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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O VAZIO E A TOTALIDADE

 "Gautama Buda disse: " Não existe um eu. 
És um vazio, completo silencio, um não-ser"

Sua mensagem encontrou uma forte oposição em todas as tradições porque todas dependiam de uma ou de outra forma da ideia de um "eu". Podem ter diferenças a respeito de um ou de outro ponto, mas havia um ponto em que todas estavam de acordo; e esse ponto era a existência de um "eu".

Buda não faz nenhuma diferença entre o eu e o ego; e não tem mesmo. Fazer alguma distinção só é sofisticação, ginástica linguística; mas o eu é simplesmente outro nome para o ego. Só está mudando de nome, não está acontecendo nenhuma transformação no ser.

A mensagem de Buda é tremendamente significativa: és um vazio; não há nenhum ponto nele em que possas dizer: "eu".

Se olha desta visão, quando digo: " Dissolvam-se na existência", simplesmente estou dizendo o mesmo com termos mais positivos. Buda dizia de tal forma que muita gente parava, porque naturalmente surgia a seguinte pergunte: " Se não há um eu, porque preocupar-se? O que é necessário alcançar? Se  trata-se somente de saber que não se é.

Toda uma vida de disciplina, um grande esforço de meditação, e o resultado é que não se é? Esse resultado não vale a pena! Ao menos sem meditação, sem disciplina temos a sensação de ser. Pode se estar equivocado, mas ao menos não se sente oco, vazio. Como vai se viver sabendo que não é ?.

Do nada não pode vir o amor, a compaixão, não há possibilidade de nenhuma coisa. Do nada só provém o nada. Por isso, os oponentes de Buda, descrevem seu método como um tipo de suicídio espiritual; muito mais perigoso que o suicídio comum, porque no suicídio comum você sobreviverá, tomará uma nova forma, um novo nascimento. Mas com Buda, cometerás o suicídio total, a aniquilação. Já não sobrará nada de si, e nunca mais voltará a se ouvir falar de você, nunca mais voltará a encontrá-lo.

Em primeiro lugar, você nunca foi.

O budismo morreu na Índia e uma das principais razões foi a formulação que Buda fez da sua filosofia. Posso entender porque insistia tanto nas negações, porque todas as demais filosofias eram positivas e seu positivo fortalecia os egos cada vez mais. Vendo que o positivismo vai dando ideias egoístas e que são um obstáculo entre você e a existência; Buda então, para impedir isso, foi ao outro extremo. Para impedir esta possibilidade se fez completamente negativo.

Não podemos nos queixar dele, porque as ideologias positivistas nos colocam em uma situação estranha: temos que deixar o ego para encontrar a Deus, temos que deixar o ego para converter-nos em Deus, temos que deixar o ego para a libertação última; Libertação de quem? A libertação de nós mesmos.

Portanto, se tratava de alcançar algo e as realizações sempre são do ego. Existe um objetivo e o objetivo sempre é do ego. Vendo isto, Buda disse: "Não existe o eu. Não existe nada para alcançar e não há objetivo a se conseguir. Nunca existiu, não existe e não existirá; só podemos imaginar, só podemos sonhar que somos".

Muitos vieram até Buda e foram embora, porque não podiam fazer do nada o objetivo da sua vida, para que? Tanta disciplina e tantos problemas para entrar em meditação só para descobrir que não é ...um tipo estranho este Gautama Buda. Somos bons tal como somos, para que cavar tão fundo para descobrir que não há nada? Mesmo que estejamos sonhando, pelo menos existe algo.

Minha aproximação é a mesma, mas por um ângulo diferente. Eu lhes digo que não tem um eu, porque são parte do Universo. Não são nada. Só o Universo pode ter um eu, só o Universo pode ter um centro, só o Universo pode ter uma alma. Minha mão não pode ter uma alma, meus dedos não podem ter uma alma; só a unidade orgânica pode ter uma alma. E nós só somos partes. Somos, mas só somos partes. por isso não podemos pretender ter um eu.


Por isso Buda tinha razão - não existe um eu - mas assim não ajudava as pessoas, porque não podiam decifrar as implicações desta afirmação.

Eu lhes digo: Não existe um eu, porque todos são parte de um grande eu, e da totalidade; Não podem ter um eu próprio e separado. Isto afasta a negatividade e não te dá o desejo de ser cada vez mais egoísta. Assim, se evita ambos extremos e se encontra uma nova aproximação: O Universo é, e eu não sou. Qualquer coisa que se passe e se pareça estar em mim, ser eu, no fundo é universal.


Chamá-la de eu, é fazê-la demasiado pequena. Isto é o que a torna falsa; não corresponde à realidade. Chamar-se de "eu" a torna irreal, porque o eu só é possível se cada um  for totalmente independente; e não somos. Não somos independente nem durante uma só respiração. Não somos independente nem por um momento do sol, da lua, das estrelas. A totalidade está contribuindo a todo momento. Por isso cada um de nós existe!

Reconhecer isto não é uma perda, é um ganho; e sem dúvida não é uma ganancia egoísta. Se pode ver o sutil que você é... é uma tremenda realização entender que é parte da totalidade, que a totalidade pertence a você  e você a ela. E sem dúvida, apesar de tudo, não há nenhum rastro de um "eu"!

Esta é uma das compreensões mais belas de que não estamos separados; não estamos separados das montanhas, nem das árvores, nem do oceano, nem de nada. Todos estamos conectados, entrelaçados em uma unidade. Em relação a estes aspectos, há um completo silencio e vacuidade. Mas esta vacuidade não está vazia. Podemos esvaziar esta casa, podemos tirar todos os móveis, tudo que há na casa, e qualquer um que entre dirá: A casa está vazia. Isto é uma forma de ver, mas não é a forma correta.

A forma correta é ver que agora a casa está plena de vacuidade. Antes existiam impedimentos à vacuidade, estava cortada em pedaços porque havia tantos móveis e tantas coisas que não permitiam ser una; agora é una. A vacuidade também é. É existencial; isto não significa que não seja.

Alguém vazio de ciúmes, está pleno de amor; alguém vazio de estupidez está pleno de inteligência; Cada vacuidade tem sua própria plenitude; e se você não consegue
  ver a plenitude que vem com a vacuidade da maneira certa e absoluta, então está cego.

Não existe um eu.
E isto é um grande alívio.
Você não tem que amá-lo, não tem que detestá-lo, não tem que aceitá-lo, nem rechaçá-lo; não tem que fazer nada, simplesmente não está ali. Pode relaxar e nesse relaxamento reside o fundir-se no Universo.

Então o nada se converte na Totalidade.


Osho




Há o tempo do plantio e Buda plantou a semente do 'vazio',  poucos compreenderam, não possuíam solo adequado para o florescimento, preferiram semear suas antigas sementes. Agora o homem está preparado para cultivá-la. Finalmente compreendeu a finalidade do vazio. Resta apenas colher os frutos dessa grande sabedoria, se esta for a sua escolha. KyraKally

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