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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

MÍSTICA DOS DOZE PASSOS

Floresta Passos Natureza Natural - Foto gratuita no Pixabay  

SEXTO PASSO - Prontificamo-nos inteiramente a exercitar 
A observação não-cumulativa.

Em geral não temos seriedade, pois levamos uma vida superficial, uma vida de interesses, prazeres e proveitos imediatos. Quando temos o preenchimento daquilo que buscamos, desejamos ir ainda mais longe, e começamos a investigar, a indagar, a buscar por coisas que nos prometam por maiores satisfações. A pessoa séria não se interessa apenas pelas exigências e prazeres imediatos da vida, mas também pela solução de todos os problemas humanos, não numa data futura, porém imediatamente, aqui e agora. A pessoa séria vive o só por hoje; não deixa o tempo psicológico interferir. A pessoa que quer investigar e ter sua existência repleta de vida não se deixa distrair por influência de espécie alguma. Mas a grande maioria de nós não são suficientemente sérios. Não somos sérios porque, em primeiro lugar não sabemos o que precisamos fazer, não sabemos como nos aplicar quando estamos sobre pressão, quando estamos tensos, e quando surgem os problemas e as ansiedades da vida de relação. Quando estes sentimentos ocorrem acabamos inseguros, tensos e quase sempre saímos às pressas atrás de alguém a quem julgamos ser mais experiente e que possa nos dizer com exatidão o modo pelo qual podemos aplacar o sofrimento causado por tais sentimentos. Não nos sentimos prontos para nos sentarmos a sós com nossos próprios sentimentos, não nos prontificamos a observá-los de forma amorosa, isento de qualquer forma de escolha, comparação ou julgamento. Não somos sérios, porque, íntima e profundamente, temos medo. Não percebemos o fato de que ninguém pode nos dar certeza; ninguém pode nos dar a garantia de uma direção correta, porque, infelizmente, não há nenhuma direção para se seguir. A vida de relação é como um rio que, em seu movimento constante, salta sobre pedras, vence precipícios; ela está sempre em movimento. No mesmo instante em que desejamos segurança, garantia, certeza, esse próprio desejo gera o medo.
 
Se formos realmente sérios e inventariarmos nossos pensamentos e sentimentos, veremos que sempre estamos em busca de garantias. Estamos sempre em busca de uma autoridade que tenha investigado a matéria mais profundamente, que tenha “mais tempo de caminhada” e que nos diga o que devemos fazer, que nos mostre, num mapa imaginário, as estradas, as pontes, as cataratas, as pedras e os pontos perigosos a serem desviados. Condicionados por tantos e tantos anos, pensamos que não possuímos a inteligência ou a capacidade necessária para, por nós mesmos, exercitar essa observação amorosa, capaz de descobrir, de trazer à luz, não só os nossos problemas conscientes, mas também os inconscientes, aqueles problemas profundamente ocultos, que nos atormentam a vida. Estamos sempre à procura de alguém ou de um método, sempre em busca de mais perfeição, em busca do que é correto fazer. Esse próprio desejo é o criador da autoridade psicológica, é o criador de nossas dependências doentias que mantém encoberta a ação do despertar da inteligência criativa. Se formos sérios e destemidos, veremos a verdade contida nestes fatos. Estamos sempre prontos a seguir qualquer um que alegue "saber mais", que alegue poder nos dirigir, nos guiar. A autoridade psicológica, criada pela nossa incerteza, nos mantém pessoas dependentes, o que, por sua vez, gera ainda mais medo. Se formos sérios e honestos, não será preciso um exaustivo inventário para constatarmos que muitos de nós estamos presos neste círculo vicioso da dependência psicológica, por busca de segurança. Não sabemos o que fazer com a nossa vida de relação e por isso, nos submetemos a alguém e essa própria submissão gera medo. Esta é a maneira pela qual muito de nós estamos vivendo. Sentimo-nos muito mais seguros diante de um psicólogo, um terapeuta, um sacerdote, um dogma, um método, uma crença ou algo que represente uma causa. A sós, nos sentimos inseguros, desprovidos de certa garantia. Não aprendemos a confiar em nós mesmos; desde a mais tenra idade, muitos de nós temos sido condicionados de que não temos a capacidade de prover nossas necessidades, tanto físicas como emocionais. Assim, nos submetemos a certas autoridades psicológicas; à autoridade de uma idéia, de um método, de uma pessoa, de um dogma, ou de uma organização. Nesse próprio processo gera-se o medo. Por não termos a experiência direta da prática de uma observação amorosa de nós mesmos, não acreditamos possuir a inteligência necessária para compreender o inteiro processo da vida de relação, sem a doentia necessidade de dependermos psicologicamente de alguém. Não acreditamos ter a possibilidade de psicologicamente não depender de ninguém, de nenhum livro, de nenhuma filosofia, nenhum terapeuta, nenhum psicólogo, nenhum instrutor ou de alguma concepção de algo superior fora de nós mesmos que possa nos aliviar dos problemas que enfrentamos pelo fato de não sabermos usar nosso pensamento à luz da inteligência criativa. Não acreditamos na possibilidade de descobrir uma nova maneira de viver, por nós mesmos, à medida que vamos vivendo no espelho das relações e com isso, alimentamos nossa imaturidade emocional, continuando sempre como pessoas psicologicamente dependentes, sendo sempre seguidores, medrosos, neuróticos, compulsivos, e por isso, adictos da incerteza e da escuridão.
 
