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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

MÍSTICA DOS DOZE PASSOS

100 passos da gratidão: mude com esta prática! - Marcia Luz - QUINTO PASSO - Reconhecemos perante nós mesmos e perante outro ser humano o pensamento condicionado como a natureza exata de nossos conflitos existenciais.

 
Desde a mais tenra idade temos sido treinados para ser leais ao sistema de crenças em que nascemos com todos os seus condicionamentos. Isso é conveniente para que possamos ser explorados pela sociedade. Para todos os interesses estabelecidos a lealdade é simplesmente uma necessidade, mas ela reduz o ser humano a um estado de retardamento mental. Ela não permite o questionamento, ela não permite a dúvida, ela não permite o despertar da inteligência criativa integrativa; e se não somos capazes de duvidar, de questionar, de dizer "não" quando sentimos que a coisa está errada, caímos num estado de mediocridade e estagnação.
 
Se percebemos a necessidade de uma profunda transformação pessoal, precisamos ter em mente que discutir sobre a libertação dos condicionamentos, sem a devida atenção, pode gerar até mais condicionamentos! Um dos nossos condicionamentos é essa ideia de que devemos nos analisar, nos observar introspectivamente, olhar minuciosamente as feridas psicológicas da nossa infância. Nessa análise, há sempre o "censor", a entidade que controla, guia, molda, condena; há sempre conflito entre o analista e a coisa analisada. É preciso considerar isso não como teoria, não como conhecimento; o conhecimento é excelente em seu próprio lugar, mas não quando estamos procurando compreender a estrutura do nosso ser. Se nos servimos do conhecimento, da associação, da acumulação, da análise, como meio de nos compreendermos, cessamos de aprender sobre nós, no aqui e agora, que é onde se manifesta todos os nossos conflitos. O aprender requer que sejamos livres para podermos observar sem o "censor".
 
E o que significa ser livre? Será liberdade fazer o que nos convém, ir onde nos agrada, pensar o que nos apetece? De qualquer modo, é isso o que fazemos. Ter independência, simplesmente significará liberdade? Muitas pessoas no mundo são independentes, mas poucas são livres. A liberdade implica uma grande inteligência. Assim, ser livre é ser inteligente, mas a inteligência não vem apenas pelo desejo de ser livre. Ela só vem quando começamos a compreender totalmente o meio que nos rodeia, as influências sociais, religiosas, familiares e tradicionais que nos pressionam constantemente disparando nossos gatilhos da memória, que por sua vez, disparam todos os nossos padrões de comportamentos destrutivos. Mas para compreender as várias influências do meio cultural ao qual pertencemos, as crenças e superstições, a tradição à qual nos conformamos sem a mínima reflexão - para que possamos compreendê-las todas, e nos libertarmos delas, é preciso uma visão profunda, uma percepção que não pertence ao pensamento.
 
Geralmente nos submetemos a elas porque interiormente estamos com medo. Temos medo de não obter uma boa posição na vida; temos medo do que os outros poderão dizer; temos medo de não seguir a tradição, de não fazer a coisa certa, de acabarmos sós, falidos. Mas liberdade é, verdadeiramente, um estado de espírito em que não há medo, compulsão, nem a ansiedade de se estar seguro. A liberdade não está longe de nós. Ela se acha à nossa frente, e só temos de saber observar. Nunca fomos ensinados e incentivados a observar. A mente cheia de preconceitos, conclusões, crenças, não tem nenhuma possibilidade de observar e ser livre; e um dos nossos piores preconceitos é o processo analítico. Quando percebemos isso abandonamos esse preconceito sem esforço. E, uma vez abandonado, ele não tornará a nos aprisionar; nunca mais pensamos com propósitos de ascensão, de repressão, de resistência, porque tudo isso está implicado na análise.
 
