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terça-feira, 13 de junho de 2017

CAUSA E EFEITO ESPIRITUAIS


 
A vida é a constante acumulação de conhecimento — o armazenamento do resultado de experiências. A lei de causa e efeito está em constante operação, e colhemos o que semeamos, — não como um castigo, porém como um efeito, segundo a causa que produziu.
 
O pecado é, em grande parte, a questão de ignorância e de erro. Aqueles que alcançaram um plano elevado de conhecimento espiritual adquiriram um conhecimento tão convincente da loucura e imprudência de certos atos e pensamentos, que chegou a ser, para eles, quase impossível cometê-los.
 
Uma criança desejosa de tocar numa estufa, fá-lo-á tão rapidamente logo que ache oportunidade, apesar das ordens dos pais e da ameaça de um castigo. Porém, quando uma criança tenha experimentado uma vez a dor da queimadura, reconhecerá que há uma íntima relação entre uma estufa quente e um dedo queimado, e apartar-se-á da estufa.
 
Os pais gostariam de proteger o filho contra o resultado de suas próprias loucuras, mas a natureza infantil insiste em aprender certas coisas por experiência, e os pais não podem impedi-lo. Longe disso, a criança que é muito estritamente vigiada e restringida, geralmente quebra, mais tarde, todas as travas e aprende certas lições por si mesma. Tudo quanto o pai pode fazer é rodear a criança de precauções comuns e dar-lhe o benefício da sua experiência, uma porção da qual a criança aproveitará — e, depois, confiar à lei da vida a determinação do resultado.
 
Deste modo, a alma humana está constantemente aplicando a prova da experiência a todas as fases da vida — passando de uma encarnação à outra, aprendendo constantemente novas lições e adquirindo nova sabedoria. Mais cedo ou mais tarde ela nota quão prejudiciais são certos atos — descobre a loucura de certas ações e modos de vida, e, como a criança queimada, evita-as no futuro.
 
Todos nós conhecemos que certas coisas não nos causam tentação, porque aprendemos a lição — alguma vez — em alguma vida passada e não precisamos tornar a aprendê-la — enquanto que outras nos atraem fortemente e sofremos muita dor devido a elas.
 
De que utilidade seria toda essa pena e sofrimento, se a vida atual fosse tudo?... Mas levamos o benefício de nossa experiência a outra vida e evitamos a dor ali. Olhamos ao nosso redor e nos estranha observar que certos conhecidos nossos não podem ver a loucura de certas formas de ação, quando para nós está clara — mas esquecemo-nos de que já passamos pelo mesmo estado de experiência que eles passam agora e que deixamos atrás o desejo e a ignorância — não pensamos que em futuras existências esta gente estará livre deste engano e desta dor, porque terá aprendido a lição por experiência, o mesmo que fizemos nós.
 
Para nós, é difícil compreender completamente que somos o que somos, devido justamente ao resultado de nossas experiências. Tomemos como exemplo uma só existência. Pensais que vos seria agradável eliminar de vossa vida alguma dolorosa experiência, algum episódio desagradável, algumas circunstâncias mortificantes; mas — refletistes já que, se fosse possível apagar estas coisas, vos veríeis necessariamente obrigados a desprender-vos da experiência e do conhecimento que recebestes daqueles sucessos?... Ser-vos-ia agradável privar-vos do conhecimento da experiência que recebestes do modo mencionado? Gostaríeis de retroceder ao estado de inexperiência e ignorância em que estáveis antes do acontecimento? Porque, se tornásseis ao antigo estado, seria extremamente provável que cometêsseis os mesmos erros outra vez.
 
Quantos de nós desejaríamos apagar completamente as experiências que temos recebido? Em realidade, desejamos esquecer o fato, mas sabemos que temos a experiência dele resultante, formando parte do nosso caráter, e não nos agradaria desprender-nos dela, porque seria como se desprezásseis uma porção de nossa estrutura mental.
 
Se nos despojássemos das experiências adquiridas pela dor, seria como se nos separássemos primeiro de uma parte de nós mesmos, de outra, até que, por fim, não teríamos deixado nada, exceto a dura casca mental do nosso ser primitivo.
 
