A VIDA TODA É BELA - I
Não Há Coisa Alguma Sem Vida no Universo,
e a Lei do Equilíbrio Une Tudo o que Existe
“Devemos viver com felicidade, pois,
nós que nada possuímos. Vivamos como os Seres
Iluminados, alimentados pelo contentamento.”
(O Dhammapada)
Nenhum obstáculo resiste ao
poder universal da fraternidade. A simples capacidade de manter-nos
leais à ideia de sinceridade em nosso coração contém em si uma
quantidade ilimitada de energia e pode mudar o mundo inteiro a seu
devido tempo.
O poder da amizade e da confiança mútua no trabalho por uma causa nobre não pode ser facilmente calculado.
É
quando deixa de viver para o mundo do egoísmo que um ser humano começa a
viver de fato. A verdade do altruísmo leva à ajuda mútua, e a ajuda
mútua produz níveis superiores de felicidade. Assim passamos a
compreender que nenhum mal existe realmente, seja em nós mesmos ou nos
outros, ou ainda no universo.
A vida e a natureza se desdobram em ciclos, e nenhuma parte do círculo pode ser vista como “má” do ponto de vista da teosofia.
Cada
uma das partes de uma linha do tempo traz lições de coragem e desapego.
Observando as várias fases da roda da vida, obtemos uma sabedoria que
se refere a começos e finalizações. Não basta aprender a começar novas
atividades. Devemos saber consolidá-las, preservá-las - enquanto elas
forem corretas e úteis -; administrar a fase final das suas operações;
e finalmente a abrir mão por completo delas quando chega o momento de
concluir o ciclo todo.
A
vida nos dá o que necessitamos aprender, e não necessariamente o que
desejamos. Podemos obter e preservar o que merecemos. Sempre que obtemos
algo do qual não estamos à altura, ou que merecemos apenas em parte,
são inevitáveis as compensações cármicas. A lei do carma não abre
exceções. Em diferentes circunstâncias, podemos crescer em sabedoria, e
também podemos não crescer. É perfeitamente possível avançar ou falhar.
Cada fracasso é parte de um processo mais amplo de aprendizagem que não é
sempre fácil de compreender a curto prazo. No entanto, a vida em si
mesma jamais falha. Ela nos ensina sabedoria em todos os aspectos e em
cada fase da nossa existência. A aprendizagem não fica limitada a um
indivíduo ou uma comunidade. Ao contrário. Nossos ciclos pessoais são
instantes passageiros da verdadeira Realidade.
A
vida de longo prazo inclui diferentes tipos de humanidade em vários
globos, e se desdobra ao longo de eras imensuráveis, passadas e futuras.
Ao examinar alguns dos ciclos maiores do universo, H. P. Blavatsky
escreveu:
“Ao
inaugurar um período de atividade, diz a Doutrina Secreta, ocorre uma
expansão desta essência Divina desde fora para dentro e desde dentro
para fora, de acordo com a lei eterna e imutável; e o universo visível,
ou fenomênico, é o resultado último da longa cadeia de forças cósmicas
assim colocadas progressivamente em movimento. De modo semelhante,
quando é retomada a condição passiva, ocorre uma contração da essência
Divina e o trabalho anterior de criação é gradual e progressivamente
desfeito. O universo visível fica desintegrado, e o seu material,
disperso; e só a ‘escuridão’, solitária, domina uma vez mais a face do
‘profundo’. Para usar uma metáfora dos Livros Secretos, que transmite a
ideia ainda mais claramente, uma exalação da ‘essência desconhecida’
produz o universo; e uma inalação faz com que ele desapareça. Este
processo vem ocorrendo desde toda a eternidade, e o nosso universo atual
é apenas um, de uma série infinita que não teve início e não terá fim.”
Portanto,
não pode haver verdadeira maldade no universo nem em seus ciclos. A
Noite de Brahma, por exemplo, não é “má”. Não existe necessidade de os
teosofistas alimentarem algum medo supersticioso. A Noite de Brahma é
uma boa noite de sono, um período de descanso merecido.
O
Kali Yuga, igualmente, só pode ser descrito como “mau” desde um ponto
de vista superficial. Sendo um período longo de tempo, o Kali Yuga
existe para que a humanidade possa aprender as lições necessárias na sua
etapa atual. O Kali Yuga é nosso bom professor. Ele nos salva da nossa
ignorância, e devemos ser gratos a ele.
Enquanto
o medo resulta da ignorância, a confiança na vida surge do verdadeiro
Conhecimento. Os ciclos grandes e pequenos estão unidos por correlações,
e todos sabemos como é necessário ter um período de descanso após um
longo dia de trabalho. Assim como no ciclo de 24 horas, a Boa Lei guia
os sucessivos universos ao longo de Manvântaras e Pralayas, Dias e
Noites, sem fim.
As
perdas e desintegrações ocorrem dentro de ciclos de 360 graus de
aprendizagem e auto-renovação. O Universo é uma escola de almas. Dentro
dele nada é inútil, exceto aquilo que nega a unidade da vida ou a sua
auto-renovação cíclica. Tudo o que promove a sabedoria e evita estimular
as causas do sofrimento é bom.
Examinando o mistério da bondade, o pensador clássico Musônio Rufo afirmou:
“…
Aqueles entre nós que participam de discussões filosóficas naturalmente
ouviram falar na ideia de que a dor, a morte, a pobreza e outras coisas
que estão livres de maldade não são, de modo algum, más; e convivem com
a ideia de que, em compensação, a riqueza, a vida, o prazer e outras
coisas que não participam da virtude não são boas. No entanto, embora
tenhamos escutado estas ideias, devido à corrupção que foi transmitida a
nós o tempo todo desde a infância, e por causa do comportamento
deturpado que esta corrupção causa, pensamos que é mau que a dor venha
até nós; e pensamos que é bom que ocorra o prazer.”
A dor traz lições; o prazer pode escravizar.
Carlos Cardoso Aveline
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