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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

COMO TIRAR PROVEITOS 
DOS INIMIGOS II
 
Castaneda aprendeu a técnica do pequeno tirano com seu mestre Don Juan.  O método  funciona melhor quando há alguém que não só está  situado em uma posição de poder ou de superioridade  em relação a nós, mas tem, também, a séria intenção de causar-nos profundo mal-estar.
 
É claro que nenhum tirano externo tem importância real em si mesmo. O único verdadeiro inimigo é nossa própria ignorância diante da vida. Os adversários mais desagradáveis do mundo exterior são principalmente projeções e materializações daquelas lições que ainda não aprendemos e, por isso, os inimigos são sempre pouco importantes em si mesmos. No sistema de ensino de Castaneda, há três tipos básicos de tiranos:
 
1) Tirano Insignificante.
 
Tem o poder de matar suas vítimas quando quiser.  Hoje é difícil de encontrar. Era relativamente frequente durante a época colonial, quando os sábios nativos da América Central criaram essa técnica.
 
2) Pequeno Tirano Insignificante.
 
Persegue e inflige danos sem chegar a causar a morte das suas vítimas.
 
3) Pequeno Tirano Muito Insignificante. 
 
Ocasiona incômodos e uma exasperação sem fim.

A função do pequeno tirano é testar a força e a coerência do aprendiz. A vida é como uma grande respiração, e a cada expansão corresponde uma retração igual e contrária. Na mesma medida em que o guerreiro expande no plano subjetivo a sua visão de mundo e se une ao infinito, ele tem de fazer com que, no plano objetivo, as suas ações práticas sejam cada vez mais compactas, mais controladas e mais intensas, guiadas pela prática da renúncia pessoal.  Esse paradoxo é inevitável. Sem abrir mão do mundo pessoal, o guerreiro não pode nascer para o mundo do espírito imortal.  
 
Alguns tiranos insignificantes e muito insignificantes usam de brutalidade e violência. Outros atormentam com insistência, criando preocupação, tristeza ou fúria. Em todos os casos, eles são usados pelo guerreiro da sabedoria para identificar e eliminar sua própria vaidade, seu orgulho e  sua preocupação consigo mesmo. O aprendiz deve adquirir um controle estratégico da sua própria conduta com o objetivo de eliminar o desperdício de energia vital e de obter um acesso cada vez maior à energia do universo infinito. Os jogos manipuladores do pequeno tirano insignificante só causam sofrimento enquanto há ignorância, medo e falta de atenção no guerreiro.
 
A estratégia do aprendizado pode ser resumida em seis pontos:
 
1. Controle.
 
Enquanto o pequeno tirano atormenta o guerreiro, esse aprende a desmontar os seus esquemas de justificação da preguiça, vê destruída a sua ingenuidade infantil, e desperta para níveis superiores de alerta e atenção. Ele aprende a controlar os impulsos inferiores. Se não fizer isso, será derrotado. 
 
2. Disciplina.
 
Como qualquer ser humano, o guerreiro sofre. Mas ele sofre sem sentimento de autopiedade. Ele levanta informações objetivas sobre a situação em que está, identifica os perigos reais e define possíveis alternativas, sem perder tempo ou energia com emoções desnecessárias. 
 
3. Paciência.
 
O guerreiro não combate prematuramente. Ele aguarda com serenidade e antecipa com prazer a sua futura libertação. “O guerreiro sabe que espera, e sabe o que espera”, explica Victor Sánchez.
 
4. Sentido de Oportunidade.
 
No momento certo, o guerreiro aplica toda a energia acumulada em relação aos três pontos anteriores. Sánchez afirma: “É como abrir as comportas de uma represa.”
 
5. Vontade.
 
Não é a vontade comum, mas um elemento imponderável, reservado para uma situação extrema. Esse é o único ponto da estratégia que pertence ao desconhecido. Não é apenas um resultado da acumulação dos itens anteriores.
 
6. O Tirano Insignificante.
 
É o elemento externo que, ameaçando o guerreiro, dinamiza e acelera o seu processo de crescimento interior. 
 
O pequeno tirano na obra de Castaneda corresponde ao Guardião do Umbral da literatura teosófica moderna. Ele personifica o carma negativo ou ignorância acumulada do discípulo, ou guerreiro.
 
É provável que não haja ninguém situado em uma posição de poder que esteja pensando em atormentar ou em destruir o bem-estar do estudante médio de filosofia esotérica. Raramente algum aspirante à sabedoria tem o privilégio espiritual de viver esse desafio.
 
Mesmo assim, podemos usar em nossas vidas a técnica de Castaneda. Basta adaptar a estratégia acima substituindo o pequeno tirano pelo conjunto de obstáculos que nos rodeiam e dificultam a obtenção da nossa meta, a sabedoria divina.  Se não há um tirano, existe uma situação limitadora, uma pequena tirania exercida pela nossa própria ignorância e que limita nosso processo de aprendizagem.
 
A estratégia permanece válida. Os três primeiros pontos - controle, disciplina e paciência - são estimulados pelo sexto elemento, o tirano, ou a “situação limitadora”. O quarto ponto - a escolha do momento de ação - serve para preparar o salto transformador e o instante criativo que fará toda a diferença. O quinto ponto, a vontade, significa que, tendo aumentado sua eficiência e sendo impecável nessa situação concreta, o guerreiro reúne uma energia ilimitada, a ser usada no momento certo. 
 
Por isso, cada pessoa de má vontade ou que boicota nossos esforços tem algo precioso a nos ensinar. Se formos aprendizes conscientes da arte de viver, seremos beneficiados pelas suas ações agressivas. O pequeno tirano é quase sempre um pobre desorientado. Ele não só ignora que sua má vontade contra nós na verdade nos beneficia, mas sequer  suspeita o quanto é gravemente prejudicial, para ele próprio, querer prejudicar alguém.
 
Há três recomendações de suprema importância para o aprendiz da sabedoria. A primeira é não aceitar o papel de pequeno tirano nem perder tempo ou energia com pensamentos e ações destrutivos em relação a outrem. A segunda é não cair na posição de vítima paralisada ou inconsciente, e jamais alimentar autopiedade. A terceira é saber atuar em todas as situações da vida como um colaborador da sabedoria universal.
 
 
Carlos Cardoso Aveline
Fonte: www.FilosofiaEsoterica.com 
 
 
 
 
 
Buda nos advertiu: "Nem teus piores inimigos podem fazer tanto dano como teus próprios pensamentos". Por que não refletimos sobre isso? KyraKally
 

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