Mas, podeis dizer: — "De que utilidade são as experiências obtidas em vidas anteriores, se não as lembramos, se estão perdidas para nós?... " Mas não as perdestes; elas constituem a vossa estrutura mental e nada pode apartá-las de vós — são vossas para sempre. Vosso caráter está formado, não só pelas experiências desta vida particular, como também pelo resultado de muitas outras vidas e graus de existência.
 
Hoje sois o que sois, devido a essas experiências acumuladas — as experiências de vidas passadas e as da presente. Relembrareis algumas das coisas da vida presente que contribuíram para formar o vosso caráter, mas muitas outras igualmente importantes desta mesma existência as esquecestes. Entretanto, o resultado permanece em vós, por haver-se tecido no vosso ser mental.
 
E ainda que só possais recordar pouco ou mesmo nada de vossas vidas passadas, as experiências adquiridas continuam em vós agora e sempre. São essas experiências passadas as que vos dão predisposição em certas direções — o que faz com que vos seja muito difícil fazer certas coisas o que vos faz reconhecer, instintivamente, certas coisas como imprudentes e injustas, e vos faz voltar-lhes as costas, julgando-as loucuras. Elas vos dão vossos gostos e inclinações e fazem que alguns caminhos vos pareçam melhores que outros.
 
Nada se perde na vida e todas as experiências do passado contribuem para o vosso bem-estar no presente todos os vossos incômodos e penas do presente produzirão o seu fruto no futuro. Não é sempre que aprendemos uma lição na primeira tentativa, e temos que tornar uma e outra vez à nossa tarefa, até levá-la a termo. Porém, nem o mais leve esforço se perde; e, se fracassamos na tarefa do passado, é mais fácil para nós realizá-la hoje.
 
Um escritor americano, Sr. Berry Benson, no Century Magazine, de maio de 1894, nos dá uma formosa ilustração de um dos aspectos das operações da lei de evolução espiritual. Reproduzimo-la aqui: "Um menino pequeno foi à escola. Era muito pequeno; tudo quanto sabia  havia obtido com o leite que mamara de sua mãe. Seu mestre, que era Deus, colocou-o na classe mais elementar e lhe deu estas lições para aprender: "Tu não matarás. Tu não farás dano a nenhum ser vivente. Tu não roubarás."
 
O homem não matou, mas foi cruel e roubou. No fim do dia, quando sua barba estava grisalha — quando chegou a noite, seu mestre, que era Deus, lhe disse: "Tu aprendeste a não matar, mas as outras lições não as aprendeste. Volta amanhã."
 
No dia seguinte, voltou o menino pequeno. E seu mestre, que era Deus, colocou-o numa classe um pouco mais adiantada e lhe deu estas lições para aprender: "Tu não farás dano algum a nenhum ser vivente. Tu não roubarás. Tu não enganarás."
 
O homem não fez dano a nenhum ser vivente; mas roubou e mentiu. E, no fim do dia, quando sua barba estava grisalha — quando chegou a noite, seu mestre, que era Deus, lhe disse: "Tu aprendeste a ser clemente. Mas as outras lições não as aprendeste. Volta amanhã."
 
Outra vez, no dia seguinte, voltou o pequeno menino. E seu mestre, que era Deus, colocou-o em uma classe um pouco mais elevada ainda, dando-lhe estas lições para aprender: "Tu não roubarás. Tu não enganarás. Tu não invejarás." Assim, o homem não roubou; mas enganou e invejou.
 
E, no fim do dia, quando sua barba estava grisalha — quando chegou a noite, seu mestre, que era Deus, lhe disse: "Tu aprendeste a não roubar. Mas as outras lições não as aprendeste. Volta amanhã, meu filho. "
 
Foi isto que li nos rostos dos homens e das mulheres, no livro do mundo e no registro dos céus, que está escrito com estrelas."
 
Há maiores escolas, colégios e universidades de conhecimento espiritual além de nós, mas essas verdades – amar ao próximo e amar a Deus - são as lições ensinadas nos graus em que estamos presentemente. E toda essa dor, incômodo, pena e trabalho têm sido só para nos ensinar essas verdades - mas a verdade, uma vez adquirida, faz ver que é bem digna do elevado preço pago por ela.
 
