CONSIDERANDO A TOTALIDADE DO MEDO
Vamos agora considerar o medo na sua totalidade. Uma mente atemorizada, que bem lá no fundo está tomada pela ansiedade, pelo medo e pela esperança, que é fruto do medo e do desespero — uma mente assim não é, evidentemente, uma mente saudável. Ela frequenta templos e igrejas; é capaz de elaborar qualquer tipo de teoria, reza, pode até ser erudita; por fora, talvez possua a polidez da sofisticação, talvez seja obediente, adequada, refinada; talvez se comporte de forma correta, exteriormente; mas uma mente assim, que tem tudo isso e que tem suas raízes no medo — como a mente da maioria de nós — não tem, evidentemente, capacidade para enxergar direito.
E se todo esse processo não é compreendido, se o medo, na sua totalidade, não é compreendido, surgem então as atividades peculiares, as atividades dos santos, as atividades dos políticos — atividades que podem ser explicadas, contanto que você observe, que se dê conta dessa natureza contraditória do medo, tanto o consciente como o inconsciente. Você conhece o medo — medo da morte, medo de não ser amado ou de amar, medo de perder, medo de ganhar. Como você lida com isso?
O medo é o impulso que procura um mestre, um guru; é o manto da respeitabilidade, tão amado por todos — ser respeitável. Não estou falando de nada que não seja um fato. É possível ver tudo isso no dia-a-dia. Essa natureza extraordinária e penetrante do medo — como é que você lida com ela? Será que você desenvolve a qualidade da coragem apenas de modo a atender às exigências do medo? Compreende? Você decide ser corajoso para enfrentar os acontecimentos da vida, ou apenas racionaliza o medo para afastá-lo, ou para encontrar explicações que darão satisfação à mente tomada pelo medo? Compreende?
Você decide ser corajoso para enfrentar os acontecimentos da vida, ou apenas racionaliza o medo para afastá-lo, ou para encontrar explicações que darão satisfação à mente tomada pelo medo? Como você lida com isso? Liga o rádio, lê um livro, vai a um templo, apega-se a algum tipo de dogma ou de crença? Vamos discutir como lidar com o medo. Se você se dá conta dele, qual a sua maneira de abordar essa sombra? Evidentemente, é possível perceber com clareza que a mente amedrontada se apaga; ela não consegue funcionar de modo adequado; não consegue pensar de modo racional.
Por medo não me refiro ao medo que existe no nível consciente apenas, mas também ao que existe nos recessos profundos da mente e do coração. Como saber? E ao descobrir, como proceder? Eu não estou propondo uma questão teórica. Não diga: "Ele irá responder." Eu vou responder, mas vocês precisam descobrir. No momento em que não existe mais medo, não existe ambição, mas ação, a qual se dá pelo amor do que é feito e não pelo reconhecimento daquilo que você irá fazer. Assim, como lidar com isso? Qual a sua resposta?
É claro que a resposta cotidiana ao medo é empurrá-lo para o lado, encobri-lo com a vontade, a determinação, a resistência, a fuga. É isso o que fazemos, senhores. Não estou dizendo nada de extraordinário. Então, o medo continua perseguindo você como uma sombra e você não fica livre dele. Refiro-me a totalidade do medo, não apenas a um medo específico — da morte, ou do que o seu vizinho vai dizer; o medo da morte do marido ou do filho; ou de que a esposa fuja. Sabem o que é o medo? Cada um tem a sua forma particular de medo — não um, mas múltiplos medos.
Uma mente que tem alguma forma de medo não pode, evidentemente, ter a qualidade de amor, de simpatia, de ternura. O medo é a energia destrutiva no homem. Ele faz a mente fenecer, distorce o pensamento, leva a todo tipo de teoria de extraordinária sagacidade e sutileza, a superstições absurdas, a dogmas e crenças. Se você percebe o quanto o medo é destrutivo, como proceder, então, para purificar a mente?
Para compreender o medo é preciso examinar a questão da comparação. Por que nos comparamos?... A comparação gera o medo. Observe esse fato em você mesmo... O sucesso e a fama são a verdadeira essência psicológica da comparação, através da qual produzimos continuamente o medo.
E a comparação dá lugar ao conflito e à luta, o que é considerado altamente respeitável... Sendo assim, existe na nossa vida esse permanente estado de comparação, de competição, e a eterna luta para ser alguém — ou para ser ninguém, o que dá no mesmo. Essa, creio, é a raiz de todo o medo, porque produz a inveja, o ciúme e o ódio. Onde existe o ódio por certo não existe o amor, e o medo é produzido cada vez mais.
Krishnamurti
Somos seres únicos criados individualmente para viver harmoniosamente em grupo. Somos únicos porque não há indivíduos totalmente iguais; todos se diferenciam uns dos outros através de caracteres físicos, psicológicos e espirituais. Estamos nessa grande escola da vida aprendendo a ser um 'ser humano total'; ainda não somos, limitamo-nos a copiar e ou extorquir uns dos outros, pois estamos quase sempre competindo por coisas tão passageiras; passageiras porque nada levamos desse mundo e, se não carregamos conosco, por que competir ? Se permitíssemos que a vida simplesmente fluísse... assim como os seixos que estão no leito dos rios... a correnteza os carrega... mas eles nunca se perdem. Consintamos que a vida flua em nós sem que nos enganemos ao traçar um curso, curso esse que já foi objetivado pelo nosso Ser Interno. O que geralmente fazemos quando aqui chegamos é mudar essa direção, então nos sentimos ameaçados e, muitas vezes, nem sabemos o motivo, pois ao alterarmos a marcha daquilo que estava destinado para seguirmos, surge o medo, a insegurança... perdemos, pois a nossa conexão interna. Estamos aqui para aprender e nos mover em consonância com as Leis Superiores, mas estamos ainda engatinhando como seres divinos, por isso esse curso é traçado para nós, porém não imposto, por esta razão o Pai Celestial nos deu o 'livre arbítrio'. Precisamos compreender isso.
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