Por não termos aprendido a confiar em nós mesmos, nunca nos perguntamos se é possível, por nós mesmos, encontrar um modo de ter clareza. Por esse fato, nunca chegamos a ver e agir, de um modo que nunca haja confusão e que a nossa ação nunca gere mais sofrimentos, mais conflitos e escuridão. Muitos de nós não acreditamos que seja possível observar amorosamente a si mesmo e a seus problemas com tanta clareza que sobre cada problema não paire a mais leve sombra de dúvida, e o problema, por conseguinte, seja resolvido totalmente. Mas, se queremos descobrir um modo de vida, sereno, equilibrado e feliz precisamos nos prontificar a sentamos a sós com nossos próprios pensamentos e sentimentos. Precisamos nos sentar com nós mesmos para compreender essa nossa doentia necessidade de certeza, de garantia, e de sermos estimulados, como crianças, por alguém que nos diga: "Parabéns, você está indo muito bem! Este é o caminho certo; continue por ele". Se queremos atingir o estado que separa os adultos dos adolescentes precisamos nos prontificar a largar todas as nossas muletas psicológicas. Só então será possível saber por experiência própria o que vem a ser a verdadeira liberdade do espírito humano. Sem esta prontificação, continuaremos como crianças em corpos de adultos, sempre psicologicamente dependentes e incapacitados de resolver de modo inteligente os constantes desafios que surgem com a vida de relação. Sempre haverá problemas, e cada problema significa "desafio - e reação". A vida de relação está sempre a nos lançar desafios, e quando a reação ao desafio é inadequada, incompleta, dessa reação inadequada resultam os problemas com suas dores e mais variadas formas de sugestões de fugas emocionais. Um problema implica alguma coisa que nos é lançada, uma dificuldade que subitamente nos é apresentada. Se não somos capazes de reagir a esse desafio totalmente, completamente, com todo o nosso ser, nossos nervos, nosso cérebro, nossa mente, nosso coração, sem depender psicologicamente de nada e ninguém, então dessa reação inadequada, insuficiente, surgem mais e mais problemas. Durante toda a vida fomos exercitados e educados para não reagir totalmente. Só reagimos fragmentariamente. Em certas ocasiões, quando não estamos pensando de forma condicionada, reagimos com tanta facilidade e naturalidade que nenhum problema existe. Mas, com a maioria de nós acontece que os problemas estão surgindo constantemente por não despertarmos a inteligência criativa que surge pela prática da observação amorosa e isenta de escolhas.
 
Se queremos ser pessoas maduras, integras, não fragmentadas, se queremos vivenciar um estado de unidade interna e bem-estar comum, precisamos descobrir, por nós mesmos, se é possível reagir tão livremente e sem nenhuma resistência, tão completamente e sem nenhum motivo, que nenhum problema venha nos torturar a mente. Se formos capazes de reagir dessa maneira, a inteligência criativa despertará em nós e o “céu se abrirá para nós”. Se praticarmos as sugestões contidas neste PASSO, não será necessário buscar por palavras de garantia para descrever o que acontece. Não mais seremos entes humanos torturados, psicologicamente dependentes e emocionalmente deformados.

Se quisermos buscar por uma definição que resuma a essência do SEXTO PASSO, seguramente podemos nos contentar com esta: este é o PASSO que separa os adultos dos adolescentes.

http://pensarcompulsivo.blogspot.com

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