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sábado, 17 de outubro de 2020


 VIDA PASSAGEIRA

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Você, que está lendo, eu, que estou escrevendo, e os tantos bilhões de pessoas que hoje estão lutando pela vida só existiremos daqui a cem anos como lembranças. Grandes e pequenos serão sepultados sob a relva ou lançados às chamas da cremação. Nós, tão ciosos de nosso café da manhã, almoço e jantar, não mais engoliremos nem falaremos. Nossos lábios ficarão selados para sempre.

Nós, que gostamos de ouvir lisonjas, o murmúrio dos riachos, o doce encanto das melodias e as palavras familiares de nossos entes queridos, um dia não escutaremos mais som algum desta terra cheia de cuidados.

As pétalas e botões de que você tanto gosta, tempo virá em que mandarão o mensageiro da deliciosa fragrância bater à porta de seu olfato amante dos perfumes, mas as portas desse sentido já não abrirão. Você não mais será enleado pelo aroma terreno da Natureza.

Dia virá em que todas as coisas belas estacarão, mudas, diante dos portões da sabedoria de seu olhar de lótus, procurando penetrar no recinto de sua percepção; você, porém, já não será capaz de detectar a matéria imperfeita.

O recinto da sabedoria ficará inacessível. O cérebro que controlava seus 27 trilhões de células e a fábrica de seu corpo não mais o dirigirão. O toque suave da brisa e a tepidez do sol deixarão de acariciá-lo, pois seu corpo estará inerte e sem vida.

Dia virá em que não conseguirá ver, agitar as mãos ou pés, ter bons ou maus pensamentos, experimentar o sucesso ou o fracasso, adquirir sabedoria ou ignorância.

Uma vez que tudo isso acabará, por que acalentar o desejo de conforto permanente para um corpo destinado a dissolver-se? O calor da morte logo derreterá esses átomos corporais congelados. Alguma vez já se deu conta de que só tem esta vida e depois irá juntar-se às sombras de milhões de almas que também pensaram, viveram, riram e morreram cheias de esperanças irrealizadas?

A reencarnação é sem dúvida um fato, mas você já pensou que nunca terá de novo o mesmo corpo, a mesma mente, os amigos sob a mesma forma ou o mesmo modo de viver e morrer desta existência?

Lembre-se, você precisa desempenhar um papel durante alguns anos de tristeza e riso na tela do tempo, e depois o filme desta vida será engavetado para nunca ser visto de novo – embora vá ter uma nova versão na tela de outra encarnação.

Se toda alma despirá a roupa barata da carne para vestir os trajes luminosos da imortalidade, para que chorar? Se santos confiantes na vida eterna e homenzinhos que tremem diante da morte terão de partir, de que vale temer a hora fatal? Trata-se de uma experiência universal a que ninguém escapa.

Pense no mistério que é a vida! Origina-se do desconhecido e no desconhecido se dilui. Pense no mistério que é a morte! Devora o trabalhador e o indolente, transformando-os de novo no éter e nos elementos. Pense no medo que todos têm da morte, a qual, entretanto, vem apenas para dar paz e alívio quando o fardo da existência se torna pesado demais com seu cortejo de dores, enfermidades e problemas aparentemente insolúveis.

Para que desperdiçar o tesouro de sua sabedoria tentando dar ao corpo essas gratificações incertas, perecíveis? Acorde! Procure colher a safra da imortalidade, que não perece nunca, e a bem-aventurança sempre renovada do solo do corpo. Você nunca encontrará satisfação duradoura num corpo que se dissolve lentamente. Jamais extrairá o mel da felicidade divina da dura rocha dos prazeres sensuais.

A satisfação perene flui sem cessar para o cântaro de sua vida quando você espreme a colmeia da meditação e da paz com as mãos fortes e incansáveis da vontade, concentrando-se cada vez mais profundamente.

De que vale você se intoxicar com desejos materiais durante o sono da ignorância, semelhante ao da morte? Sua atual atividade no mundo nada mais é que uma caminhada em meio ao sonho da ilusão em pleno sono da ignorância. De que vale você estar tão seguro de si mesmo a ponto de devotar todo o tempo a fazer fortuna, sabendo que a deixará para trás num instante, ao chamado da morte? Os bens materiais, ninguém o ignora, são muito pesados para que você os leve ao plano astral, quando empreender a jornada rumo à imensidade do Além. Não será melhor nos prepararmos desde já para nosso último dia na Terra, ocasião em que teremos de renunciar a tudo aquilo a que éramos apegados?

Não sugiro que você seja cético e deixe de gozar os prazeres do mundo. Digo apenas que não deve apegar-se a coisas cuja perda obrigatória poderá lhe causar agonia mental. Não lamente a separação dos bens da Terra quando sua roupagem corpórea for posta de lado, pois terá depois coisas bem melhores. Receberá de novo, das mãos do Pai, Deus, tudo quanto amou e perdeu. Ele nos tira o que possuímos para não ficarmos presos ao mundo, esquecidos de nossa verdadeira condição imortal.

Exercite-se na meditação e nos tesouros das percepções intuitivas, cultive a paz e o júbilo sempre renovados, que lhe serão de muita valia em sua derradeira jornada. Esqueça as ilusões de hoje. Prepare-se para a morte ajustando cotidianamente suas contas com Deus. Ao final da vereda, diante dos portais do último dia, será convidado a entrar no Reino do Pai e lá permanecer para sempre."

Paramahansa Yogananda
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