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domingo, 8 de agosto de 2021

 VELHAS ÁRVORES MORTAS ESTUPIDAMENTE

A Relação Interna Entre a Alma Humana 
e a Alma das Árvores
 
 Henrique Luiz Roessler
 
No rancho junto ao grande pinhal da Fazenda, morava há muitos anos o velho posteiro Francisco.
 
Várias vezes ele viu chegarem os doutores filhos do patrão, que moravam longe, na capital, acompanhados duns homens estranhos, os quais queriam comprar os pinheiros que o pai queria conservar, porque neles via uma imensa fortuna.
 
O posteiro ficava apreensivo com as insistências dos madeireiros, porque amava a floresta, que lhe dava todo o conforto – caça, lenha para os frios invernos, a água límpida da fonte, sombra e proteção dos ventos, o cantar dos passarinhos.
 
O patrão, muito bondoso, o tranquilizava, dizendo:
 
“Nunca os pinheiros serão cortados e tu serás guarda deles para sempre.”
 
Mas inesperadamente o fazendeiro faleceu e logo a desgraça caiu sobre o pinhal.
 
Os herdeiros materialistas, loucos por dinheiro para continuar com sua vida de luxo, venderam as árvores por cem cruzeiros cada, preço em 1942. Hoje [1962] valeriam dez mil cruzeiros. Casos dessa natureza acontecem frequentemente em muitas famílias cujos filhos só esperam a morte do pai para avançar nos seus bens.
 
Quando foram marcados os 8 mil pinheiros, destinados à morte, o velho posteiro se tomou de coragem e pediu aos herdeiros que deixassem a ponta do capão junto ao seu rancho, lembrando-os da promessa do seu pai.
 
A resposta chocante foi esta:
 
“Você está louco, homem, nada temos com promessas feitas pelo falecido. Em todo caso vamos deixar fora de venda aquele grande pinheiro que faz sombra ao seu rancho.”
 
Iniciou-se a derrubada. Ouvia-se incessante bater dos machados, o sibilar das serras mecânicas, o roncar dos tratores e de vez em quando o fragoroso estraçalhar das grandes copas batendo no chão, seguidos dos gritos vitoriosos dos cortadores. Tudo devastado e o mato baixo todo quebrado e recortado de picadas dos arrastos, a turma cercou o último pinheiro, o reservado para o posteiro.
 
Ao primeiro golpe de machado, este se lançou de joelhos na frente dos homens e suplicou-lhes com lágrimas nos olhos:
 
“Pelo amor de Deus, não matem o ‘meu’ pinheiro.”
 
Veio o capataz, enfurecido e insensível por terem os cortadores, penalizados, atendido a desesperada súplica, agarrou o velho Chico e dando-lhe um empurrão, gritou: “Afaste-se, seu velho bobo caduco”, e aos homens ordenou: “Continuem”.
 
O posteiro, estarrecido, se encostou no seu rancho e assistiu o assassinato da árvore amiga de longos anos, sem poder salvá-la. Depois viu seguirem os brancos cadáveres florestais com destino à Serraria. Chico não falava mais com ninguém e mal se alimentava. Foi visto sentado no banco do rancho, com a cabeça apoiada nas mãos, muito triste. Certa manhã o encontraram morto, deitado do lado do cepo do “seu” pinheiro. O fato não impressionou ninguém, nem sequer comoveu os diretamente responsáveis. Dizem que o velho Chico morreu de saudades, de coração partido. Que estranho sentimento de amor pela natureza num homem simples e incompreendido.
 
Esta história não é ficção. Aqui a registramos como uma homenagem. 
 
Nota Editorial de 2021:
 
A Teosofia ensina que o espírito da vida universal está presente em todos os reinos da natureza, unindo por exemplo a  pedra, a árvore, o animal, o homem e as inteligências divinas. No texto acima, um dos grandes pioneiros da ecologia no Brasil conta fatos que ilustram esta relação de almas entre bosques e humanos.  
 
Cabe lembrar que um posteiro é um empregado que mora junto ao limite de uma fazenda. Sua função é cuidar das cercas, para que não haja invasão das terras da fazenda por gado dos vizinhos. 
 
Carlos Cardoso Aveline
 

Velhas Árvores

Um Poema Para Meditar e Refletir
 
 
Olha estas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas, quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…   [tempestades]
 
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas. 
 
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
 
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
 
Olavo Bilac
 
 https://www.filosofiaesoterica.com 

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