VIVER CONSCIENTE
Todos os dias estamos participando de um milagre que não temos capacidade de reconhecer.
Nossos sentimentos desempenham um papel muito importante por
dirigirem todos os nossos pensamentos e ações. Existe em nós um rio de
sentimentos, no qual cada gota d’água é um sentimento diferente e cada
um depende de todos os outros para sua existência. Para observar esse
rio, sentamo-nos à sua margem e identificamos cada sentimento à medida
que ele vem à tona, passa por nós e desaparece.
Há três tipos de sentimentos: agradáveis, desagradáveis e
neutros. Quando temos um sentimento desagradável, podemos querer
afastá-lo. O mais eficaz é voltar à nossa respiração consciente e apenas
observá-lo, identificando-o em silêncio para nós mesmos. “Inspirando,
sei que há um sentimento desagradável em mim. Expirando, sei que há um
sentimento desagradável em mim.” Chamar o sentimento pelo seu nome,
“raiva”, “tristeza”, “alegria” ou “felicidade”, ajuda a identificá-lo e
reconhecê-lo.
Podemos usar a respiração para entrar em contato com nossos
sentimentos e aceitá-los. Se nossa respiração for leve e tranqüila,
resultado natural da respiração consciente, nossa mente e nosso corpo
irão lentamente se tornando leves, tranqüilos e claros. E da mesma forma
nossos sentimentos. A observação plenamente consciente se baseia no
princípio da “não-dualidade”: nosso sentimento não está separado de nós
nem foi causado apenas por algo externo a nós. Nosso sentimento é nosso
eu, e temporariamente nós somos esse sentimento. Não submergimos nesse
sentimento, nem nos aterrorizamos com ele, tampouco o rejeitamos. Nossa
atitude de não nos agarrarmos aos sentimentos e de tampouco rejeitá-los é
a atitude de desapego, uma parte vital da prática da meditação.
Se encararmos nossos sentimentos desagradáveis com cuidado,
afeição e não-violência, podemos transformá-los naquele tipo de energia
que é saudável e que tem a capacidade de nos nutrir. Através da
observação consciente, nossos sentimentos desagradáveis podem ser muito
esclarecedores para nós, proporcionando-nos revelações e compreensão a
respeito de nós mesmos e da nossa sociedade.
Vencidos o medo e a aversão, a vida será vista como infinitamente
preciosa e, cada minuto dela, digno de ser vivido. E não apenas a nossa
vida é reconhecida como preciosa, mas também a vida de todas as outras
pessoas e outros seres. Não podemos mais ser iludidos pela noção de que a
destruição dos outros seres é necessária para a nossa sobrevivência.
Veremos que a vida e a morte são duas faces da Vida e que sem ambas a
vida não seria possível, exatamente como as faces da moeda são
necessárias para que a moeda exista.
Thich Nhat Hanh
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