Se podeis tornar essas verdades uma parte de vós mesmos, tereis feito grande progresso no caminho — tereis prestado com êxito o Grande Exame. A doutrina de Causa e Efeito Espirituais está baseada na grande verdade de que, sob a Lei, cada homem é, praticamente, o diretor de seu próprio destino — seu próprio juiz — seu próprio recompensador — seu próprio árbitro de castigos.
 
A incitação dos desejos, aspirações e hábitos da vida passada fazem uma forte pressão sobre a alma, levando-a a encarnar-se nas condições melhor adaptadas à experimentação da satisfação desses gostos, atrações e aversões — a alma quer seguir o curso da sua vida passada, e naturalmente procura as circunstâncias e meios melhor adaptados à mais livre expressão de sua personalidade.
 
Mas, ao mesmo tempo, o espírito, na alma, conhece que o desenvolvimento desta tem necessidade de certas outras condições para fazer surgir outros aspectos de sua natureza, que, tendo permanecido reprimidos ou sem desenvolvimento, exercem uma atração sobre a alma que se reencarna, desviando-a um pouco do seu curso escolhido e influenciando esta lição num certo grau.
 
Um homem pode ter um desejo predominante pelas riquezas materiais, e a força de seus desejos lhe fará escolher circunstâncias e condições para renascer numa família que tenha muita fortuna, ou num corpo muito bem adaptado para conseguir seus desejos; mas o espírito, conhecendo que a alma descuidou para um lado, a fará colocar-se numa corrente de circunstâncias que farão com que o homem sofra penas, desagrados e prejuízos, ainda quando obtenha grande fortuna em sua nova vida, a fim de que possa desenvolver essa parte da sua natureza.
 
Podemos ver ilustrações desses fatos acima mencionados em alguns dos homens muito ricos da América do Norte. Eles nasceram em circunstâncias nas quais tiveram a mais livre expressão do desejo de riquezas materiais — tiveram a posse de faculdades melhor adaptadas por esse fim único, e agiram de modo a rodear-se das circunstâncias melhor calculadas para dar a mais livre manifestação àquelas faculdades; obtiveram a realização de seus desejos íntimos e acumularam riquezas de um modo desconhecido em tempos anteriores. Mas, são muito infelizes e, geralmente, estão descontentes.
 
A sua riqueza é um peso ao redor de seu pescoço e estão atormentados pelo temor de perdê-la e a ansiedade de atendê-la. Sentem que não lhes proporcionou uma felicidade real, mas que, pelo contrário, os apartou de seus semelhantes e da felicidade conhecida por pessoas que dispõem de meios mais moderados. Estão febris e intranquilos, e procurando, constantemente, alguma nova excitação que aparte suas mentes da contemplação da sua condição real.
 
Sentem a sensação do dever para com a raça, e, ainda que não compreendam inteiramente o sentimento interno disso, esforçam-se por acalmar essa sensação, contribuindo para a construção de colégios, hospitais e outras instituições similares. Elas nasceram em resposta ao acordar consciente da raça à realidade de Fraternidade do Homem e da Unidade do Todo.
 
Antes de chegar ao fim, sentirão, no mais profundo de sua alma, que este êxito não lhes produziu a felicidade real e no período de descanso que segue à sua partida do corpo físico, darão "balanço" de si mesmos e reajustarão seus assuntos mentais e espirituais, de modo que, quando nascerem outra vez, não terão a ânsia de dedicar todas as suas energias em amparar riquezas que eles não podem usar, e sim, viverão uma vida mais equilibrada e acharão a felicidade em lugares inesperados, desenvolvendo-se mais espiritualmente.
 
O espírito conhece o que é realmente melhor para o homem, e quando o vê arrastado pela sua natureza inferior, procura tirá-lo de seu caminho ou detê-lo repentinamente, se for necessário. Não é um castigo, relembrai-o, e sim a maior bondade. O espírito é uma parte do homem, e não um poder externo — ainda que seja, naturalmente, a parte divina dele — essa parte dele, que está no mais próximo contato com a grande e onipotente Inteligência que chamamos Deus.
 
