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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

MÍSTICA DOS DOZE PASSOS

Mensagens Sobre os Degraus da Vida | Mensagens - Cultura Mix 

QUARTO PASSO - Fizemos um minucioso e destemido inventário do nosso sistema de crenças, valores e condicionamentos.

Se quisermos sinceramente inventariar nossos condicionamentos é preciso, antes de tudo, libertar nossa mente de qualquer preconceito caso contrário nunca poderemos compreender nossos diversos condicionamentos. Se quisermos compreender algo, não podemos abordá-lo partindo de uma opinião pré-estabelecida, precisamos colocar tudo de lado e tão somente examinar. Se quisermos compreender nossos condicionamentos, é preciso que nossa mente esteja livre de qualquer conceito, uma vez que uma mente livre não é prisioneira de medos e ansiedades. Sem dúvida, são os conceitos, os condicionamentos, que nos amedrontam e diante desse medo, ocorre a invenção dos sistemas de crença que acabam por aprisionar as nossas mentes. Uma mente livre de conceitos, crenças, dogmas e condicionamentos é uma mente sem medo, sem ansiedade. Sendo assim, enquanto a mente tiver qualquer tipo de condicionamento, enquanto estiver psicologicamente presa num sistema de crenças, a um programa, a um conceito, ela não poderá saber o que é o despertar da inteligência criativa. A mente que acredita é uma mente condicionada e uma mente condicionada nunca poderá saber o que é o estado de liberdade proveniente da inteligência criativa integrativa.
 
É muito importante compreender todo o processo do nosso pensamento condicionado e essa compreensão não surge através do isolamento; a compreensão dos nossos condicionamentos ocorre no espelho dos relacionamentos. A compreensão do processo do nosso pensamento condicionado surge quando nos observamos em todas as nossas atividades, quando nos observamos em nossos relacionamentos diários, nas nossas reações, nas nossas atitudes, nas nossas crenças, na maneira como tratamos nossos familiares e conhecidos. É somente no espelho dos relacionamentos que podemos ver refletidos os processos do nosso pensamento condicionado. Não existe, é claro, uma vida isolada. Podemos, cuidadosamente, eliminar diversas formas de relacionamento físico, mas, ainda assim, a mente permanecerá relacionada.
 
O autoconhecimento só pode ocorrer quando enxergamos os fatos relacionados tais como eles são sem inventar, condenar, justificar ou racionalizar. No relacionamento, o pensamento condicionado faz certas avaliações, julgamentos e comparações; ele reage ao desafio de acordo com várias formas de recordação contidas na memória. Através do inventário dos processos da mente, através da conscientização de todo esse processo é que o pensamento se imobiliza. A mente fica então bastante quieta, silenciosa, sem incentivo, sem movimento em qualquer direção, e, nessa quietude, que é meditação, pode ocorrer o despertar da inteligência criativa integrativa. Isso não é algo que se possa cultivar dia após dia, que possa ser reunido, acumulado, mantido pela ação do tempo. Tudo o que podemos fazer é verificar como a mente está condicionada, e, através do autoconhecimento, compreender o processo do nosso próprio pensamento. Precisamos nos conhecer, não como nós, ideologicamente, gostaríamos de ser, mas como somos na realidade, não importa se feios ou bonitos, se invejosos, compulsivos, ciumentos, ambiciosos ou o que quer que seja. Mas, por causa dos nossos condicionamentos, é muito difícil ver apenas o que se é, sem querer mudá-lo. Esse próprio desejo de mudança é outra forma de condicionamento que tanta dor e sofrimento nos proporcionam. E assim seguimos, passando de um condicionamento para outro, jamais vivenciando o despertar da inteligência criativa integrativa.
 
Muitos confrades se ressentem pelo motivo de nunca terem vivenciado um estado de unidade e bem-estar comum, a não ser algo momentâneo, passageiro, experiência temporária sem maior significado. Estes confrades se questionam e se ressentem por após tantos anos não terem vivenciado o despertar da inteligência criativa integrativa. Durante anos, alimentaram a crença de que, por vigiarem, por terem consciência, se tornariam mais amorosos, sofreriam menos, seriam menos nervosos, menos compulsivos, atingiriam algo superior. Assim, o inventário deles era interesseiro, egocêntrico, um processo de compra, ou seja, uma observação condicionada por uma escolha, por um desejo, logo, não se trata de observação, não se trata de atenção. Inventariar os condicionamentos é observar sem escolher, é nos enxergar tal como somos, sem o desejo de mudar, sem fazer qualquer movimento, e fazer isso é de extrema dificuldade, mas isso não significa que continuaremos no estado atual. Não podemos saber o que acontecerá se pudermos nos enxergar tal como somos e se não quisermos promover uma mudança naquilo que se vê.
 
