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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A VIDA TODA É BELA - II


Todas as Fases da Lua são Boas
 
Quando se trata de saber o que é realmente bom, pode haver várias formas de ilusão. Um exemplo disso é o hábito - frequente em meios esotéricos - de considerar “boa” a quinzena anterior ao momento da Lua Cheia, que começa com a Lua Nova. O motivo para a crença está no fato de que durante este período a luz física da Lua aumenta a cada noite. O mesmo ponto de vista considera “má” aquela parte do ciclo da Lua que vai desde a Lua Cheia até o final da Lua Minguante, porque nesta época a luz da Lua é decrescente.
 
Não há dúvida de que no mundo externo a energia vital se expande durante a quinzena “luminosa”, e perde intensidade na outra metade do ciclo. Este é um reflexo, em pequena escala, do ciclo dos períodos de manifestação e repouso do universo, o manvântara e o pralaya. Por outro lado, o ciclo lunar é uma versão maior das fases alternadas de luz e escuridão que fazem o dia e a noite, a cada período de 24 horas.
 
Não há coisas “ruins”, nem qualquer “maldade”, neste processo natural. As duas semanas do ciclo lunar em que a luz é decrescente são boas para conseguir o término de assuntos pendentes. É o tempo mais indicado para renunciar, para abrir mão, e para desapegar-se daquilo que é inútil ou prejudicial. Também é uma boa época para perseverar naquilo que é fundamental, essencial, invisível, duradouro, e incondicionalmente bom. A Lua Minguante tem relação com Nivritti Marga, o caminho místico “de volta para casa”. Ela nos convida para valorizar o mundo espiritual, enquanto que as duas semanas “luminosas” expandem os assuntos materiais e astrais, aumentando a importância de ações físicas e voltadas para o eu inferior.  
 
Na tradição budista e teosófica, a Lua Cheia está associada à Iluminação. Isso não significa que todo o ciclo preparatório da Lua Cheia é necessariamente bom para o Espírito, o Eu Superior. O crescimento físico da Lua expande também o apego ao mundo, enquanto que a Lua Minguante ensina modéstia, humildade, ação silenciosa, transcendência - e o plantio de bom carma.
 
O ciclo de 24 horas inspira o mesmo respeito inclusivo pela vida em seu conjunto. A noite constitui um período necessário de descanso. Ela é o Pralaya que prepara um novo Manvântara, na manhã seguinte, assim como o período maior da Lua Minguante prepara uma outra expansão a partir do  momento da Lua Nova.
 
É impossível, e indesejável, remover os fatores divisivos da vida.  Assim como a unidade, a separação é parte da existência. Devemos evitar a criação de desarmonia desnecessária, mas a perda e a desarmonia são fatores naturais do aprendizado. O conflito é frequentemente a manifestação de uma forma particular de ignorância, que deve ser removida pela compreensão, e pela ação correta.  Ele não é mau em si mesmo, portanto, e o poeta inglês Alexander Pope escreveu:
 
“Toda a natureza é apenas arte, desconhecida por ti;
Todo acaso, apenas direção, que tu não podes ver;
Cada discórdia, uma harmonia não compreendida;
Todo mal parcial, bem universal:
E apesar do orgulho, e da razão que falha,
Uma verdade é clara: tudo o que é, é correto.”
 
A concepção teosófica de fraternidade universal transcende, e não elimina, os fatores divisivos e separativos da vida. Tanto a separação como a união podem criar sofrimento: tudo depende do carma. A aflição ou Dukkha é parte da existência, segundo explica a primeira nobre verdade do budismo. A filosofia torna possível eliminar as causas do sofrimento desnecessário. Ela nos ensina a ser maiores do que a dor, mas não estimula a pretensão de removê-la artificialmente.
 
O carma futuro depende sobretudo da motivação, ou intenção, interna. Enquanto alguém estiver buscando a iluminação pessoal, o prestígio, o conhecimento para si mesmo, a eficácia política e outras superficialidades, é a personalidade que estará definindo o nível em que o carma é acumulado e o mundo em que a pessoa vive. Esse nível de realidade ocorre independentemente das palavras ditas e das intenções proclamadas, que podem ser extremamente nobres.
 
Quando alguém começa a viver para a humanidade e coloca todo o resto em um segundo plano, a personalidade passa a ser reconhecida como mero instrumento.  É o principal objetivo em nossa vida - mais do que a boa intenção ao fazer esta ou aquela tarefa isolada - que cria bom carma no conjunto da vida e define as situações decisivas de nossa trajetória no Caminho. Este é o fator central. Os esforços menores se adaptam a ele assim como as abóboras se acomodam entre si em uma carreta que avança por uma estrada de barro.
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
  

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