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sábado, 16 de janeiro de 2021

  MÍSTICA DOS DOZE PASSOS


PRIMEIRO PASSO - Admitimos que éramos impotentes perante a solução dos nossos conflitos existenciais por intermédio do uso do pensamento condicionado – que nossas vidas estavam estagnadas devido ao pensamento condicionado.

 
A percepção da atividade do pensamento compulsivo com todas as suas capacidades, sutilezas, sagacidade, sugestões, e sua extraordinária e incessante atividade desprovida de inteligência, só é possível através da observação sem escolhas.
 
O pensamento nunca é original, é sempre um resultado do coletivo, da tradição. O pensamento não consegue abordar os acontecimentos da vida, com todos os seus relacionamentos, de forma limpa, depurada, não contaminada pelas experiências do passado contidas na memória. As recordações das experiências do passado impedem a manifestação de um estado de mente aberta, inocente e, portanto, não preconceituada. As memórias, as recordações, formam imagens que atrapalham a visão da realidade causando assim, uma interminável fonte de conflitos. Para a manifestação de um modo de vida sóbrio, sereno, equilibrado e feliz, torna-se de extrema urgência a percepção visceral da natureza exata dos nossos conflitos: o pensamento compulsivo com todo seu processo psicológico, sua manifestação, uma vez que toda reação condicionada parte do processo do pensamento. Esta percepção do pensamento e todo seu processo tem que ser livre de qualquer tipo de julgamento ou escolha, pois toda escolha e julgamento alimentam o processo de análise, que em sua origem é pensamento. O pensamento precisa “morrer de morte natural”, de inanição causada pela falta de identificação. Quando observamos o pensamento, sem qualquer tipo de esforço, de escolha ou julgamento, não ocorre a identificação com o mesmo, e sem essa identificação, não há a manifestação de qualquer forma de reação condicionada. Todo ato compulsivo é precedido de um pensamento compulsivo e da não observação do processo do pensamento. Através da observação do processo do pensamento, torna-se possível, sem qualquer tipo de esforço, a percepção do falso e da insanidade contida em sua promessa de prazer imediato.
 
Após uma minuciosa reflexão torna-se fácil a percepção de que não somos dependentes de um determinado tipo de comportamento compulsivo, mas sim, impotentes perante a ação do processo do pensamento compulsivo. Somos impotentes perante o pensamento, uma vez que nunca podemos saber de antemão qual será o seu próximo conteúdo, sua carga e manifestação. O pensamento se manifesta independente da nossa vontade, do nosso convite, trazendo consigo o conteúdo e a energia que quiser. Querer brigar, tentar silenciá-lo a força, seja através de um método, seja através de uma droga de escolha ou através do abuso da vontade própria, só pode resultar em mais conflito aos já instalados.
 
Através da observação sem escolha da natureza exata dos nossos conflitos, que é o pensamento com todo seu processo divisor, é que podemos chegar a conhecer um estado de unidade interna, através do qual, torna-se possível a visão das coisas como realmente são e não como é traduzido pelo nosso condicionamento, de acordo com as nossas experiências do passado, com as nossas imagens, preconceitos e acumulo de conhecimento.
 
A natureza exata dos nossos conflitos – o pensamento - é uma resposta irrefletida do acúmulo das nossas experiências armazenadas na memória, tanto individual como coletiva, particular ou racial, consciente ou inconsciente, por isso que a doença é física, por afetar as células da memória. Portanto, nosso pensamento nunca está no só por hoje, no agora; ele é fruto do passado projetando-se num futuro imaginário. Não pode haver uma nova maneira de viver através da ação do pensamento condicionado, uma vez que o pensamento é uma resultante do “velho”, do “conhecido”. O pensamento é sempre resposta do passado com todos os seus condicionamentos, tradições, crenças, moral, experiências e acúmulos pessoais e coletivos. O pensamento nunca poderá renovar a si mesmo e é aí que reside a nossa verdadeira impotência.
 
Sem a admissão da total impotência e futilidade do uso do pensamento como um meio de solucionar os nossos conflitos, torna-se impossível a ação do despertar da inteligência criativa e integrativa, a qual é capaz de ver o falso no falso. O pensamento pode apenas descobrir a sua própria projeção, não pode, portanto, descobrir uma nova maneira de viver. O pensamento pode se identificar apenas com aquilo que já vivenciou; não pode se manifestar com o que não vivenciou. Não se trata aqui de nada filosófico, espiritual ou metafísico. Basta uma minuciosa reflexão para mostrar que enquanto o “eu” – com todas as suas recordações, compulsões e condicionamentos – estiver na ativa, não pode haver nunca o despertar da inteligência criativa e com ela, a manifestação de uma nova e saudável maneira de viver, repleta de equilíbrio, serenidade, sobriedade, felicidade e amor. O pensamento jamais poderá vivenciar o novo, ele só poderá vivenciar o que lhe é conhecido, só pode operar nos domínios do conhecido, ele é totalmente impotente para ir além desses domínios. Basta surgir uma situação desconhecida, que a mente logo se agita e prontamente se instala o conflito. O pensamento tenta modificar a realidade, aquilo que por si mesmo não pode modificar. O pensamento procura sempre trazer o desconhecido para os domínios do conhecido. Mas o desconhecido nunca poderá ser trazido para o conhecido, e essa é a natureza exata dos nossos conflitos: tentar modificar através do pensamento aquilo que não está no alcance do pensamento.
 
Sem a admissão incondicionada do pensamento como a natureza exata dos nossos conflitos, torna-se impossível o despertar da inteligência criativa com todo seu bem-estar comum, unidade interna, autonomia e auto-suficiência psicológica.

http://pensarcompulsivo.blogspot.com

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