SIBIPIRUNA, GUARDIÃ DO CAMINHO
“Histórias que as árvores nos contaram”
No
canteiro central de um caminho de terra, que dá acesso a um centro
espiritual, existe uma singela árvore, chamada sibipiruna. Foi plantada
ali, há algum tempo, por alguém que talvez não tivesse total consciência
do real papel daquela árvore naquele local. Todavia, a consciência
dévica que o inspirou, o sabia. Seu papel era tornar-se guardiã do lugar
sagrado, que só mais tarde iria se revelar ali.
Certa
vez, um peregrino colocou-se a caminho desse centro espiritual.
distraído, passou sob a frondosa copa da sibipiruna, que já estava
atenta à sua vinda, muito antes dele ali chegar. de repente, ele ouviu
uma voz suave e firme, que não sabe de onde vinha.
–
Ó peregrino, à tua frente vais cruzar um pequeno rio de águas turvas,
lamacentas. Lança nele teus desejos, tuas paixões e emoções humanas. Dá à
lama o que a ela corresponde em vibração. Não deves prosseguir,
carregando em tua bagagem cargas tão densas e pesadas. Alivia-te, e
prossegue!
O peregrino, um tanto desconcertado, adianta-se no caminho e novamente ouve:
–
Ó peregrino, à tua frente vais atravessar os trilhos de uma linha
férrea. Uma encruzilhada. Deixa para trás teus pensamentos, ideias,
conceitos e preconceitos. Eles criam conflitos de energia dentro de ti,
desnecessários à tua jornada. Se não te purificas, corres perigo em uma
encruzilhada.– Aquieta-te. Acalma tua mente. Alinha-te com a vontade
superior em ti. Assim, não vais te perder em uma encruzilhada, e vais
ser capaz de reconhecer o caminho correto que deves seguir. o peregrino
começa a perceber que algo está se transformando dentro dele. e a voz
prossegue:– Ó peregrino, à tua frente vais atravessar uma alameda de
árvores irmãs: aroeiras, paineiras, coqueiros, eucaliptos e alecrins.
Juntas, vão completar tua purificação e teu alinhamento. Sê grato!
O peregrino já não é mais o mesmo distraído que havia entrado ali e escuta agora a voz com atenção:
– Ó peregrino, à tua frente vais encontrar um último sinal, antes que possas adentrar o lugar sagrado que almejas
alcançar. O riacho de águas cristalinas, que ainda vais cruzar, oculta
um portal. Deixa antes para trás tuas boas intenções humanas, teus
desejos de cresceres e de te curares.
–
Dependura tuas velhas vestes e descalça os pés de teus sapatos suados e
gastos, antes de atravessar o portal e prosseguir. Depois, segue em
silêncio. Vais entrar agora em um lugar sagrado, onde o Espírito vive,
tudo vê, e jamais descansa. Só Ele conhece tuas necessidades reais, que
nem mesmo tu conheces. Conhece tua origem, teu destino, teus dons e
qualidades; também tuas falhas, imperfeições e dificuldades. Se te
entregas a Ele, tudo em ti será suprido, no tempo que só Ele sabe. Segue
os novos sinais que vais encontrar pelo caminho.
O
peregrino não sabe ainda o que realmente aconteceu. Sabe apenas que
tudo se deu no momento em que internamente se encontrou com a
consciência dévica daquela guardiã do caminho, a sibipiruna. Ao deixar
agora aquele lugar sagrado, percebe-se mais atento e alinhado. Sente-se
maduro para irradiar o que vivenciou, no mais profundo do seu ser. Ao
passar novamente pela sibipi-runa, escutou ainda uma outra vez, sua voz:
–
Ó peregrino, agora estás deixando um lugar sagrado. Cuida-te. Não
voltes a colocar sobre ti as vestes antigas que deixaste para trás. Não
te demores em encruzilhadas, mais do que o necessário, para que o perigo
não paire sobre ti. Deixa para trás o rio lamacento que acabaste de
cruzar, e não voltes a sujar de lama teus pés – Mantém acesa em ti a
chama que acabaste de vivificar. Tem cuidado com caminhos largos,
fáceis, cheios de atrativos e tentações, que vais encontrar pela frente.
Não te distraias pelo caminho. Tem cuidado com o mundo lá fora que te
quer de volta, aprisionado e entorpecido, para dele nunca mais te deixar
sair. Segue
em frente. Tens a minha paz. Minha aura te acompanha e te protege.
Dou-te a bênção, pois a recebo continuamente do Espírito, e só assim
posso abençoar. Abençoa também teus irmãos ao longo do caminho que agora
tens pela frente.
Sibipiruna, fogo na matéria
Siwe’pyra’una, do tupi-guarani, pode assim ser traduzido: “madeira
forte que sustenta potente fogo purificador”, ou ainda “vaso em que arde
um fogo purificador”. Pyra, do latim, pode significar: “altar do
sacrifício”. Os fogos do espírito queimam sem arder. Assim, podem
queimar e purificar cada partícula do ser. A sibipiruna revela
externamente também esse potente fogo purificador. Basta estar atento e
observar, ao amanhecer de cada dia, as vestes puras que usa: sua
folhagem verdejante, sua sombra acolhedora;
seu porte amoroso e firme, e por que não, elegante; sua floração
irradiante e encantadora. Sibipiruna, os fogos das entranhas da Terra e
os fogos dos confins do espaço se unem em tua essência!
Por Frei Ameino (Clemente) - Este texto integra a coletânea “Histórias que as árvores nos contaram”, em preparação.
Por Frei Ameino (Clemente) - Este texto integra a coletânea “Histórias que as árvores nos contaram”, em preparação.
http://www.comunidadefigueira.org.br.
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