É só em liberdade que podemos descobrir o que é o despertar da inteligência criativa integrativa, e não por efeito das crenças, dogmas, conhecimentos, fórmulas e preconceitos. Quando vivemos nossas vidas de acordo com um padrão de comportamento estabelecido por terceiros acabamos destruindo a nós mesmos. É muito perigoso seguir um padrão de comportamento pré estabelecido, por mais espiritual que pareça ser, uma vez que, quando fazemos isso, tiramos nossa vida de seu centro, de sua base e isso nos torna insanos. Quando nos conformamos com um padrão de pensamento condicionado préestabelecido somente deformamos a nós mesmos e com isso geramos toda espécie de conflitos.
 
Para desenvolver uma percepção mais ampla, devemos estar dispostos a observar nossa visão estreita. A curto prazo é muito mais fácil não fazer isso - permanecer onde estamos, continuar usando o mesmo mapa microscópico, evitar sofrer a morte do sistema de crenças que valorizamos. Contudo, o caminho do despertar da inteligência criativa segue a direção oposta. Começamos desconfiando, questionando tudo o que já conhecemos, buscando ativamente o que é ameaçador e desconhecido, deliberadamente desafiando a validade do que nos foi ensinado e valorizado. O caminho para a sanidade está em questionar tudo.
 
Um dos problemas que nos mantém num modo de vida fragmentado é que poucos de nós desenvolvemos uma vida pessoal distinta, poucos de nós chegamos a saber por experiência própria o que vem a ser um estado de unidade interna, autonomia e auto suficiência psicológica. Tudo em nós parece de segunda mão, até mesmo nossas emoções. Em muitos casos, dependemos de informações de segunda mão para funcionar. Aceitamos a palavra do médico, do terapeuta, do psicanalista e do cientista, dando-lhes crédito. Podemos aceitar informações de segunda mão sobre o estado dos nossos rins e os efeitos colaterais do colesterol. Mas quando se trata de questões de significado, finalidade e despertar da inteligência criativa, informações de segunda mão não servem. Não podemos sobreviver com uma fé de segunda mão num deus de segunda mão, auto concebido pelo próprio pensamento condicionado. Precisamos sair da crença para a experiência. Tem de haver uma palavra pessoal, uma confrontação única, se pretendemos descobrir uma nova maneira de viver autônoma, auto suficiente, onde não seja necessária as doações psicológicas vindas de fora. Enquanto aceitá-las não há a mínima possibilidade da manifestação da inteligência criativa.
 
Quando olhamos para o nosso mundo exterior, resultante dos nossos conflitos interiores, nos parece clara a necessidade de uma revolução total em nossa consciência. E não será possível tal revolução, se permanecermos insensatamente apegados a crenças, ideias e conceitos. Não encontraremos saída de nossa confusão, angústia, conflito, pela constante repetição do conteúdo dos livros tidos como sagrados e espirituais; isso poderá levar somente à hipocrisia, a uma vida de insinceridade, de interminável pregação moral, porém nunca a enfrentar a realidade. O que nos cumpre fazer é nos tornar conscientes dos condicionamentos de nossa existência diária, de nossos infortúnios, nossas angústias, nossa confusão e conflitos, e tratar de compreendê-los tão profundamente que possamos lançar uma base adequada, para começar uma nova maneira de viver, onde nossos pensamentos são apenas servidores de confiança da inteligência criativa, não tendo poderes para nos governar. Não há outra solução. Temos de nos enfrentar assim como somos e não como pensamos que deveríamos ser, segundo um certo padrão, ideal ou critério pré estabelecido. Temos de ver realmente o que somos e, daí, nos prontificarmos para a transformação radical que não chega por meio de falácias como a força do pensamento positivo ou através do esforço pessoal.
 
Sem o reconhecimento da natureza exata dos nossos conflitos, poderemos tão somente encontrar por paliativos para situações momentâneas, o que de modo algum pode nos brindar com uma inteligência criativa capaz de trazer luz em todos os nossos tipos de relacionamentos.
 
http://pensarcompulsivo.blogspot.com  

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