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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 ALGUMAS TÉCNICAS PARA FAVORECER A COMUNHÃO COM DEUS

Comunhão Archives - Espaco Gospel - Estudos Bíblicos, Mensagens Diarias,  Pregações, Devocionais, Palavra de Deus, Versículos, bíblia Primeira Parte

O autor deste livro tem plena consciência do perigo que vai nesta palavra “técnica” – o perigo de uma interpretação às avessas. 

Existem numerosas “escolas iniciáticas” que prometem a seus adeptos um encontro com Deus em troca de um “curso de iniciação” em 36 ou mais lições. Fazem ver que, por meio de certos exercícios físicos e mentais, pode o homem adquirir um conhecimento direto e imediato de Deus e do mundo espiritual. 

Não falta mesmo quem apregoe certas drogas para ter “experiência mística”.  

Em face disso, prevenimos o leitor de que não apregoamos, nas páginas deste livro, como em parte alguma, uma determinada técnica, algum método infalível por meio do qual o profano de hoje venha a ser o iniciado de amanhã. Nenhuma postura corpórea, nenhum método de respiração, nenhum regime alimentar, nenhuma acrobacia mental pode introduzir o homem, sem mais ou menos, no reino de Deus. Se tal técnica existisse, poderia alguém entrar no mundo da Divindade de contrabando, isto é, por meio de algo que ele fizesse, quando, na realidade, só aquilo que o homem é o pode introduzir nesse universo divino. Rabi Nicodemos, naquele memorável colóquio noturno com Jesus, quis saber o que o homem devia fazer para entrar no reino de Deus,mas o grande iniciado de Nazaré lhe faz ver que o homem deve ser algo inteiramente novo e inédito, deve “renascer pelo espírito”, ou, no dizer do iniciado de Tarso, deve “despojar-se do homem velho” e tornar-se uma “nova creatura em Cristo”. 

A vida em Deus não é alguma continuação, mas é um novo início; não é o prosseguimento no plano horizontal do “homem velho” de ontem, mas é a mudança para a linha vertical da “nova creatura” de hoje; é a renúncia definitiva do não do pequeno Ego humano e a jubilosa afirmação do sim do grande Eu divino. A vida espiritual não consiste na adição e soma total de todos os zeros, pequenos e grandes (000.000), da vida profana; mas, sim, na introdução de um fator positivo (1) colocado à frente de todas essas pequenas e grandes vacuidades: 1.000.000. Todas as vacuidades profanas de ontem recebem plenitude desse fator espiritual de hoje: mas esse “1”, que redime os zeros da sua desoladora vacuidade, não é filho de algum zero, nem da soma total de todos os zeros, pequenos ou grandes, uma vez que nenhum dos zeros contém elemento positivo, nem mesmo uma fração infinitesimal desse fator positivo “1”. A negatividade estéril dos numerosos zeros é redimida pela fecunda positividade do único “1”. Nenhum desses zeros pode gabar-se de “auto- redenção”, porque zero não redime zero, negativo não redime negativo. Todo zero deve reconhecer “alo-redenção”, redenção por algo ou alguém que não seja esse próprio zero. É essa a grande tese que São Paulo defende com tanto brilho e entusiasmo nas suas epístolas eternas aos gálatas e aos romanos, como, aliás, por toda parte: a redenção do homem não vem do homem negativo (pecador), mas do homem positivo (Cristo); não há ego-redenção, há teo-redenção. 

Ora, qualquer espécie de técnica, por mais sagazmente excogitada e mais refinadamente executada, é, em última análise, obra humana, pertinente ao plano negativo dos zeros. É essa a razão última por que nenhuma técnica, física ou mental, pode fazer de um profano um iniciado, de um “homem velho” uma “nova creatura em Cristo”. Milhares de homens vivem na ilusão fatal de haverem ingressado no reino de Deus pelo fato de terem adquirido estupenda mestria e facilidade no terreno da técnica física e mental, a ponto de realizarem verdadeiros “milagres” ou “portentos”, como, segundo as Escrituras Sagradas, os opera o próprio “príncipe das trevas”, a mais alta personificação do poder mental. Lúcifer (que quer dizer porta-luz) é inteligência sem espírito, e, quando nega a realidade do espírito, se torna Satã (que quer dizer adversário). Quem domina a esfera físico-mental pode realizar qualquer “milagre”, embora seja completamente profano no mundo da espiritualidade.  

