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segunda-feira, 19 de junho de 2017

OLHE SOMENTE PARA AQUILO QUE É IGUALMENTE INVISÍVEL


 AOS SENTIDOS 
INTERNOS E EXTERNOS


Olhamos para o mundo com os sentidos externos. A matéria é percebida. Mas a matéria não está realmente ali. Os físicos dizem, atualmente, que a matéria não existe. Ela é simplesmente energia, energia vibrando. A matéria é ilusória. Isso é muito estranho. No Oriente, os místicos sempre disseram que a matéria é ilusória, maya. Com isso, eles queriam dizer que tudo não é o que parece. Os físicos de hoje concordam com Shankara; Einstein concorda com o Vedanta. Os cientistas também afirmam, atualmente, que a matéria é ilusória. Jamais alguém pensou ou imaginou que algum dia também a ciência afirmaria que a matéria é ilusória.

A matéria parece ser, mas não é. Ela é energia. Mas energia movendo-se com tamanha velocidade, com uma velocidade tão incrível, que não pode vê-la se mover. É por isso que ela parece ser matéria imóvel. Os elétrons se movem com uma velocidade tão espantosa que você não pode vê-los em movimento. Eles dão a ilusão de imobilidade, de substância.

A matéria não existe realmente. Mas, através de seus sentidos externos, a matéria aparece. Trata-se de sua interpretação. A mente também não existe; mas através de seus sentidos internos ela parece existir. Então, o que é real? Se você olha através de seus sentidos externos, a matéria aparece, mas ela é irreal, não real; e se você olha com seus sentidos internos, a mente aparece, mas ela também é irreal, também é uma interpretação dos sentidos. O misticismo oriental diz que o real só pode ser encontrado quando você deixou de usar tanto os sentidos externos quanto os internos. Quando nenhum sentido é usado, não há possibilidade de se distorcer a realidade. Então, imediatamente, você está na realidade.

Os sentidos fazem distinções. Eu olho para você. Não sei o que você é, como você é, mas meus olhos olham para você e me fornecem uma determinada informação. Não posso chegar em você diretamente; os olhos são os mediadores. Seja o que for que eles disserem, tenho de acreditar.

Seja o que for que meus sentidos disserem, você tem de acreditar. Não pode saber se é uma realidade ou não. Seus sentidos podem ser deficientes, ou podem estar interpretando o mundo de uma maneira errônea. Não há nenhum modo de saber se os seus sentidos estão interpretando de forma errada ou correta. Não há como saber, pois, seja o que for que você souber, saberá através dos sentidos. Não há outro modo de saber, de julgar e de comparar.

Por esse motivo, Emmanuel Kant disse que nenhuma coisa pode ser conhecida em si mesma. Não há nenhuma maneira de se conhecer uma coisa em si mesma, pois, seja o que for que você conheça, você a conhece através dos sentidos. Você não pode conhecer nada diretamente, apenas indiretamente. Você tem de acreditar em seus sentidos. Quem sabe o que é que está realmente ali? Você nunca esteve ali. Seus sentidos vão até ali e o informam. Você está sempre à distância, interpretando.

A mesma coisa acontece quando você começa a usar seus sentidos internos. Eles o informam a respeito daquilo que se encontra do lado de dentro: o que é a alma, o que é o eu. Mas isso também é apenas uma interpretação dos sentidos.

Este sutra diz: Olhe somente para aquilo que é igualmente invisível aos sentidos externos e internos. - O real é invisível a ambos. Não pode ser conhecido através da mente; não pode ser conhecido através da meditação. Quando, tanto a mente como a meditação são lançadas fora, só então você pode penetrar na realidade. Quando não há meditação, quando você chega diretamente até ela, quando você penetra nela, quando não há mais distância, quando você tornou-se a realidade, só então você pode conhecê-la.

Isso pode ser dito de um modo diferente. Você não pode conhecer Deus, a menos que se torne o próprio Deus. Se você diz que pode conhecer Deus sem tornar-se Deus, está dizendo algo que é impossível. Por causa disso, uma coisa muito estranha tem acontecido. Tanto o cristianismo como o maometismo pensam que afirmar que você pode tornar-se Deus é sacrílego, profano, irreligioso; não demonstra respeito. A atitude maometana a esse respeito tem sido tão obstinada que os maometanos mataram Mansoor e outros místicos sufis por terem declarado que eram Deus.

Mansoor disse: “Analhaque. Eu sou o divino: Aham brahmasmi.” Ele foi morto, porque isso é demais! Um ser humano dizendo que é Deus? Mas o que Mansoor está dizendo é uma verdade muito simples, básica. Ele está dizendo que você ou pode dizer que Deus não pode ser conhecido ou pode admitir que o homem pode tornar-se Deus. Pois, como pode Deus ser conhecido, a menos que você esteja nele? A menos que você penetre nele e torne-se um com ele, como pode conhecê-lo? Você pode apenas ficar dando voltas e mais voltas ao redor dele. Mas, seja o que for que venha a conhecer, é apenas uma informação obtida do exterior; não é um conhecimento direto.

Mansoor diz que você pode conhecer Deus somente se se tornar o próprio Deus. Não há outro modo. Como você pode conhecer a partir do exterior? Como pode conhecer, a menos que se torne o próprio coração da divindade, a menos que você mesmo se torne divino?

Este sutra diz que a realidade não pode ser conhecida, quer pelos sentidos externos - os sentidos externos interpretam a realidade como matéria -, quer através dos sentidos internos - os sentidos internos interpretam a realidade como mente. A realidade só pode ser conhecida quando você dá um salto na própria realidade, sem quaisquer mediadores; quando você perde sua mente e também sua meditação.

A meditação está concluída quando você é capaz de largá-la. Então você entra em samadhi, entra na realidade, no supremo.



Que a paz esteja com você.


Só então a paz pode estar com você; nunca antes. Antes disso, você permanecerá, de um modo ou de outro, angustiado; permanecerá, de um modo ou de outro, tenso. Você é a tensão, é a angústia. O problema é o seu sentimento de que você é. Quando você não é, o problema não existe.

Como você pode estar num estado de não existência? Como pode cessar de existir? Esse é o caminho para a paz. Se você pode cessar de ser, você penetra na realidade; penetra na paz infinita, na paz absoluta.

Seu ser, enquanto separado do todo, é o problema. Você se sente como um intruso, um estranho, um alienado. Essa alienação cria a perturbação, essa alienação cria o medo, essa alienação cria a morte. Você não pode estar em paz. Quando você joga fora completamente sua alienação e se dissolve na realidade, funde-se nela, perde-se a si mesmo nela - você não é mais; só a realidade é -, então, apenas você pode encontrar aquela paz que é impossível de ser perturbada, que nada pode perturbar.

Lembre-se de que você é a doença. Você não pode ser curado porque você é a doença. Se a doença fosse outra coisa qualquer, poderia ser curada, mas você é a doença. Não pode ser curado; você é incurável. Jogue fora a doença. Jogue fora a si mesmo, sinta como se você não existisse. Crie, cada vez mais, o sentimento de ser ninguém, de ser o nada. Mova-se para o não-ser, porque o não-ser é a porta para o ser supremo. Quando você cessar completamente de ser, você será divino. Quando você não for, você será o próprio Deus.
 
 
Osho, em A Nova Alquimia 
Fonte: www.centrometamorfose.com.br

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