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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

MÍSTICA DOS DOZE PASSOS


DÉCIMO PASSO - Continuamos observando nossos pensamentos e sentimentos, isentos de qualquer julgamento, procurando sempre reconhecer possíveis fontes de condicionamentos.


Somos pessoas influenciáveis. Deixamos-nos influenciar com muita facilidade e estamos sempre prontos para aceitar as ideias sem a menor reflexão. Tememos perder nossa segurança psicológica e por causa disso estamos sempre ansiosos para seguir e obedecer todo aquele que diz que “sabe” ou que “experimentou” algo diferente da nossa própria realidade. A mente da maioria de nós está seriamente deformada, de modo que somos incapazes de ver as coisas diretamente, por nós mesmos, sem a interferência das ideias de terceiros. Em geral, nossas mentes estão dominadas por preconceitos e uma mente assim condicionada só pode produzir um modo de vida vazio, doentio, superficial e sem valor.

Parecemos prosseguir ano após ano, vivendo dentro de um mesmo padrão comportamental, dentro do mesmo molde ou prisão, adictos da agonia, do desespero, dos sentimentos de culpa, da vergonha tóxica, do medo, além do desejo de poder e prestigio. Assim, temos vivido deixando nos prender na imensa rede de condicionamentos da geração precedente.

Assim, todo aquele que deseja descobrir um modo de viver sereno, equilibrado e feliz precisa perguntar a si mesmo se é possível libertar-se dessa imensa rede de condicionamentos, desse modo de vida, dessa existência mecânica e superficial que só lhe oferece solidão, desespero, relacionamentos superficiais e constantes conflitos do cotidiano. Se desejamos descobrir uma maneira de viver que em si mesma contenha as sementes da nossa perdida integridade, precisamos nos libertar de toda forma de dependência emocional e da perniciosa influência de toda autoridade psicológica.

Desde a mais tenra idade temos sido vitimas de influências que pouco a pouco foram nos fragmentando e, por sua vez, essas fragmentações acabaram nos levando para vários tipos de isolamento. Fomos condicionados por vários tipos de ideologias, no entanto, nenhuma delas foi capaz de nos proporcionar um modo de vida realmente sereno, equilibrado e feliz. Nenhuma ideologia, por superior e grandiosa que fosse pode nos proporcionar esse estado de inocência, unidade e bem-estar comum. Isso só pode se manifestar quando não mais somos pessoas influenciáveis, quando não somos manipulados por qualquer tipo de autoridade psicológica. Onde existe seriedade não há espaço para a aceitação da autoridade, pois a autoridade impede que sejamos uma luz para nós mesmos. Se não formos uma luz para nós mesmos, seremos sempre pessoas de segunda mão, pessoas dependentes e incapazes de potencializar nossos talentos adormecidos. Essa nova maneira de viver só pode ser despertada quando ousamos ser uma luz para nós mesmos. Somente quando cada um de nós for sua própria luz, só então estaremos aptos para estabelecer autênticos relacionamentos, para saber o que realmente é o amor e para viver num estado de unidade e comunhão, com nós mesmos, com outro ser humano e a natureza em seu todo.

Mas, enquanto estivermos sendo psicologicamente influenciados por uma autoridade particular, seja a de um indivíduo, de um sistema de crença organizada, de um método, ou da própria experiência pessoal do passado, seremos impossibilitados de despertar a inteligência e com ela, esse estado de unidade e comunhão que é amor. Somente quando estamos de fato livres de toda influência psicológica é que somos capazes de comungar, de cooperar. Se buscamos por isso, precisamos ser verdadeiramente judiciosos, não aceitando a autoridade de ninguém, nem aquelas que nós mesmos cultivamos, baseadas em nossas experiências, nosso acumulo de conhecimento e em nossas numerosas conclusões. Só podemos despertar para um modo de vida livre de condicionamentos quando somos realmente livres.

Cada um de nós deve ser, para si próprio, tanto o afilhado como padrinho, tanto o discípulo como o mestre. Isso só se torna possível quando rompemos com as dependências, influencias e observamos, por nós mesmos, os acontecimentos cotidianos tais como são. Temos que despertar em nós essa nova maneira de viver. Isso não são meras palavras ou ideologias: temos de criar uma nova maneira de viver, onde, como entes humanos autônomos, não estejamos neste constante estado de conflito e insatisfação e onde cada um seja um individuo realmente livre. Porque somente nessa liberdade podemos estabelecer unidade em nós mesmos e consequentemente em nossa vida de relação. Portanto, precisamos estar inventariando sempre e rompendo as redes de condicionamentos que permitimos tecer em volta de nós, rede essa que nos impede de viver a vida de relação com toda sua intensidade. Caso contrário, continuaremos eternos prisioneiros desse atual modo de vida que produz tanta ansiedade, tristeza e isolamento.

É preciso despertar para essa inteligência capaz de nos tornar indivíduos livres, cheios de vitalidade, energia, clareza e intensidade. Isso pode parecer muito difícil, mas, a menos que esse despertar ocorra, continuaremos criando um mundo de relações disfuncionais, superficiais, geradoras de conflito e aflições sem fim.

Portanto, temos que devotar nossa mente e coração no trabalho de inventariar nossos condicionamentos e influências, para que, na própria percepção, os mesmos caiam por terra, sem esforço algum de nossa parte. Só podemos agir totalmente quando vemos nossos condicionamentos em seu todo, e não apenas fragmentos dos mesmos. Compete-nos descobrir por uma nova maneira de viver e de agir, que em sua essência traz a capacidade de amar. E, para esse descobrimento, não podemos fazer uso dos velhos instrumentos que possuímos: o pensamento, as emoções e a influência condicionadora da tradição. Temos manejado e utilizado por anos esses instrumentos e tudo o que conseguimos é o atual estado de confusão em que se apresentam as nossas vidas. Precisamos de uma nova mentalidade, depurada das experiências do passado. Em outras palavras: nossa crise atual não se encontra em nosso mundo de relações, mas em nossa consciência condicionada. A crise está na própria mente, na nossa mente, na nossa consciência. E, a menos que saibamos, por meio da meditação não organizada, como fazer frente a essa crise existencial, a esse desafio diário, tornaremos – consciente ou inconscientemente – cada vez mais confusos, aflitos, adictos dessa imensa angústia em nós já existente.

http://pensarcompulsivo.blogspot.com   

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