A VIDA TODA É BELA - III
A Vida é Infinita, e é Inseparável
O
universo está vivo e é um só. Ele não está dividido entre “bem” e
“mal”. A ignorância existe, sem dúvida; mas ela é apenas a semente de um
nível de sabedoria que ainda deve nascer para a vida ativa.
Tudo
em nosso planeta e em nosso sistema solar obedece à Boa Lei. Cada
aspecto da vida é essencialmente bom no sentido de que está conectado a
todos os outros aspectos através da Lei da Justiça e do Equilíbrio, que
é Lei da Unidade, a Lei da Afinidade, e a Lei do Carma. Portanto,
apesar da dor humana, a vida toda é bela. Patañjali afirma que o
universo objetivo existe para o correto desenvolvimento da alma. O
sofrimento traz lições que são transmitidas pela Natureza de acordo com a
Lei da Compaixão Universal, para que possamos avançar sem perda de
tempo pelo caminho da sabedoria. Tanto o prazer como a dor são
maiávicos, ou ilusórios, exceto pela aprendizagem que nos permitem. Sob a
superfície dos desafios cotidianos, a vida se desenvolve em paz e
obedece fielmente à lei eterna. Um Mestre de Sabedoria explica o
paradoxo:
“O mal não tem existência per se e
é apenas a ausência do bem; e existe apenas para aquele que é
transformado em vítima sua. Ele surge de duas causas, e, tanto quanto o
bem, não é uma causa independente na natureza. A natureza é destituída
de bondade ou maldade; ela segue apenas leis imutáveis quando dá vida e
alegria ou manda sofrimento e morte, destruindo o que havia criado. A
natureza tem um antídoto para cada veneno, e suas leis possuem uma
recompensa para cada sofrimento. A borboleta devorada pelo pássaro se
torna aquele pássaro, e o pequeno pássaro morto por um animal alcança
uma forma mais elevada. Essa é a lei cega da necessidade e da eterna
adequação das coisas, e portanto não pode ser considerada um Mal na
Natureza.
O verdadeiro mal surge da inteligência humana e sua origem
está inteiramente no homem que raciocina e que se dissocia da Natureza.
Só a humanidade, portanto, é a verdadeira fonte do mal. O mal é o
exagero do bem, produto do egoísmo e da ganância humanos. Pense
profundamente e descobrirá que com a exceção da morte - que não é um
mal mas uma lei necessária - e de acidentes, que sempre terão suas
recompensas em uma vida futura, a origem de cada mal, seja pequeno ou
grande, está na ação humana, no homem, cuja inteligência faz dele o
único agente livre da natureza. Não é a natureza que cria doenças, mas o
homem. A missão e o destino dele na economia da natureza é ter uma
morte natural provocada pela velhice; salvo acidentes, nem um homem
selvagem nem um animal selvagem (livre) morrem devido a doenças. Comida,
relações sexuais, bebida, são todas necessidades naturais da vida; no
entanto, o excesso delas traz doenças, miséria, sofrimento mental e
físico; e estes últimos são transmitidos como os maiores males para as
gerações futuras, os descendentes dos culpados.”
Se isso é verdade, por que deveria ser tão difícil para alguns de nós compreender que toda a vida é essencialmente boa e bela?
É possível listar pelo menos três fatores:
1)
Tanto no Oriente como no Ocidente, as igrejas e seitas dependem da
crença humana na existência do “mal” para poderem ameaçar os seus
seguidores com o Inferno ou os seus equivalentes. A ameaça é usada para
convencer os inocentes de que a obediência cega é a melhor alternativa
para evitar inúmeros horrores imaginários.
2)
Os indivíduos narcisistas caem frequentemente na tentação de acreditar
que “o mundo é mau”, e assim enganam a si mesmos pensando que são muito
melhores que o mundo. Eles tentam convencer a si mesmos de que eles
próprios são excelentes pessoas, sábias e purificadas, e vivem em
suposto contraste com um mundo tremendamente egoísta, fabricado pela sua
própria imaginação.
3)
Os cidadãos desinformados podem enganar a si mesmos pensando que “o
mundo é mau”, e assim justificar os seus próprios atos de egoísmo e sua
pretensão de serem espertalhões.
As
pessoas mais sábias, no entanto, são humildes. Os teosofistas sabem que
o mundo é tão bom quanto os seres humanos merecem. O Universo inteiro
está aprendendo e evoluindo o tempo todo, e nenhum cidadão é uma exceção
à regra. A Vida é um processo infinito de ensino e aprendizagem.
Estando livres de igrejas e seitas, e abstendo-se de adotar o Dinheiro
como seu Deus, o teosofista vê que a vida inteira é feita de bênção e
paz internas, ao lado de sofrimento externo.
O Dhammapada explica:
“Devemos
viver, pois, livres do ódio e felizes entre os que odeiam. Entre os
homens que odeiam, que nós vivamos livres do ódio. Devemos viver,
pois, livres da doença da cobiça e felizes entre os que sofrem desta
doença. Entre os homens que têm a doença da cobiça, que vivamos livres
desta doença. Devemos viver, pois, livres da ansiedade e felizes entre
os que estão consumidos pela preocupação. Entre os ansiosos, que nós
vivamos livres da ansiedade.”
O
erro provoca sofrimento. A dor serve para evitar que fiquemos
adormecidos no processo. A ausência de condições confortáveis torna
impossível que os aprendizes da Vida permaneçam indefinidamente dormindo
e roncando na sala de aula oculta que lhes é oferecida pelo seu Carma
individual. Em algum momento eles compreenderão este ensinamento, também
encontrado no Dhammapada:
“Devemos
viver com felicidade, pois, nós que nada possuímos. Vivamos como os
Seres Iluminados, alimentados pelo contentamento. A vitória cria o ódio;
os derrotados permanecem no sofrimento; mas o homem tranquilo vive com
felicidade, sem dar atenção a vitória ou derrota.”
Carlos Cardoso Aveline
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