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segunda-feira, 5 de junho de 2017

O PODER DA ATENÇÃO


O sábio dr. Abercombie escreveu que não conhecia outra regra mais importante para elevar-se a um alto grau em alguma profissão ou ocupação do que a habilidade de fazer uma só coisa a um tempo, evitando todas as outras que produzem distração ou desvio, e mantendo o objeto de que se trata sempre diante da mente.

O grau de atenção cultivada por um homem é o grau da sua capacidade para o trabalho intelectual. Como dissemos, os «grandes» homens de todos os ramos de vida desenvolveram esta faculdade num grau admirável e muitos deles parecem obter resultados «intuitivamente», quando realmente os obtêm através do seu concentrado poder de atenção, que os torna capazes de ver diretamente o centro de um objeto ou proposição, e tudo o que está em redor, detrás e diante, e todos os lados, no espaço tão pequeno de tempo que parece incrível ao homem que não cultivou esta poderosa faculdade.

Os homens que dedicaram especial atenção a um trabalho ou investigação são capazes de agir como se possuíssem a «segunda vista», prevendo o que está dentro do seu predileto campo de atividade. A atenção concentrada torna mais rápidas todas as faculdades: as de raciocínio, análise e decisão, como também os sentidos que, por ela, obtêm agudeza, finura e perspicácia.

O único modo de cultivar qualquer faculdade ou parte, tanto mental, como física, é exercitá-la. O exercício «gasta» um músculo ou uma faculdade mental, mas o organismo apressa-se em reparar o gasto por novo material: novas células, nova força nervosa, etc., e acumula sempre um pouco mais do que gastou.

E este «um pouco mais» que vai ser acrescentado aumenta e cresce, e com ele os músculos e os centros cerebrais. E os centros cerebrais, aperfeiçoados e reforçados, dão à mente melhores instrumentos para o seu trabalho.

Uma das primeiras tarefas que exige o cultivo da atenção é aprender a pensar numa só coisa e fazer uma só coisa a um tempo. O costume ou hábito de prestar atenção exclusivamente à coisa de que nos ocupamos e, depois, passar à mais próxima, para a tratar do mesmo modo, e assim por diante, é um caminho certo para o êxito, devendo ser adquirido em primeiro lugar por todos os que querem desenvolver a faculdade da atenção. E, pelo contrário, nada forma um obstáculo maior para alcançar êxito e nada destrói mais o poder de prestar atenção do que o hábito de querer fazer uma coisa, enquanto se pensa noutra. A parte mental que pensa e a parte que age devem trabalhar unidas, e não em oposição.

O Dr. Beatti, falando deste assunto, diz-nos: «É coisa muito importante adquirirmos o hábito de fazer uma só coisa a um tempo; com o que quero dizer que os nossos pensamentos não devem passar a um objeto, enquanto estamos prestando atenção a um outro».

E Granville acrescenta: «Uma frequente causa de falta de atenção é o esforço de pensar em mais de uma coisa de cada vez». Kay cita, aprovando, um escritor que diz: «Ela fazia tudo com facilidade, porque prestava atenção ao que fazia. Quando fazia pão, pensava no pão e não na moda do seu novíssimo vestido, ou no homem com quem tinha dançado no último baile». Lorde Chesterfield disse: «Tereis tempo suficiente para tudo no decurso do dia, se fizerdes uma só coisa a um tempo; mas não achareis tempo suficiente em um ano, se quiserdes fazer duas coisas ao mesmo tempo».

Para obtermos os melhores resultados, devemos fazer o nosso trabalho, concentrando-nos nele e excluindo, tanto quanto possível, qualquer outra ideia ou pensamento. Em tais casos deveríamos até esquecer a nós mesmos — a personalidade — porque nada é tão nocivo e destrutivo à boa marcha do pensamento, como a intrusão da mórbida consciência pessoal.

Faz melhor obra quem «se esquece a si mesmo», quando se trabalha, mergulhando sua personalidade no trabalho criativo. O homem ou a mulher «mais sérios» são aqueles que mergulham a personalidade no resultado desejado ou no cumprimento de uma tarefa empreendida. O ator, o pregador, o orador, o escritor deve perder de vista seu «eu» pessoal, para alcançar os melhores resultados. Conservai a atenção fixa naquilo que tendes diante de vós e deixai o «eu» cuidar de si mesmo.

Em conexão com o que acima dissemos, relatar-vos-emos uma história de Whaterley, que é um interessante exemplo de como é possível «perder-se a si mesmo». Pediram-lhe uma receita para combater o «acanhamento» e ele respondeu que a pessoa era acanhada, porque pensava em si mesma e na impressão que fazia.

Sua receita foi que a jovem devia pensar em outros - no prazer que lhes podia dar — e que, deste modo, devia esquecer tudo a respeito de si mesma. E a receita efetuou a cura. A mesma autoridade escreveu: «O orador de improviso, ou quem faz uma preleção das suas próprias composições, deve evitar o mais possível todo o pensamento em si mesmo, fixando as ideias na matéria de que está ocupado e sentir-se-á menos embaraçado pelo pensamento sobre a opinião que dele formam os ouvintes».
 
 

Ramacháraka 
 
Fonte: yoga-ensinamentos
 
 

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