A única entrada real e legítima no reino de Deus é pela porta da frente, isto é, pelo espírito de Deus, que é amor. É esse o “renascimento pelo espírito, que confere ao homem um novo “ser”, ou seja, uma “vida” nova. Pode o mais profano dos homens praticar certas técnicas físico-mentais; pode mesmo atingir ao plano misterioso de uma estupenda força mágica, a ponto de deslumbrar os inexperientes e incautos. Pode o “príncipe das trevas” transformar-se em “anjo de luz”, sem por isso deixar de ser o que é intrinsecamente; porquanto ninguém é internamente transformado pelo que faz externamente, mas unicamente pelo que é internamente. O profano não deixa de ser profano pelo fato de se revestir externamente do invólucro do iniciado; a única coisa que o pode redimir da sua profanidade é a definitiva e radical abolição do seu velho egoísmo, e a aceitação real de um amor universal. 

Entretanto, embora nenhuma técnica físico-mental possa ser causa de espiritualização, não negamos de forma alguma que certas técnicas dessa natureza possam influir beneficamente na iniciação espiritual, como condições predisponentes. Pois é tão íntima a união entre o nosso Ego físico-mental, por um lado, e o nosso Eu espiritual, por outro, que dificilmente este consegue funcionar em completa independência daquele. Disso sabiam e sabem todos os mestres da vida espiritual. E por isso todos eles aconselham e recomendam aos iniciados certos adminículos físicos e mentais, cuja função primária é remover obstáculos, desobstruir canais, aplainar caminhos, purificar o Ego de certas impurezas que impedem o advento do espírito de Deus. Todos esses expedientes, porém, repetimos, têm apenas uma função negativa e preliminar, não podendo de forma alguma substituir o fator propriamente espiritual e divino.  

A evolução sensitiva do homem remonta a milhões de anos; por meio dela é ele um membro do mundo orgânico vegetativo-animal. E é essa a razão por que as coisas sensitivas exercem sobre o homem tão tremendo poder que dificilmente ele consegue subordinar a sensitividade a fatores superiores do seu ser. 

Bem mais recente é no homem a evolução intelectiva, a qual, no período anterior, se achava em estado latente. Do fato dessa latência multimilenar concluíram os ignorantes que, em tempos pré-históricos, o homem tinha sido simples animal, sem inteligência. A inteligência existia no homem sensitivo, assim como a árvore existe na semente, mas em forma potencial, e não atualizada como hoje em dia. 

Semelhantemente, existe também no homem sensitivo-intelectivo de hoje o homem espiritual de amanhã, embora em muitos essa espiritualidade ainda esteja, total ou parcialmente, latente, como que entregue a um sono profundo e inconsciente. É a essa espiritualidade latente ou potencial que Jesus alude quando afirma que “o reino de Deus está dentro de vós”, ou quando o escritor cristão cartaginês Tertuliano, do segundo século, diz que “a alma humana é cristã por natureza”, ou quando a Bíblia afirma constantemente que a alma humana é “imagem e semelhança de Deus”, “participante da natureza divina”, de “estirpe divina”, “filha de Deus”, e que o corpo do homem é o “templo do espírito santo” em que habita o espírito de Deus. 

Ora, para que o nosso Eu espiritual possa despertar do sono da sua latência, é necessário que o cerquemos de circunstâncias favoráveis à sua evolução e ao seu crescimento progressivo – assim como damos a uma sementinha o ambiente idôneo para que a sua vida potencial dormente possa despertar para uma vida atual de plena vigília. Sem o competente solo e sem luz e calor solar, nenhuma semente pode brotar. Do mesmo modo, a vida espiritual da alma não evolve se não a cercamos dos requisitos necessários para essa evolução. 

A criação de um ambiente físico-mental é, pois, um requisito externo necessário para que o germe da nossa vida espiritual possa brotar e desenvolver-se normalmente.

O homem plenamente espiritualizado percebe o mundo divino com a mesma facilidade e espontânea alegria com que o homem sensitivo percebe e goza o mundo material; com a mesma espontaneidade com que o homem intelectual se move no vasto mundo das realidades intelectuais e científicas. Para o homem espiritual, o mundo físico-mental recuou para a extrema periferia das realidades, ao mesmo tempo que o mundo da realidade espiritual ocupa o centro, funcionando como um sol, em torno do qual giram todos os planetas e planetóides do universo físico e mental. E o homem espiritual sabe que isso é a verdade, porque conhece a verdade, e a verdade o libertou da inverdade.

HUBERTO ROHDEN - Em comunhão com Deus - Colóquios com os homens - Solilóquios com Deus  

UNIVERSALISMO

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