que exige o empenho integral de todas as forças do ser humano. Ele nos faz uma exigência moral: devemos demolir nossas atitudes errôneas, combater nosso egoísmo e abrir-nos para Deus. O silêncio não é tanto uma técnica de descontração, de aprofundamento ou a atitude de desligar-se. É a arte de tornar-se um observador.

Nunca devemos andar atrás de saber como é este ou aquele, tais perguntas apenas nos afastam do foco em Deus e levam às calúnias e às conversas vãs; por isso o melhor é calar-se inteiramente. A curiosidade leva à distração. A pessoa distraída ocupa-se com todas as coisas. É vazia e superficial. O pensamento de Deus não pode permanecer nela. Nada pode nela amadurecer.

Quando alguém não é capaz de guardar nada para si e tem necessidade de falar a respeito de tudo, tanto do bem quanto do mal, não possui profundidade. Não conhece segredos. Não consegue viver com segredos, não consegue suportá-los. Não é capaz de penetrar profundamente em um mistério. Destrói o mistério, porque logo quer falar a respeito dele. 

Outro perigo do falar é o de julgar os outros. Se observarmos cuidadosamente o que falamos veremos que uma grande parte é a respeito dos outros. Continuamente eles nos fornecem assunto para conversa. Mesmo quando queremos falar sobre os outros positivamente, nós sempre nos surpreendemos julgando, classificando, ou então comparando-nos a eles. Com bastante frequência falar sobre os outros é falar sobre si mesmo, sem que disto se tome consciência.

“A tagarelice é o trono da vanglória, onde ela senta-se em juízo sobre si mesma e toca o trombone sobre si para o mundo inteiro.” Quem fala quer ser levado em conta, a sério, ser ouvido,
ser considerado. E com bastante frequência ele espera ser reconhecido, ou mesmo admirado. Sem perceber, torcemos as palavras de modo a provocar reconhecimento. O falar serve, com frequência, para satisfazer a vaidade.

Ao falar, esquecemo-nos constantemente a vigilância sobre nós mesmos. A um ouvinte atento nosso falar revela qual é a nossa situação, em que é que estamos pensando, com que nos preocupamos e o que não conseguimos superar interiormente. Nossa linguagem trai aos outros as nossas emoções e desejos, nossos planos, nossas motivações, nossos problemas e complexos.

“Assim como as portas do banho quando ficam sempre abertas, rapidamente deixam o calor  escoar-se de dentro para fora, assim também quem muito fala, mesmo que fale de coisas boas, deixa sua lembrança fugir pelo portão da voz”. Ao falar sempre nos afastamos de nós mesmos e do nosso centro e passamos por cima das barreiras interiores que erguemos para criar ordem nas nossas idéias e sentimentos.

São Bento fala, com muita clareza, sobre a importância do silêncio. Ele acha que mesmo sobre as coisas boas é melhor ficar calado do que falar. Com isto ele parece querer dizer que é praticamente impossível falar-se de coisas boas sem com isto também se entrar em contato com as coisas más. Bento quer chamar nossa atenção para o fato de que em todo o nosso falar o mal consegue insinuar-se. 

A experiência de que em todo o falar nós sempre pecamos não deve nos deixar oprimidos. Mas o que é importante, para Bento, não é a pureza em relação ao pecado, mas sim, que não devemos nos iludir pensando que, ao buscar os nossos ideais, nós já sejamos quase perfeitos.

Não devemos imaginar que estejamos sempre com a consciência pesada, do contrário haveríamos de nos tornar escrupulosos. Entretanto, quando falamos, as palavras parecem introduzir sentimentos ambíguos na vida. Parece ser quase impossível falar sem ao mesmo tempo pecar. Mesmo na mais exigente discussão, introduz-se alguma coisa que insinua poluir a atmosfera.

Inexplicavelmente o falar diminui a capacidade de vigilância e a abertura à energias superiores; tornamo-nos mais egocêntrico. “Eis que já se passaram trinta anos que não rezo a Deus por causa de um pecado, mas por isso eu rezo: Senhor Jesus, protegei-me contra minha língua – e no entanto eu ainda peco e caio diariamente pela língua” ( afirmação de um religioso )

 
Trechos extraídos do livro :
As Exigências do Silêncio de Anselm Grun




Compartilho consigo estas importantes observações sobre o perigo do falar compulsivo. Cada vez mais compreendo que o silêncio inteligente restaura a mente e conduz à observação consciente. Convido-lhe para, juntos, realizarmos esta maravilhosa e reconfortante aventura silenciosa. KyraKally





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