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domingo, 18 de junho de 2017

OUÇA APENAS A VOZ SILENCIOSA



Todos os sons são criados. Todos os sons que conhecemos são, de um modo ou de outro, criados. O vento sopra, e um som é criado. Você bate palmas e um som é criado. Eu falo, e um som é criado. Mas todos estes sons são criados. Eles morrerão, porque aquilo que nasce está destinado a morrer, aquilo que é criado será destruído.

Há algum som que seja incriado? Se há algum som incriado, a verdade pode ser expressa somente através dele - porque aquilo que pode morrer não pode expressar a verdade. É por isso que se diz frequentemente que a verdade só pode ser expressa no silêncio; não pode ser dita através das palavras.

As palavras podem levá-lo ao silêncio, mas não podem exprimir a verdade. As palavras morrerão, e aquilo que é imortal não pode ser dito através de palavras mortais. Como poderão sê-lo? É impossível. Como aquilo que é eterno pode estar contigo no temporal? Como aquilo que é atemporal pode ser trazido para o tempo? Como aquilo que está além do espaço pode ser colocado em algum lugar num templo, num espaço? A verdade só pode ser revelada através de alguma coisa que seja eterna.

Por intermédio da meditação, muitos buscadores chegaram a conhecer, em seu interior, um som sem som, um som silencioso. As palavras são contraditórias: um som sem som. Ele é sem som porque você não pode ouvi-lo através de seus ouvidos. Ele é sem som porque o som é sempre criado através do conflito, e não há nenhum conflito. O som é sempre criado através da dualidade, duas coisas em conflito; mas não há duas coisas no coração. Ele é sem som porque não pode ser ouvido; só pode ser vivenciado.

Lembre-se: Ouça apenas a voz que é silenciosa. Como se pode ouvir uma voz que é silenciosa? Há, no Zen, um koan: ouvir o som de uma única mão batendo. Os monges zen chamam a isto de a mais profunda meditação: tentar ouvir um som incriado. Se você ficar meditando, meditando - apenas sentado e meditando, tentando ouvir - ouvirá muitas coisas. Esta é uma das técnicas mais belas. Feche os olhos, sente-se sob uma árvore e comece a ouvir. Você ouvirá muitos sons novos, dos quais nunca esteve consciente antes. Pássaros, insetos... Lentamente, muito lentamente, você se tornará consciente de muitos sons ao seu redor. Continue procurando qual som é incriado.

Todo som é criado. Um pássaro começa a cantar e então para. Aquilo que foi criado moveu-se agora para a não existência. Continue ouvindo, continue ouvindo. Continue tentando encontrar qual é o som incriado. Aos poucos, sons ainda mais sutis serão ouvidos. Você começará a ouvir as batidas do seu próprio coração, começará a ouvir sua própria respiração. Mas isso também é criado. Seu coração parará, sua respiração não pode continuar eternamente. Ela não esteve sempre aí. Quando uma criança nasce, não há nenhuma respiração. Então, de repente, a criança começa a chorar e a respiração se inicia.

Continue ouvindo profundamente. Estes não são sons sem som. Jogue-os fora, elimine-os. Você começará a ouvir o som de sua circulação sanguínea. Ainda mais sutil. Você não tem, habitualmente, consistência da circulação de seu sangue. Você o ouvirá circulando, ouvirá o som. Mas este também é um som criado, criado pela circulação, pelo conflito. Continue eliminando. Se você persistir o bastante, chegará finalmente um momento em que todos os sons terão desaparecido, você não pode ouvir nada. Uma brecha é criada; todos os sons desaparecem. E, com esses sons, todo o universo desaparece para você, como se você tivesse caído num vazio.

Agora, não tenha medo. Caso contrário, você recuará novamente para o mundo dos sons. Permaneça sem nenhum receio. Isto será semelhante à morte, e é uma morte porque quando todos os sons são perdidos, você também perdeu sua mente. Sua mente é apenas uma caixa barulhenta. Você não tem mais nenhuma mente. Com a ausência dos sons, o mundo não está mais presente. Você se sentirá como se tivesse morrido; você não existe mais. Você não era mais do que uma combinação, uma reunião de sons.

Persista. Esta morte é bela porque é a porta para o divino. Continue tentando ouvir o que está agora aí. Depois desse intervalo, se você passou por ele sem se tornar amedrontado e assustado...

Se você se amedrontar, recuará novamente; correrá de novo para o mundo dos sons. A mente começará a funcionar outra vez. Mas se você permanecer sem nenhum temor e conseguir persistir nesse intervalo, onde não há som algum, tornar-se-á consciente de um novo som, que é incriado. Este som é chamado pelos hindus de omkar: aum. Aum é apenas um símbolo para o som que está sempre presente no centro mais profundo. Aum, aum, aum - esse som está vindo de dentro, incriado. Ninguém o está emitindo. Ele apenas está ali.

Esse é o som sem som - incriado. E somente com esse som você pode penetrar no santuário.
 
 
Osho, em A Nova Alquimia
Fonte:http://www.centrometamorfose.com.br 
 
 
 

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