A DOR DÓI DUAS VEZES
Como Se Eliminam as Causas do Sofrimento
A felicidade durável é uma função do eu superior,
e deve ser obtida através da sabedoria imortal.
A dor
dói duas vezes. Na primeira vez, ela dói para instalar-se na vida da
pessoa. Na segunda vez ela dói para ser retirada. Em outras palavras,
toda cura tem os seus próprios modos de sofrimento. Por isso alguns se
apegam ao processo da dor e fogem da Cura. Preferem o sofrimento velho,
que conhecem, ao sofrimento novo desconhecido, e mesmo à felicidade
desconhecida, porque nem mesmo ela é totalmente isenta de dor.
Vejamos um exemplo prático de sofrimento que envolve skandhas,
ou registros cármicos, de vidas passadas. Examinemos um skandha sagrado
e positivo, relativo à alma imortal e à sabedoria divina, para então
verificar se até ele causa sofrimento no caminho da Cura.
Pensemos em algo ótimo, que
ocorre com alguma frequência entre teosofistas. Uma pessoa entra em
contato com o movimento esotérico autêntico, com a filosofia esotérica, e
percebe, conscientemente, e até comenta com outras pessoas, que este é
um Re-Encontro. Cada pessoa que passa por esta experiência coloca isso com suas próprias palavras. Alguns dizem:
“Encontrei o que estava procurando”.
Outros declaram:
“Nunca ouvi falar disso, mas este ensinamento me é familiar, como se eu trouxesse esta visão das coisas dentro de mim”.
Nestes casos, há “skandhas
teosóficos” de vidas anteriores. Porque, como se sabe, a teosofia é algo
de muitos milhares de anos - e já existia mesmo entre os habitantes de
continentes hoje submersos. E o que vai ocorrer, então, a partir do
re-despertar destes skandhas positivos de vidas anteriores?
A pessoa vai revisar aspectos
da sua vida. Coisas acomodadas vão se des-acomodar. Coisas antes
cômodas vão in-comodar. Aspectos da sua vida vão ruir. Outras coisas
terão que ser construídas com muito esforço. Surgirá todo um processo
probatório. O crescimento pessoal se dará através de testes e
contrastes. Será um sofrimento que cura gradualmente a doença da alma
chamada Ignorância.
Ou seja, o Caminho é estreito
e íngreme, e cheio de espinhos. No Caminho, sofre o eu inferior,
enquanto o eu superior vive no plano da bênção.
O Caminho consiste em levar
por mérito próprio o foco da consciência desde o nível externo do
sofrimento até o nível superior da bênção. Por isso Francisco de Assis,
H. P. Blavatsky, Alessandro Cagliostro e João da Cruz, entre tantos
outros, eram felizes (internamente) enquanto seus eus externos e
inferiores sofriam grandemente.
Quando se fala de sofrimento
como a primeira das Quatro Nobres Verdades do budismo, fala-se de
sofrimento do eu inferior. O eu superior, imortal, não sofre; apenas
inspira o processo pelo qual o foco de consciência se eleva, desde o
mundo da dor, até o mundo da bem-aventurança. A felicidade durável é uma
função do eu superior, e deve ser obtida através da sabedoria imortal.
Mas a dor da ignorância deve doer duas vezes.
“O que arde cura, o que
aperta segura”, diz um velho ditado popular. Os remédios são
frequentemente amargos, e mesmo os skandhas sagrados que eliminam as
Causas do sofrimento, mesmo eles provocam desconforto, no curto prazo,
enquanto preparam as bases duráveis da felicidade incondicional.
Carlos Cardoso Aveline
Quando se brinca com a dor supõe-se que ela já foi compreendida. Creio que Mario Quintana a entendeu perfeitamente: "Se eu pudesse, pegava a dor; colocava a dor dentro de um envelope e devolvia ao remetente". Porém ele empregou "se", então não podemos remeter a dor, tampouco cultivá-la. Shakespeare disse que lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente. De uma coisa tenho certeza: nada dura para sempre e, quando ela passa sorrimos por não tê-la compreendido antes. KyraKally
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