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sexta-feira, 30 de junho de 2017

UMA SAÍDA PARA 
UM BECO SEM SAÍDA

 Primeira Parte

Pergunta: "Querido Osho, Eu venho de uma família na qual ocorreram quatro suicídios no lado materno, incluindo minha avó. Como isto afeta a morte de uma pessoa? O que pode ajudar a superar essa perversão da morte que é um tema presente na família? "

O fenômeno da morte é um dos mais misteriosos e assim também é o fenômeno do suicídio. Não defina o suicídio a partir da sua superfície. Ele pode significar muitas coisas. A minha compreensão é que as pessoas que cometem suicídio são as mais sensíveis no mundo, elas são muito inteligentes. Por causa de sua sensibilidade e de sua inteligência, elas têm dificuldade para conviver com este mundo neurótico.
 
A sociedade é neurótica. Ela existe sobre bases neuróticas. Toda a sua história é uma história de loucuras, de violência, guerras e destruições. Alguém diz, ‘Meu país é o maior do mundo’. Isto é uma neurose. Um outro diz, ‘Minha religião é a maior e a mais evoluída do mundo’. Esta é outra neurose. E estas neuroses já entranharam no sangue e nos ossos e as pessoas tornaram-se muito embotadas e insensíveis. Elas tiveram que se tornar assim, caso contrário a vida ficaria impossível.
 
Você tem que se tornar insensível para conviver com essa vida dura ao seu redor. Senão, você ficará fora de sintonia. Se você não estiver em sintonia com a sociedade, ela declara que você está louco. A sociedade é louca, mas se você não estiver ajustado a ela, você é declarado louco. Assim, ou você se torna louco ou tem que encontrar um jeito de sair da sociedade. O suicídio é isto: a vida se torna intolerável. Parece ser impossível conviver com tantas pessoas ao seu redor, sendo todas elas insanas. (...)
 
Neste mundo neurótico, se você for sadio, sensível e inteligente, ou ficará louco ou cometerá suicídio – ou você terá que se tornar um sannyasin. Que outra possibilidade existe?
 
Quem formulou esta pergunta foi a Jane Ferber. Ela é esposa do Bodhicitta. Ela veio a mim na hora certa. Ela pode tornar-se uma sannyasin e evitar o suicídio.
No Oriente não acontecem tantos suicídios, porque o sannyas é uma alternativa. Você pode abandonar tudo com muito respeito. O Oriente aceita isto. Você pode começar a fazer as suas próprias coisas, o Oriente tem respeito por isto. É de cinco vezes a diferença entre a Índia e os Estados Unidos, para cada indiano que comete suicídio, cinco americanos fazem o mesmo. E o fenômeno do suicídio está crescendo nos Estados Unidos. A inteligência está crescendo, a sensibilidade está crescendo, enquanto a sociedade está ficando mais embotada. E a sociedade não provê um mundo inteligente. Então, o que fazer? Continuar sofrendo desnecessariamente?

Daí, a pessoa começa a pensar, ‘Por que não abandonar tudo isto? Por que não acabar com tudo? Por que não devolver o bilhete de entrada para Deus?’ Se o sannyas tornar-se um grande movimento nos Estados Unidos, a taxa de suicídio vai começar a cair porque as pessoas terão uma alternativa muito melhor e mais criativa do que abandonar tudo. Você já observou que os hippies não cometem suicídio? É no mundo quadrado, no mundo convencional, que o suicídio predomina. O hippie abandonou tudo. Ele é um tipo de sannyasin, ainda não totalmente alerta quanto ao que está fazendo, mas está no rumo certo; movimentando-se, tateando no escuro, mas indo na direção certa. O hippie é o começo do sannyas. Ele diz, ‘Eu não quero fazer parte desse jogo podre, eu não quero fazer parte desse jogo político. Eu vejo como as coisas são, mas gostaria de viver a minha própria vida. Eu não quero tornar-me escravo de alguém. Eu não quero morrer numa guerra. Eu não quero combater, pois existem coisas muito mais bonitas para serem feitas.’

Mas para milhões, nada existe. A sociedade tirou todas as suas possibilidades de crescimento. Eles estão amarrados. As pessoas cometem suicídio porque elas estão se sentindo amarradas e não veem algum jeito de sair dessa situação. Elas chegaram a um beco sem saída. E quanto mais inteligente você for, mais cedo você chegará a esse beco sem saída, a esse impasse. Então, o que se espera que você faça? A sociedade não lhe dá alternativa alguma nem permite uma sociedade alternativa.
 
O sannyas é uma sociedade alternativa. Parece estranho que na Índia a taxa de suicídio seja a mais baixa do mundo. Logicamente deveria ser a mais alta, porque as pessoas estão sofrendo, são miseráveis, estão famintas. Mas este estranho fenômeno acontece em todo lugar: o povo pobre não comete suicídio. Eles não têm um motivo para viver, nem para morrer. Uma vez que eles estão famintos, a sua ocupação é com comida, abrigo, dinheiro, coisas assim. Eles não podem se dar o luxo de pensar em suicídio; eles não têm ainda essa abundância. Os Estados Unidos têm tudo enquanto a Índia nada tem.
 
Há poucos dias, eu estava lendo um texto que dizia, ‘Os americanos têm um risonho Jimmy Carter, Johnny Cash e o Bob Hope, enquanto os indianos têm um seco, insensível e morto Morarji Desai, nenhum dinheiro (cash) e muito pouca esperança (hope).’
 
Mas, ainda assim, as pessoas não cometem suicídio. Elas continuam vivendo e curtindo a vida. Mesmo os mendigos estão vibrantes e excitados. Não há motivo algum para excitação, mas eles têm esperança.
 
Por que o suicídio acontece tanto nos Estados Unidos? Os problemas comuns da vida desapareceram, a mente está livre para elevar-se além da consciência comum. A mente pode elevar-se além do corpo, além dela mesma. A consciência está pronta para abrir suas asas, mas a sociedade não o permite. Em cada dez suicídios, nove são de pessoas sensíveis. Vendo a falta de sentido na vida, a indignidade que a vida impõe, os compromissos que têm que assumir em troca de nada, vendo toda a melancolia, olhando ao redor e vendo essa ‘história contada por um idiota, sem qualquer significado’, eles decidem livrar-se do corpo. Se eles pudessem ter asas no corpo, eles não teriam tomado tal decisão.
 
O suicídio tem também um outro significado, e isto tem que ser entendido. Na vida tudo parece ser comum, simples imitação. Você não pode ter um carro que os outros não têm. Milhões de pessoas têm o mesmo carro que você tem. Milhões de pessoas estão vivendo a mesma vida que você, vendo o mesmo filme, o mesmo programa de TV, lendo o mesmo jornal. A vida é tão comum, nada de único é deixado para você fazer, para você ser. O suicídio parece ser um fenômeno único: somente você pode morrer por si mesmo; ninguém mais pode morrer por você. A sua morte será a sua morte, não será a morte de ninguém mais. A morte é única.
 
Veja este fenômeno: a morte é única. Ela o define como indivíduo, ela lhe dá individualidade. A sociedade tirou a sua individualidade; você é apenas um dente na engrenagem, substituível. Se você morrer, ninguém irá sentir sua falta, você será substituído. Se você é um professor universitário, um outro professor universitário irá substituí-lo. Mesmo se você for o Presidente da República, no momento em que não for mais, um outro se tornará Presidente, imediatamente. Você é substituível.

 
 
OSHO – The Heart Sutra
Tradução: Sw. Bodhi Champak
 
 
Fonte: http://oshobrasil.com.br 
 

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