DIFERENTES LINHAS DE VIDA
A Energia da Alma Imortal Nem Sempre Gera
Consequências Imediatas Nos Planos Inferiores
Os ciclos cósmicos estão de algum modo presentes na vida diária. O sono é equivalente a um breve pralaya, uma pausa no universo individual de alguém.
A
cada noite, quando passamos pelo sono profundo e experimentamos talvez
algum outro aspecto daquela experiência mais elevada, que ocorre além do
reino do nosso eu inferior, somos capazes de transcender (em parte, e
por um momento) o círculo de Maya ou Ilusão.
No entanto, nem sempre trazemos muita coisa daquela vida para a nossa consciência diária em estado de “vigília”.
Tanto o filósofo francês Maine de Biran
como Helena P. Blavatsky mostraram que o Carma, ou Ação, se desenvolve
em linhas inter-relacionadas, mas relativamente independentes uma da
outra, em níveis diferentes de realidade, e com variados graus de
intensidade.
H.
P. Blavatsky citou as seguintes palavras de Félix Ravaisson, um dos
filósofos franceses que foram influenciados por Maine de Biran:
“A real existência, a vida da qual toda outra vida é apenas um reflexo imperfeito, uma pálida representação, é a vida da Alma.”
De fato, a vida da nossa Alma espiritual nem sempre gera consequências imediatas nos planos inferiores e mais densos.
É
necessário tempo para que o aprendiz compreenda o mistério centenário de
estar realmente acordado. O progresso é gradual, e mais de uma
encarnação é, certamente, necessária para que a vida possa tornar-se diretamente centenária nas múltiplas camadas da sua consciência.
Isto
deve ser levado em conta quando vemos limitações e defeitos em outros
estudantes de filosofia, ou em nós mesmos. Uma vez que as pessoas sejam
sinceras e estejam fazendo um esforço, e enquanto nós mesmos estivermos
tentando o melhor, será sábio lembrar que, embora haja uma relação ativa
entre as linhas cármicas dos diversos níveis de vida, esta relação é
sutil e não imediata. A energia do céu pode exigir um tempo antes de
manifestar-se na terra.
Robert Crosbie escreveu:
“Quando
consideramos - como é necessário fazer - que as nossas vidas
individuais vêm desde longas eras anteriores e de um passado muito
longínquo; e que há um futuro ilimitado pela frente, e que a nossa
existência corporal de hoje é apenas um pequeno aspecto de um grande Ser
contínuo -, nós nos erguemos então acima do que é temporário, enquanto
agimos no temporário; e, vendo melhor as proporções e relatividades
corretas, ficamos menos envolvidos ou perturbados com ‘o que pode
acontecer’. Isso tem grande valor em si mesmo, porque nos dá a firmeza
de um guerreiro na luta. ‘Não esqueça esta lição, o homem espiritual
está no mundo para libertar-se de defeitos. Sua vida externa é só para
isso, por isso todos parecemos estar em desvantagem’. Olhando para a
vida deste ponto de vista, vemos que tudo o que vem até nós constitui
uma oportunidade para ‘o
ser humano espiritual’ aproveitar; e encontramos em cada acontecimento
‘aquela luta gloriosa, pela qual não buscamos, mas que só os soldados
favorecidos pela sorte são capazes de vencer’.”
Podem
ocorrer - em planos mais elevados de consciência - acontecimentos que
não são lembrados em nosso estado de vigília. Mesmo algum iniciado pode
não ter consciência cerebral de tais eventos, segundo Crosbie afirma,
citando outro autor teosófico:
“Vocês lembrarão que William Q. Judge escreveu:
‘Nenhum de nós, e especialmente aqueles que ouviram falar do Caminho,
ou do Ocultismo, ou dos Mestres, pode dizer com certeza que não passou
ainda por alguma iniciação, com conhecimento disso. Podemos já ter sido
iniciados em algum grau mais elevado que o sugerido pelo nosso
estágio atual, e talvez estejamos passando por alguma nova provação
desconhecida por nós. É melhor considerar que isso ocorreu, garantindo,
porém, que eliminamos todo e qualquer orgulho por aquele progresso
desconhecido que podemos ter feito.’ Todos podemos sentir-nos
reconfortados e encorajados por estas palavras, e talvez elas sejam
especialmente verdadeiras no caso daqueles que estão tomados por um
entusiasmo em relação ao trabalho do Mestre”.
Embora
a ideia de ser algum tipo de ‘iniciado’ seja potencialmente nociva para
a maior parte dos estudantes de teosofia, é um fato que há
relativamente pouco tempo atrás todos nós tivemos experiências diretas
em níveis mais elevados de consciência. O Devachan - a longa e abençoada
experiência que ocorre entre duas vidas físicas - é provavelmente o
melhor exemplo disso. A sua proximidade cronológica com a nossa atual
vida em estado de “vigília” - menos de um século - torna possível
compreender a própria substância da vida mais elevada. Além disso,
todos experimentamos estados equivalentes ao Devachan durante cada boa
noite de sono, e William Q. Judge escreveu:
“Em
sonhos nós vemos a verdade e experimentamos as alegrias celestiais. Na
vida física podemos destilar gradualmente aquele orvalho, e trazê-lo
para nossa consciência normal.”
Será
mais fácil compreender os aspectos profundos da vida se adotarmos o
ponto de vista correto diante de um permanente mistério: o que é estar realmente acordado?
Alguns
indivíduos estão mais despertos para as realidades espirituais
enquanto seus corpos físicos dormem. A recíproca é verdadeira: no
estágio atual da evolução, para muitos o ato de estar fisicamente
acordados significa necessariamente estar espiritualmente adormecidos.
Quando
não prestamos a devida atenção à vida dentro e fora de nós, a nossa
consciência em estado de vigília se torna apenas um sonho ilusório e
desorientador. A chamada “vida física” pode ser vivida como uma forma de
sonambulismo. Não são poucos os cidadãos que sonham acordados, e que,
quando acordam, recuperando finalmente o bom senso, ficam chocados pelo
que veem.
Cabe
perguntar, portanto, até que ponto estamos de fato acordados. Segundo a
filosofia esotérica, a verdadeira realidade é mais sutil e muito mais
estável que as condições sempre mutáveis, feitas de sonhos, que reinam
na vida física. Acordar é uma função da sabedoria.
Ao
observar continuamente a nossa relação com o sono, com os sonhos, e com
a vida em estado de vigília, consolidamos o nosso progresso na arte de
estar Atentos ao longo dos diversos estados de consciência que se
sucedem, uma e outra vez, a cada dia de 24 horas.
Carlos Cardoso Aveline
"Minha vida foi singularmente pobre em acontecimentos exteriores, sobre estes não posso dizer muito, pois se me afiguram ocos e desprovidos de consistência. Eu só me posso compreender à luz dos acontecimentos interiores. São estes que constituem a peculiaridade da minha vida. Sua visão se tornará clara somente quando puder olhar para o seu próprio coração. Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta". Carl G. Jung
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