O sofrimento não é produzido devido a algum sentimento de justa indignação, vingança, impaciência ou sentimentos similares do espírito, mas devido a um sentimento igual ao do mais amoroso pai, que se vê obrigado a tirar das mãos de seu filhinho alguma coisa perigosa que possa fazer-lhe mal — é a mão que afasta a criança da beira do precipício, ainda que o pequeno grite, colérico e contrariado, por haver-lhe frustrado os desejos.
 
O homem ou a mulher que desenvolveu a mente espiritual, vê esta condição das coisas e, em vez de lutar contra o espírito, entrega-se a ele sem protestos e obedece à sua mão diretora, evitando, assim, muita dor. Mas aqueles que não sabem, enraivecem-se e rebelam-se contra a restrição e guia da mão; desprezam-na e tentam livrar-se dela, fazendo recair, em consequência, sobre si mesmos, amargas experiências, tornadas necessárias pela sua rebelião.
 
Somos tão propensos a nos ressentir das influências exteriores em nossos assuntos, que esta ideia da restrição não nos é agradável; mas, se nos lembrássemos somente que é uma parte de nós mesmos — a parte elevada de nós mesmos — a que exerce esta direção, então poderíamos ver a coisa com uma luz diferente.
 
E devemos relembrar isto: por adversas que nos pareçam as circunstâncias e condições, elas são, exatamente, aquelas de que temos necessidade, sob as circunstâncias exatas de nossas vidas, e que têm por único objetivo o nosso bem final. Podemos ter necessidade de nos fortalecer, seguindo certas linhas, com o fim de completar nosso progresso — e podemos adquirir as experiências adequadas para completar esta parte particular de nós mesmos.
 
Podemos ter demasiada tendência para uma direção e surgirem nela obstáculos e sermos incitados a seguir outra direção. Estas pequenas coisas — e outras maiores — todas têm a sua significação E então nossos interesses estão ligados, mais ou menos, com os de outros, devido às leis de atração; e os nossos atos podem estar destinados a refletir sobre eles e os deles sobre nós, para nosso mútuo desenvolvimento e bem final.
 
E qualquer que seja a pena, aflição ou o incômodo que nos possa sobrevir, se nos abrirmos à orientação do espírito, abrir-se-nos-á um caminho — passo a passo — e se o seguirmos, obteremos a paz e a força. A Lei não acumula sobre o indivíduo mais peso do que ele pode suportar, e "não só acalma o vento para o cordeiro tosquiado, como adapta o cordeiro tosquiado ao vento".
 
Falamos que os nossos interesses estão ligados com os de outros. Este é também um princípio da Lei Espiritual de Causa e Efeito. Em nossas vidas passados nos temos ligado a outros pelo amor ou pelo ódio — quer seja por uma boa ação ou pela crueldade. E essas pessoas, nesta vida, têm certas relações conosco, tendentes todas à mútua reparação e mútuo desenvolvimento e progresso.
 
Não é uma lei de vingança, mas simplesmente a Lei de Causa e Efeito que nos faz sofrer um dano (quando é necessário) das mãos de alguns daqueles aos quais temos feito mal em alguma existência passada. E não é simplesmente uma lei de recompensa pelo bem, porém, sim, esta mesma Lei de Causa e Efeito, que faz com que pense as nossas feridas e nos conforte aquele a quem confortamos na vida passada.
 
Abstenhamo-nos de pôr em operação esta Lei de Causa e Efeito pelos Ciúmes, Ódio, Malícia, Cólera e perversidade das nossas relações com os outros. Sejamos tão bons quanto possamos e justos para nós mesmos e para os outros, evitando os sentimentos de ódio e o desejo de vingança. Vivamos conduzindo a nossa carga com tanta alegria quanto possamos, e confiemos sempre na guia do espírito e na ajuda da Inteligência Superior.
 
Reconheçamos que tudo está agindo conjuntamente para o bem e que não podemos ser privados deste bem. Relembremos que esta vida é apenas um grão de areia no deserto do tempo e que temos longas idades em nossa frente, nas quais teremos a oportunidade de realizar todas as nossas aspirações e desejos elevados. Não vos desanimeis, porque Deus reina e tudo é como deve ser.
 
 
 

Ramacháraka 

Fonte:yogaensinamentos

 

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