O ETERNO COMPANHEIRO II
Durante os meses passados busquei a Ele em todas as coisas e sempre desejei ver as coisas através d’Ele. Meus
olhos devem ser Seus olhos e eu devo ver através d’Ele todas as coisas,
pequenas ou grandes, vivas ou mortas. Este desejo tem crescido em
intensidade, este desejo tem sido meu alento; e como tantos antigos
índios, como tantos místicos do mundo inteiro que realmente ansiavam
pela Verdade, que realmente indagaram e sofreram por Ele, como eles, eu
encontrei a Ele.
E
desde então, tenho vivido neste jardim de variadas rosas e diversos
aromas; e em êxtase respiro o perfumado ar, o único ar que me faz
prosperar, que me infunde poder, fortaleza e vitalidade para a minha
mente, para meu coração, para meu verdadeiro ser. E como tal fortaleza, somente posso dar e não reter.
Poucos dias faz, sai a dar um passeio, e enquanto caminhava, ia com Ele, com meu Eterno Companheiro. Andei
um tempo e me sentei sobre uma árvore, sem pensar em nada mais que
nesta cosia; e olhei. E Ele estava sentado frente a mim, e então vi como
a natureza lhe adorava. As árvores e as fibras das ervas e o vento que
soprava, todos Lhe adoravam.
E
enquanto olhava, minha alma reunia força no êxtase e meu corpo se
estremecia, compreendi que por sempre era eu semelhante a Ele; que não
havia diferença; que eu era parte d’Ele; não podia eu distinguir uma
diferente entidade; não podia eu dissociar-me do Eterno. E ao respirar o
mesmo ar que Ele, compreendi e soube o que significava viver o Reino da
felicidade, viver e refrescar-se debaixo da sombra do jardim; soube o
que significava olhar as flores e aos demais pássaros pelo caminho.
Tudo
era parte d’Ele porque quantos busquem, quantos sofram, quantos são
bem-aventurados são eternamente seus; e estando n’Ele, eu compreendi. E
por isto, todos os que tem o intenso sentimento de desejar a Verdade,
devem entender que sem Ele, sem a personificação da Verdade, nada
compreenderemos, que sem Ele não venceremos o eu inferior; e assim
devemos colocá-Lo no centro de nosso Ser, porque então poderemos
irradiar do centro como chispas que brotam da fogueira.
Enquanto
estava eu naquele estado (nada extraordinário, nada anormal nem
sobrenatural), enquanto estava naquele supremo êxtase notei que não
havia barreiras entre o reino da Felicidade e eu; havia descoberto todos
os véus que ocultam o Santo dos Santos; havia entrado eu no jardim e
levantado os véus que ocultam, desfiguram e cobrem aquela imagem, aquela
perfeição. E se quereis seguir, compreendendo que o seguimento não
significa cegueira, caminhemos todos juntos e sejamos todos
companheiros. Eu os mostrarei aquela formosa Visão daquele encantado
jardim, aquele Reino da felicidade, aquela morada do Eterno, aquele
templo donde está o Santo dos Santos.
Porém, deveis ter olhos para ver,
deveis ter a mente bem cultivada, refinada e capaz de muito juízo; o
coração há de estar cheio daquele vasto amor, daquele impessoal amor que
não conhece barreiras nem distinções nem prejuízos; e deveis ter forças
para trabalhar, para subir ou baixar; para escalar as tremendas alturas
ou caminhar pelos dolorosos vales; e deveis ter a alma preparada para a
tentação, deveis ter muitos medos; não haveis de ter satisfação; e,
sobretudo deveis ter aquela grandeza resultante de dilatada experiência
para apreciar a beleza da vida naquele jardim. E se me seguis a este
jardim, se neste jardim buscais a Verdade, encontrareis o dulcíssimo,
puríssimo e nobilíssimo néctar dos Deuses. Esta é a única Verdade, o
único altar em que deveis adorar; e nisto se resume toda a questão.
A
simplíssima Verdade somente pode alcançar-se depois do êxtase de amor,
por imensa devoção, e encontrareis nela o único refúgio onde abrigar-se
dos dias chuvosos e ardentes, de todas as lutas, aflições e dores. E,
uma vez que a haveis encontrado, já não será questão de duvidar nem
vacilar, porque então sereis o Mestre, sereis então o ideal de milhares
de pessoas, o auxiliador de um grande número, o indicador dos que andam
as tontas, dos que não veem ou estão todavia lutando nas trevas.
E
quando pudermos caminhar juntos pelo caminho de eterna paz que conduz
ao Reino da Felicidade, já não será possível a separação, nem o
isolamento, nem dúvidas sobre o ganho da perfeição, da iluminação,
porque então sereis a encarnação de todas as coisas que busca cada um de
vós. E quando caminheis por aquele caminho e descansar naquele eterno
jardim, quando puderdes refugiar-vos do sol debaixo da sombra, então
seremos todos amigos, então seremos todos eternos companheiros, então
todos criaremos a imagem de Quem é o Santo dos Santos. E uma vez
bebido deste néctar, este elixir da vida, os manterá eternamente jovens;
e ainda que podeis haver tido dilatadas experiências e derramado
abundantes lágrimas e sofrido intensamente, está em vosso interior o
manancial que os mantém em eterna plenitude, para sempre jovens e
jubilosos como estrela reluzente em tenebrosa noite; porque o haveis conhecido em
totalidade e, então, está aniquilado o eu, o destruidor e pervertor da Verdade.
E
assim, todos que se sentem fracos, se quereis seguir-me, caminhar até aquela porta
que os separa do eterno jardim, e ali encontrareis muitas chaves, e cada
um de vós poderá tomar uma chave e entrar. Porém, antes de entrar neste
Reino da Felicidade, deveis sentir imenso deleite, imenso prazer; e
depois compreendereis que sois o Mestre e que há cessado de girar a roda
do nascimento e morte.
Encontrareis
ali o Eterno Refúgio, a Eterna Verdade; e ali perdereis a identidade de
vosso isolado eu; criareis novos mundos, novos reinos, novas moradas
para outros..
Krishnamurti
Nenhum comentário:
Postar um comentário