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sábado, 17 de junho de 2017

A VOZ SILENCIOSA
 
 

Está escrito que, para aquele que está no limiar da divindade, nenhuma lei pode ser criada, nenhum guia pode existir. Contudo, a fim de instruir o discípulo, o esforço final pode ser expresso da seguinte maneira: 
 
Agarre-se firmemente àquilo que não tem nem substância nem existência.
 
Está escrito que, para aquele que está no limiar da divindade, nenhuma lei pode ser criada, nenhum guia pode existir. O supremo é desconhecido. Nada se pode dizer sobre ele porque nada que possa ser dito será verdadeiro. Ele permanece indefinível, desconhecido, inexplorado, por muitas razões. Não somente desconhecido, mas, em certo sentido, desconhecível.
 
A primeira razão é que aqueles que nele penetram nele se dissolve. Eles não podem permanecer eles mesmos. São totalmente destruídos por ele. Eles renascem, são totalmente novos. E somente o velho pode definir.
 
Tente compreender isto. Somente o velho pode definir. Se eu vejo você e já o vi antes, reconheço-o prontamente. Quem o reconhece? O passado. Porque o conheci antes, lembro-me do seu rosto, reconheço-o. O reconhecimento vem do passado. Mas se minha mente estiver totalmente limpa e eu tiver esquecido completamente o passado ou se minha memória for eliminada e não houver nenhuma conexão com o passado, não posso reconhecê-lo. Aquele que penetra no supremo perde completamente seu passado; assim, ele não pode reconhecer o que está acontecendo agora. Não há nenhuma referência.
 
Em segundo lugar, você pode reconhecer apenas aquilo que conheceu antes. E este fenômeno do divino é absolutamente desconhecido. Você nunca o conheceu antes. Em que termos interpretá-lo, defini-lo? Você não tem nenhuma referência, não possui nenhum termo, não tem nenhuma definição. A experiência é absolutamente nova - como traduzi-la numa linguagem?
 
Em terceiro lugar, quando você penetra no supremo, a linguagem torna-se impossível, pois toda a linguagem se baseia na dualidade. Você define a vida pela morte. Talvez não esteja consciente desse absurdo. Você define a matéria pela mente, define a mente pela matéria. Se alguém pergunta: “Que é matéria?” - você responde: “É aquilo que não é mente.” - Mas tem certeza? Que é mente? Então você define a mente como aquilo que não é matéria. Você se move em círculos.
 
Quando lhe é feita a pergunta a respeito da matéria, você fala a respeito da mente como se conhecesse a mente. Você diz: “Aquilo que não é mente.” Mas se alguém lhe pergunta: “Que é mente?” - você passa a defini-la em termos de matéria: “Aquilo que não é matéria.” Ambas são desconhecidas. Mas você está enganando a si mesmo. Quando lhe perguntam a respeito de uma, você a define pela outra. Quando lhe perguntam a respeito da outra, você a define pela primeira. Ambas são indefiníveis.
 
No que se refere às atividades terrenas, não há nada de mal em agir dessa maneira. É proveitoso, útil. Não verdadeiro, mas útil. Porém, quando você penetra no supremo, esse dualismo não será de nenhuma serventia. Você não pode definir o divino por alguma coisa que esteja em oposição a ele, porque não há nada que esteja em oposição a ele. Ele é o todo.
 
Você pode dizer que a matéria não é mente, ou pode dizer que a mente não é a matéria, porque a mente não é o todo; a matéria existe como seu oposto. Você pode definir cada um deles pelo seu oposto. Pode dizer que a vida não é morte; pode dizer que a morte não é vida. Pode dizer que a escuridão não é luz e que luz não é escuridão. Pode dizer que homem não é mulher e que mulher não é homem. Pode continuar definindo através do oposto.
 
Mas qual é o oposto do divino? Não há nada em oposição a ele. “Divino” significa o todo, a totalidade; portanto, como defini-lo? Ele é indefinível, porque todas as definições se baseiam nos opostos e nada está em oposição a ele. A linguagem mostra-se inútil. Ela diz: “Não posso penetrar nessa dimensão.” - A linguagem existe na dualidade e não pode penetrar no não-dual.
 
O divino é desconhecido porque é exatamente como o céu. Não é como a Terra. Se você caminha sobre a Terra, deixa pegadas atrás de você; outros podem segui-lo. Você passou por um certo lugar - outros podem segui-lo. Seguindo suas pegadas, eles podem chegar ao lugar onde você chegou. Mas a totalidade - o divino, ou Deus, ou como você preferir chamá-lo: X, Y, Z, o total - é exatamente com o céu. Pássaros voaram através dele mas nenhuma pegada foi deixada. Você não pode segui-los. Precisa começar do ABC.
 
Sempre que você penetra no divino... Buda penetrou antes de você, Jesus penetrou antes de você, Krishna penetrou antes de você, mas não há pegadas. Quando você penetra no divino, é como se o homem estivesse penetrando pela primeira vez. O céu permanece virgem, intacto, sem marcas. Mas isso é bom. Essa absoluta virgindade é boa porque então a experiência é unicamente sua.
 
De outro modo, se você encontrasse as pegadas de Buda, as pegadas de Krishna - mapas, definições, manuais - tudo seria de segunda mão. Muitos conheceram isso, muitos chegaram antes de você. Eles diriam tudo o que você poderia chegar a conhecer. Tudo seria de segunda mão.
 
Mas o divino não é de segunda mão; é sempre de primeira mão. Sempre que você penetra nele, é como se estivesse penetrando pela primeira vez. Ninguém penetrou antes de você e ninguém penetrará depois, porque nenhuma pegada pode ser deixada; cada um é único.
 
É por isso que todas as experiências terrenas tornam-se cansativas. Ficamos farto porque tudo se torna de segunda mão; tudo se torna emprestado. Algum outro já conhece; nada é virgem.
 
O divino é sempre virgem, absolutamente virgem. Você não pode estragá-lo, não pode torná-lo velho, não pode torná-lo repetitivo. É por isso que nada pode ser definido, nada pode ser mapeado, nenhum guia pode ser fornecido.
 
Contudo, a fim de instruir o discípulo, o esforço final pode ser expresso da seguinte maneira... Mas apenas para instruir o discípulo - aquele que ainda não penetrou mas que está a um passo, pronto para dar o salto - pode-se tentar dizer alguma coisa, podem ser dadas algumas indicações. Mas não se deve tomá-las em nenhum sentido absoluto. Trata-se apenas de uma ajuda, de última ajuda que pode ser dada.


Esta é a última instrução do Mestre: 
 
Agarre-se firmemente àquilo que não tem substância nem existência.
 
 
Osho, em A Nova Alquimia
Fonte:http://www.centrometamorfose.com.br 
 

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