Esses membros ressentidos querem saber por que não podem ir além das disputas superficiais da mente. O motivo é muito simples: é porque, de forma consciente ou inconsciente, a mente vive sempre buscando por algo e a própria busca produz conflito, competição e a crônica sensação de insatisfação. Apenas quando, por meio da meditação não organizada, a mente atinge o silêncio absoluto é que existe a possibilidade da ação do despertar da inteligência criativa integrativa. Enquanto a mente abrigar qualquer tipo de desejo não poderá estar em silêncio absoluto, sendo para si mesma, uma eterna fonte de conflito, sofrimento e dor.
 
Para inventariar minuciosa e destemidamente o nosso sistema de crenças e condicionamentos é preciso dedicar atenção total, atenção na qual não pode haver esforço e nem o atrito produzido pelo desejo, ou pela busca de critérios auto-estipulados; porque no esforço, no atrito, no desejo, no estabelecer metas, há distração. Se estivermos realmente decididos a inventariar nossos condicionamentos, essa própria decisão produz uma atenção na qual não existe desvio ou conflito, ou sentimento ao qual devamos prestar atenção.
 
É muito fácil observar o que se passa no exterior sem qualquer tipo de escolha. Mas, concentrar-se em nosso interior e tomar ciência sem condenação, sem justificativas, sem condenação, é muito difícil. Precisamos nos limitar a inventariar o que se passa dentro de nós – nossas crenças, nossos medos, nossos dogmas, nossas esperanças, nossas frustrações, nossas ambições e o que mais se apresentar. Ao fazermos isso se dá o inicio do desdobrar da consciência e do inconsciente. Não precisamos fazer absolutamente nada. Perceber apenas; isso é tudo o que precisamos fazer: sem condenar, sem forçar, sem tentar mudar aquilo que se percebe. Se percebermos sem fazer escolhas, todo o campo da consciência começa a se revelar. E, à medida que se revela, só precisamos acompanhar sem qualquer forma de resistência, julgamento ou comparação, e este acompanhar torna-se extremamente difícil – acompanhar no sentido de acompanhar o movimento de cada pensamento, de cada sentimento, de cada desejo secreto. Torna-se difícil a partir do momento em que dizemos: “Isto é feio”, “Isto é bom”, “Isto vou manter”, “Isto vou guardar”, “Isto vou me abster”.
 
Assim, começamos com a observação exterior e movemo-nos para o interior. E a seguir descobrimos que o interior e o exterior não são diferentes, que ambos são um só. Então podemos ver que o tempo todo estivemos vivendo no passado; nunca houve um viver real, nunca houve a prática do só por hoje no qual o passado nem o futuro existem. Descobrimos através dessa observação que sempre estivemos vivendo nesse movimento entre o passado e as projeções do futuro – o que sentimos; o que fomos; se fomos espertos, bons ou maus – e que vivemos presos nas recordações. Somos adictos da memória. Portanto, precisamos compreender a memória, não negá-la, suprimi-la, não fugindo dela. Se um homem faz um voto de abstinência e se apega a essa recordação, quando recai ele se sente culpado; e isso asfixia a vida.
 
Então, passamos a estar atentos a tudo e, assim, tornamo-nos muito sensíveis. Portanto, ao escutarmos – ao repararmos não apenas no mundo exterior, no gesto exterior, mas ao escutarmos também a mente interior que olha e, portanto, sente – quando tomamos ciência assim, sem escolhas, não existe nenhuma espécie de esforço, conflito, sofrimento ou dor. É muito importante que compreendamos isso.
 
Sendo assim, precisamos descobrir se em algum momento, pode o pensamento ser original, uma vez que cada um dos nossos problemas é novo e original. Precisamos descobrir através do nosso inventário e não por meio de doações psicológicas vindas de terceiros, o que é o pensamento e todo seu processo fragmentador. Sem esta experiência única, especial e intransferível, torna-se impossível a descoberta de um modo de vida sereno, equilibrado e feliz, onde se possa ter ciência do que vem a ser a verdadeira liberdade do espírito humano.

http://pensarcompulsivo.blogspot.com

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