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domingo, 17 de janeiro de 2021

MÍSTICA DOS DOZE PASSOS

Passos na areia 

SEGUNDO PASSO - Constatamos que somente uma transformação psicológica poderia nos proporcionar um estado de unidade interna e de bem-estar comum.
   
O que é "pensar"? Quando é que passamos a ter consciência do nosso processo de pensar? Certamente, nos damos conta dele, quando estamos "adictos" [afeiçoados, apegados] de um problema, quando nos sentimos ameaçados, inseguros, quando existe algum tipo de confusão. Somente nesses momentos é que percebemos sua existência como um processo auto-consciente, e, não raro, nesses momentos quase todos nós sentimos o desejo de desligar nossas mentes do 220 volts.

Portanto, se queremos experimentar um modo de vida sereno, equilibrado e feliz, mostra-se emergencial a prática da "observação relâmpago" do nosso processo de pensamento, o qual utilizamos em todas as nossas atividades.

É preciso observar o nosso próprio pensamento com todo seu conteúdo, energia e sugestões. Não poderemos despertar para a inteligência se apenas lermos estas linhas e não tomarmos consciência do nosso próprio processo de pensamento, se não observarmos a maneira pela qual ele surge, como ele se produz e o que pede. Se queremos vivenciar uma experiência própria, uma nova maneira de viver, livre de qualquer forma de comportamento compulsivo, precisamos através da observação consciente, descobrir o processo do nosso pensar. Precisamos trazer à luz da observação, a escuridão em que se encontram nossas vidas governadas pela ação do pensamento condicionado.

Não há dúvida que pensar é uma reação originada na memória, nos preconceitos, com todos antecedentes e condicionamentos. É de acordo com tudo isso que o pensamento adquire poderes para governar à nossa existência.

O pensamento não quer de forma alguma ser um servidor de confiança da inteligência. Ele quer governar e por isso vive criando um ciclo vicioso de conflitos. Quanto mais conflito, mais pensamento, quanto mais pensamento, mais conflito. Não importa qual seja a sua religião, nacionalidade, cor, orientação sexual - quem tenta responder aos conflitos é o pensamento, com todos os seus condicionamentos e desprovido da inteligência amorosa e integrativa. O núcleo desses condicionamentos é o "eu" presente no processo da ação. Enquanto os condicionamentos não forem compreendidos através da ação da observação sem escolhas, enquanto o processo do pensamento, a natureza exata do problema, não for compreendido e não tiver tido seu fim, continuaremos fadados a enfrentar conflitos, compulsões, dentro e fora, no pensamento, na emoção e na ação.

Nenhuma solução, de nenhum tipo, por mais sagaz ou bem pensada que seja jamais poderá pôr fim aos nossos conflitos. Poderá somente postergá-los. Precisamos, através da observação sem escolha, tomar ciência de como o pensamento nasce, de que fonte ele se origina, qual é a sua natureza e se é possível o mesmo deixar de governar nossas vidas, passando a ser tão somente um servidor de confiança da ação da inteligência criativa amorosa.

Enquanto o pensamento, que é resultado do conhecido, insistir em governar nossas vidas, não há a possibilidade da manifestação de um modo de vida sereno, equilibrado e feliz. O que podemos esperar é tão somente conflito, isolamento e a incapacidade de autênticos, nutritivos e satisfatórios relacionamentos.

Se você for um inconsciente adicto do pensamento é bem provável que esteja agora criando várias objeções, resistências à tudo o que leu até aqui.

No entanto, gostaríamos de lhe perguntar:

Você pode através dos seus pensamentos resolver seus problemas de ordem técnica, no entanto, pode resolver seus problemas psicológicos, emocionais?

Pensar bastante sobre os seus problemas tem feito com que você os resolva realmente?

Se você não sofre devido aos seus pensamentos, por qual motivo se interessou por este texto?

No cotidiano, quanto mais se pensa sobre um problema, mais complexo, insolúvel e incerto ele se torna. Não é exatamente isso o que ocorre em nossa vida diária e real?

Você até pode, se pensar sobre certos aspectos do problema, perceber com maior clareza o ponto de vista de outra pessoa, mas o pensamento não pode enxergar a plenitude e a totalidade do problema; o pensamento apenas vê parcialmente e uma resposta parcial não é uma resposta plena. Logo, não há solução!

Quanto mais pensamos sobre um problema, quanto mais o investigamos, analisamos e discutimos, mais complexo ele se torna. Precisamos observar o problema de forma plena e totalmente abrangente e isso não é possível através da ação do pensamento. Isso só é possível quando o processo do pensamento - que tem sua origem no "eu", nos condicionamentos, na tradição, no preconceito, nas crenças, na esperança, no conflito - tiver chegado ao fim. Precisamos compreender a nós mesmos, não por meio da análise, mas sim, através da observação sem escolha, enxergando assim, o fato tal como realmente é, tendo consciência dele como um fato e não como uma teoria.

Precisamos através da observação sem escolha enxergar a constante atividade do "eu". Se em cada um de nós não existir o centro do "eu", com seu desejo de poder, de posição, de prestigio, de autoridade, de continuidade, de auto-proteção, de reconhecimento, nossos conflitos certamente terão seu fim.

O si-mesmo, o "eu" é um problema que o pensamento não pode resolver. É preciso haver uma percepção que não parta do pensamento. Não se trata aqui de uma "ação divina" ou "ação da graça". Trata-se de observar sem escolha, sem condenação ou justificação, estar ciente das atividades do si-mesmo - apenas estar ciente, sem qualquer espécie de julgamento - isso é o suficiente. Enquanto você se mantiver ciente visando descobrir a forma de resolver seus conflitos, com o interesse de transformá-lo, de produzir um resultado, um ganho, você estará ainda no interesseiro campo do "eu", do si-mesmo. Enquanto estivermos interessados na busca de um resultado, seja por meio da análise, ou por meio da consciência, ou através de um exame constante de cada pensamento, continuaremos ainda presos no campo do pensamento, o qual se encontra no campo do "mim", do "eu", do "ego".

É preciso manter o simples: observar sem escolhas!

http://pensarcompulsivo.blogspot.com

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