A RAZÃO DO CORAÇÃO
O Ser Humano Não Pode Ser Feliz Longe da Natureza
Henrique Luiz Roessler
Não há razão de muita euforia, quando o homem pensa na sua origem.
O
verdadeiro ancestral da humanidade foi o macaco CHIMPANZÉ, do qual
evoluiu através de milhares de séculos, passando pelo homem da caverna –
que já conhecia o fogo e comia carne -, o atual HOMO SAPIENS, informado
por um princípio imaterial que se chama alma.[2]
Portanto,
o homem não passa de um animal aperfeiçoado, mas seu livre arbítrio é
uma ilusão, pois seu espírito não se desenvolveu como seu corpo, ficando
estacionado, como prova o fato de que, com toda sua inteligência, suas
atitudes quase que não diferem das dos brutos.
Foi
pela evolução da “razão do cérebro” que lhe foi possível construir
estradas e colocar trilhos, drenar banhados, edificar cidades e
fábricas, conceber invenções fantásticas, para proporcionar conforto e
espaço vital para sempre maior número de habitantes do globo.
Mas
todo este progresso foi conseguido pela destruição das riquezas
naturais do universo, principalmente a devastação das florestas e o
massacre dos animais silvestres, seus irmãos de origem, sob a capa de
exigências da ciência e da técnica.
Estamos
dentro desse processo. O animal superior homem se tornou dono de tudo
que lhe oferece vantagens no mundo, inclusive dos irracionais, que
considera como objetos, coisas e não seres vivos.
Observamos
este desenvolvimento com apreensões, porque temos mais pendores para a
“razão do coração”, para o respeito à vida e à conservação das riquezas
naturais, sem nos considerarmos por isso retrógrados.
Provas do atraso mental do homem são estas:
Antes
vivia feliz e com saúde, em plena liberdade na quietude dos campos,
trabalhando a terra para o sustento de uma vida simples, mas
espiritualmente rica. Mas descontente com poucos haveres materiais, foi
atraído pela quimera do luxo e divertimentos dos grandes centros
urbanos, para ambiente mais civilizado, mas que lhe é hostil.
O
homem da atualidade, motorizado e materialista, com este ato
precipitado, desligou-se completamente da natureza. Como castigo, agora
sofre profunda nostalgia, por ter ficado privado de suas belezas e
benefícios, mas não tem a força moral de voltar atrás.
Hoje
vive nos formigueiros humanos dos arranha-céus ou nas malocas imundas
dos arrabaldes, no forno de cimento armado, no trepidante e ensurdecedor
borborinho citadino. Aspira o ar impuro, saturado de monóxido de
carbono dos motores, da poeira das ruas, dos gases envenenados e da
fumaça expelida pelas chaminés das fábricas e milhares de fogões
domésticos. Vê seus filhos definharem pelas doenças e na miséria.
Provoca
seu lento suicídio bebendo álcool e fumando nicotina, venenos
fortíssimos que minam o organismo e são responsáveis pelas maiores
desgraças da humanidade. É um escravo da luta pelo dinheiro, seu supremo
ideal de riqueza, sofrendo insanáveis males no seu corpo e na sua alma.
Trabalha como prisioneiro entre quatro paredes, com a exclusiva
preocupação pelos assuntos comerciais, industriais e financeiros,
padecendo inúmeros incômodos com o fisco e os operários, que o levam
infalivelmente ao colapso cardíaco.
É um sistema de vida que os animais desconhecem.
Sacrifica
sua paz de espírito, metendo-se em política, para complicar ainda mais a
sua existência e a dos seus semelhantes e comete coisas incrivelmente
imorais, que os irracionais nunca seriam capazes de praticar.
Quando
os grandes potentados se desentendem, não fazem como os animais rivais,
brigando pessoalmente, mas sim obrigam seus subordinados ou
correligionários a se baterem e morrerem por alguma coisa muitas vezes
absurda ou sem importância.
Lembrem-se
da loucura e horrores das guerras. A flor da juventude é obrigada a se
tornar assassinos contra os mandamentos divinos. Entram cantando para a
luta, abençoados de ambos os lados por sacerdotes e poucas horas depois
são recolhidos mortos, feridos ou aleijados por toda vida, tudo para
beneficiar os fazedores de guerras. A humanidade hoje vive em constante
medo das bombas atômicas, que de um momento para outro podem acabar com o
mundo. Fabricadas com o sacrifício dos povos, com esses engenhos de
guerra os governos estão gastando fantásticas verbas, que melhor seriam
empregadas em escolas e hospitais.
O
homem moderno não tem mais tempo para meditar. Seu interesse máximo é
enriquecer o mais rapidamente possível. Não tem mais tempo para procurar
contato com a mãe natureza, que cura todos os males. À procura de
distração, às vezes corre como louco pelas estradas poeirentas,
dirigindo seu carro a toda velocidade, sempre sujeito a acidentes, sem
olhar para os lados e só fica satisfeito quando na volta de longe vê no
horizonte aparecerem as chaminés da sua cidade, sinal de progresso
material. Não tem mais tempo de cuidar de sua família. Não tem mais
interesse pelas coisas simples e estimulantes da vida, como o amor da
esposa e dos filhos; como acariciar um animal; como descansar na beira
dum murmurante arroio; deitar-se na relva, debaixo de uma grande árvore;
como passar uma noite estrelada, ao pé do fogo, junto à barraca; como
ouvir os hinos da passarada ao alvorecer do novo dia; como remar por um
grande rio marginado de mato, onde cantam milhares de cigarras; como
beber um copo de água cristalina de uma fonte, etc.
Vocês nem imaginam o que estão perdendo.
Como são invejáveis os animais silvestres.
Nota Editorial de 2021:
Segundo a Teosofia, o caminhante espiritual deve transcender a “Doutrina do Olho”, que vê as aparências, para alcançar a “Doutrina do Coração”, que enxerga a essência.[1]
No artigo acima, Henrique Luiz Roessler (1896-1963) examina estes dois conceitos e discute a escolha necessária entre eles. Para isso usa os termos “Razão do Cérebro” e “Razão do Coração”. Roessler aplica a Doutrina do Coração à realidade social e ambiental do mundo contemporâneo. Ele denuncia o cérebro mecânico, em grande parte desligado da alma. A avaliação severa que Roessler faz do carma humano na sociedade industrial coincide essencialmente com a visão de Helena Blavatsky.
O texto, de 1961, é um convite para enxergar a história humana em profundidade, e para deixar de lado o pesadelo do materialismo cego. Embora alguns dos fatos sociais descritos por Roessler já não pareçam os mesmos quando olhados desde um ponto de vista superficial, o quadro geral permanece idêntico e a análise feita pelo ecologista continua certeira.
(Carlos Cardoso Aveline)
NOTAS:
[1] Veja a respeito o Fragmento (ou Parte) II de “A Voz do Silêncio”, de Helena P. Blavatsky, e especialmente as primeiras páginas dele. O Fragmento II começa à pagina 16. (CCA)
[2]
O ser humano tem uma origem complexa, material e espiritual. A
divindade da alma humana ainda está amplamente adormecida. Veja “A Doutrina Secreta”, de Helena P. Blavatsky. Leia o artigo “As Três Proposições Fundamentais”. (CCA)
https://www.filosofiaesoterica.com
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