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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O ETERNO COMPANHEIRO II

Durante os meses passados busquei a Ele em todas as coisas e sempre desejei ver as coisas através d’Ele. Meus olhos devem ser Seus olhos e eu devo ver através d’Ele todas as coisas, pequenas ou grandes, vivas ou mortas. Este desejo tem crescido em intensidade, este desejo tem sido meu alento; e como tantos antigos índios, como tantos místicos do mundo inteiro que realmente ansiavam pela Verdade, que realmente indagaram e sofreram por Ele, como eles, eu encontrei a Ele.  

E desde então, tenho vivido neste jardim de variadas rosas e diversos aromas; e em êxtase respiro o perfumado ar, o único ar que me faz prosperar, que me infunde poder, fortaleza e vitalidade para a minha mente, para meu coração, para meu verdadeiro ser. E como tal fortaleza, somente posso dar e não reter.

Poucos dias faz, sai a dar um passeio, e enquanto caminhava, ia com Ele, com meu Eterno Companheiro. Andei um tempo e me sentei sobre uma árvore, sem pensar em nada mais que nesta cosia; e olhei. E Ele estava sentado frente a mim, e então vi como a natureza lhe adorava. As árvores e as fibras das ervas e o vento que soprava, todos Lhe adoravam.

E enquanto olhava, minha alma reunia força no êxtase e meu corpo se estremecia, compreendi que por sempre era eu semelhante a Ele; que não havia diferença; que eu era parte d’Ele; não podia eu distinguir uma diferente entidade; não podia eu dissociar-me do Eterno. E ao respirar o mesmo ar que Ele, compreendi e soube o que significava viver o Reino da felicidade, viver e refrescar-se debaixo da sombra do jardim; soube o que significava olhar as flores e aos demais pássaros pelo caminho. 

Tudo era parte d’Ele porque quantos busquem, quantos sofram, quantos são bem-aventurados são eternamente seus; e estando n’Ele, eu compreendi. E por isto, todos os que tem o intenso sentimento de desejar a Verdade, devem entender que sem Ele, sem a personificação da Verdade, nada compreenderemos, que sem Ele não venceremos o eu inferior; e assim devemos colocá-Lo no centro de nosso Ser, porque então poderemos irradiar do centro como chispas que brotam da fogueira.

Enquanto estava eu naquele estado (nada extraordinário, nada anormal nem sobrenatural), enquanto estava naquele supremo êxtase notei que não havia barreiras entre o reino da Felicidade e eu; havia descoberto todos os véus que ocultam o Santo dos Santos; havia entrado eu no jardim e levantado os véus que ocultam, desfiguram e cobrem aquela imagem, aquela perfeição. E se quereis seguir, compreendendo que o seguimento não significa cegueira, caminhemos todos juntos e sejamos todos companheiros. Eu os mostrarei aquela formosa Visão daquele encantado jardim, aquele Reino da felicidade, aquela morada do Eterno, aquele templo donde está o Santo dos Santos. 

Porém, deveis ter olhos para ver, deveis ter a mente bem cultivada, refinada e capaz de muito juízo; o coração há de estar cheio daquele vasto amor, daquele impessoal amor que não conhece barreiras nem distinções nem prejuízos; e deveis ter forças para trabalhar, para subir ou baixar; para escalar as tremendas alturas ou caminhar pelos dolorosos vales; e deveis ter a alma preparada para a tentação, deveis ter muitos medos; não haveis de ter satisfação; e, sobretudo deveis ter aquela grandeza resultante de dilatada experiência para apreciar a beleza da vida naquele jardim. E se me seguis a este jardim, se neste jardim buscais a Verdade, encontrareis o dulcíssimo, puríssimo e nobilíssimo néctar dos Deuses. Esta é a única Verdade, o único altar em que deveis adorar; e nisto se resume toda a questão.

A simplíssima Verdade somente pode alcançar-se depois do êxtase de amor, por imensa devoção, e encontrareis nela o único refúgio onde abrigar-se dos dias chuvosos e ardentes, de todas as lutas, aflições e dores. E, uma vez que  a haveis encontrado, já não será questão de duvidar nem vacilar, porque então sereis o Mestre, sereis então o ideal de milhares de pessoas, o auxiliador de um grande número, o indicador dos que andam as tontas, dos que não veem ou estão todavia lutando nas trevas.

E quando pudermos caminhar juntos pelo caminho de eterna paz que conduz ao Reino da Felicidade, já não será possível a separação, nem o isolamento, nem dúvidas sobre o ganho da perfeição, da iluminação, porque então sereis a encarnação de todas as coisas que busca cada um de vós. E quando caminheis por aquele caminho e descansar naquele eterno jardim, quando puderdes refugiar-vos do sol debaixo da sombra, então seremos todos amigos, então seremos todos eternos companheiros, então todos criaremos a imagem de Quem é o Santo dos Santos. E uma vez  bebido deste néctar, este elixir da vida, os manterá eternamente jovens; e ainda que podeis haver tido dilatadas experiências e derramado abundantes lágrimas e sofrido intensamente, está em vosso interior o manancial que os mantém em eterna plenitude, para sempre jovens e jubilosos como estrela reluzente em tenebrosa noite; porque o haveis conhecido em  totalidade e, então, está aniquilado o eu, o destruidor e pervertor da Verdade.

E assim, todos que se sentem fracos, se quereis seguir-me, caminhar até aquela porta que os separa do eterno jardim, e ali encontrareis muitas chaves, e cada um de vós poderá tomar uma chave e entrar. Porém, antes de entrar neste Reino da Felicidade, deveis sentir imenso deleite, imenso prazer; e depois compreendereis que sois o Mestre e que há cessado de girar a roda do nascimento e morte.

Encontrareis ali o Eterno Refúgio, a Eterna Verdade; e ali perdereis a identidade de vosso isolado eu; criareis novos mundos, novos reinos, novas moradas para outros..

         



   Krishnamurti

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