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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

SILÊNCIO E PLENITUDE - Parte I

Para criar uma condição mental que lhe permita ver a Verdade sobre você mesmo é necessário que remova todas as suas noções falsas. Com amor, você deve criticar várias opiniões e preconceitos. Não há outra maneira de se obter clareza que é a melhor coisa que existe. 

Tudo o que nega a visão clara da Verdade precisa ser eliminado juntamente com as noções limitantes e preconceituosas sobre você mesmo. Você se condena, “eu sou inútil, eu sou sem valor”, é esta auto condenação que se torna um obstáculo para conhecer o que você é.

Quando um guru diz que você é Sat e Cit e Ananda, que você é pleno e o centro da criação, que não há qualquer coisa além de você, isto é uma coisa linda que você vê. Não apenas linda, mais do que isto. “Esta Verdade profunda sou eu, não me falta qualquer coisa. Sou tudo o que procuro”. Isto é uma descoberta atordoante. Quem pensaria que poderia ser tudo aquilo? “Como poderia eu, algum dia, imaginar que o que estou procurando na vida é eu mesmo? Pelo mesmo fato de que eu o estou procurando, eu não posso imaginar ser eu mesmo.”



A Verdade é escutada mas não é assimilada. 

 
Para aqueles que parecem seguir o que o guru diz enquanto  ele está falando, tudo parece claro. Ele pensa: “Isto é verdade. Isto é verdade.” Então o mestre se vai e tudo que ele sentiu e tudo o que o mestre disse, também se vai. É por isso que o guru é chamado “ananda”. Quando ele vem, ananda vem, quando ele se vai, ananda se vai.

 

Portanto, você começa a duvidar do que você entendeu. “Será que fui hipnotizado? Acho que ele me fez acreditar que sou maravilhoso. Se eu vi que sou maravilhoso, por que não sinto agora que sou maravilhoso?    
      
Esta é a velha confusão entre conhecimento e experiência.


Todo o ensinamento é um desdobrar. Do mesmo modo que o artista lhe faz ver beleza em algo que você geralmente considera um lugar comum, da mesma forma o mestre lhe faz descobrir você mesmo. Ele não lhe narra a sua própria experiência. Ele usa a sua experiência como a base para o ensinamento e o faz ver a verdade daquela experiência. Isto traz assimilação em termos de conhecer a experiência de você mesmo.
 


Então, se é conhecimento, por que ele parece não permanecer sendo-me útil? Porque a mente é ainda a velha mente com todos os seus gostos e aversões que juntou ao longo de muitos anos e que não vão embora de um momento para o outro.
 


Após escutar o ensinamento ainda sofremos com momentos de tristeza, de frustração, de sofrimento, de raiva - o que não queremos que aconteça prossegue ocorrendo. Assim, a mente estende o seu domínio dizendo: “Eu desejo me ver como um ser pleno todo o tempo!”  Naturalmente eu sou sempre um ser pleno, mas me esqueço disso. No cotidiano este conhecimento não parece ser-me útil e, por isso, parece separado da minha vida. O que posso fazer sobre isto?


Preciso saber que sou a Verdade de cada pensamento. 


Mesmo que se trate de um pensamento agitado ou um pensamento prazeroso  eu sou a Verdade do pensamento. Um pensamento não tem existência sem mim. Ele existe apenas como uma reflexão do meu próprio ser auto fulgente. Ele é algo que brilha depois de mim, como a lua brilha depois do sol e, portanto, um pensamento não pode me perturbar. Ele depende de mim. Se, por outro lado, eu sou o pensamento, então, seja qual for a condição da mente, ela será a minha própria condição. Se a mente é inquieta, eu sou inquieto.


A mente passa por modificações. É esperado que a mente passe por modificações. Eu deveria ver a mim mesmo, apesar dos pensamentos oscilantes, como uma pessoa que é um total silêncio. Assim como o ouro, apesar de ser uma corrente, é todo ouro. Ele não precisa se tornar um anel para ser  considerado ouro. Seja ele uma corrente, um anel ou uma pulseira, ele é ouro puro todo o tempo. Uma vez tendo visto que o pensamento (ou a corrente) é algo aparente, o aparente não poderá causar um problema. Portanto, eu posso e devo ver a mim mesmo não na ausência de pensamentos, mas apesar deles. Isto se chama meditação.


O que é aquele eu imutável que é para ser visto e sentido apesar dos pensamentos? Aquele eu é silêncio. Aquele eu é felicidade. Aquele eu é plenitude. Aquele eu é liberdade. Não lhe falta algo. Ele é sempre livre, o livre, o Ser silencioso.


Agora, o silêncio que é o Ser não é algo diferente de eu mesmo. Poderia eu, em algum momento, ganhar silêncio? Não. Poderia eu, em algum momento, recuperar silêncio? Não, porque eu sou silêncio, eu não preciso fazer qualquer coisa para obter silêncio. Nem eu posso recuperar silêncio porque ele não é uma coisa que vem e vai.


Agitação vem e vai. Todos aqueles pensamentos que parecem destruir o silêncio - vêm e vão. Mas silêncio é algo que permanece sempre, antes da agitação, durante a agitação e após a agitação. Quando a agitação se vai, eu sou silêncio. Mesmo estando quase sempre agitado, parece que o silêncio vem e vai. Na Inglaterra, onde o céu é muito encoberto, parece que o sol vem e vai. Na verdade, o sol não vem e vai. São as nuvens que vêm e vão. O sol sempre permanece.
 

Do mesmo modo, aqui as nuvens em minha mente se retiram e eu vejo a mim mesmo como silêncio. Elas vêm de novo e parece que eu me perco. Isto é tudo o que acontece. Silêncio nunca está longe de mim.
 


Para aprender qualquer coisa, eu preciso ficar em silêncio, de outra maneira o aprendizado não ocorre. Eu obtive algum conhecimento porque fiquei em silêncio algumas vezes. Mas se eu tentar aprender alguma coisa quando existem muitos pensamentos em minha mente, nada acontecerá. Mesmo que seja uma coluna de jornal não fará sentido para mim porque a minha mente está ocupada. Enquanto a mente estiver preocupada é impossível aprender algo novo.




Swami Dayananda

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