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quarta-feira, 28 de outubro de 2020


 ALGUMAS TÉCNICAS PARA FAVORECER A COMUNHÃO COM DEUS

O exercício da contemplação como prática meditativa - Eu Sem Fronteiras Parte III - Lugar e tempo  

É necessário que o homem escolha, para a meditação, tempo e lugar apropriados. Seria erro funesto, por exemplo, querer dedicar a essa ocupação importantíssima a pior meia hora das vinte e quatro horas do dia; talvez o período depois dos trabalhos profissionais, quando corpo, mente e alma estão derreados de fadiga e suspiram por um pouco de repouso. É necessário reservar para a comunhão com Deus a melhor meia hora, ou hora, do dia, quando todas as faculdades do homem estejam em perfeita calma e equilíbrio; porquanto a meditação bem feita não é algum doce e indolente devaneio, semi-sonâmbulo, mas é, pelo menos no princípio, um trabalho pesado, que reclama todas as energias do nosso ser.

Nem convém meditar num lugar onde se possa ser facilmente perturbado. Quem não encontrar em casa um cantinho sossegado e não-devassável fará bem em procurá-lo fora de casa, em plena natureza, ou então na doce penumbra de alguma igreja aberta, onde, à sombra de uma coluna, encontrará facilmente o ambiente desejado e seguro contra incursões indébitas.
 
Há, nas vinte e quatro horas do dia, dois períodos especialmente favoráveis à meditação: um de manhã e outro à noite.
 
Para muitos, a melhor hora para entrar numa profunda comunhão com Deus é a primeira parte do dia, que se segue imediatamente ao despertar, precedendo ou coincidindo com o nascer do sol. Nesse tempo, o corpo se acha bem descansado, e o espírito é, por assim dizer, carta branca, puro, virgem, ainda não repleto do ruidoso tropel de sentimentos e pensamentos que durante o dia o invadirá, direta ou indiretamente. Acaba a mente de voltar de mundos longínquos; ressuscitou, por assim dizer, do túmulo do inconsciente ou subconsciente em que esteve como que sepulta por várias horas. É grande a tranquilidade física, mental e espiritual, nessa hora matutina.
 
Além disso, nessa hora solene, o ambiente está livre de disturbantes vibrações, não somente físicas, senão também mentais, porque o hemisfério ainda não acordou plenamente. Os que costumam levantar tarde, naturalmente, perdem essa grande vantagem.
 
Também a luz solar é mais tranquila ao romper as trevas, do que mais tarde, em plena radiação.
 
Outros há que preferem fazer a sua meditação ao anoitecer, depois dos trabalhos diários, ou ainda na hora que precede imediatamente o sono. Nesses casos, é sumamente recomendável que, antes de iniciarem a concentração espiritual, tomem um banho ou chuveiro, para acalmar o organismo e regular as vibrações dos nervos. Verão que essa prática é notavelmente vantajosa para a meditação noturna. Em qualquer hipótese, não convém fazer meditação em estado de cansaço ou sonolência, porque a concentração espiritual, longe de ser uma espécie de semiconsciente devaneio, como dissemos, é trabalho pesado e sério e exige todas as forças, físicas, mentais e espirituais, do homem.
 
A vantagem principal da meditação feita pouco antes de adormecer está, provavelmente, no fato de que a consciência espiritual com que adormecemos persiste, em parte, durante o sono, prolonga-se, aprofunda-se, invade as zonas inconscientes do nosso ser, fecundando beneficamente o nosso Eu. Não raro, o homem acorda com os mesmos pensamentos, ou, digamos, a mesma consciência espiritual com que adormeceu, e isso é sumamente vantajoso para sua evolução rumo à consciência universal. Grandes revelações têm sido feitas, como a própria Bíblia atesta, durante o sono, porque a alma não conhece sono; o que dorme são apenas os sentidos e, parcialmente, a inteligência.
 
A treva e a semiluz são, geralmente, propícias à meditação. Luz ligeiramente azulada ou esverdeada é preferível a outras tonalidades.
 
Aos principiantes, convém ouvir música concentrativa durante a meditação, preferivelmente à surdina, e sem palavras. Certas vibrações audíveis, quando sintonizadas com as vibrações espirituais, facilitam a entrada e permanência nesse mundo espiritual, que é essencialmente beleza e harmonia.
 
A meditação, no princípio consciente, passa a ser superconsciente, quando atinge as alturas da contemplação, que é o início do samadhi ou êxtase (ekstasis quer dizer “posição fora”, isto é, um estado de consciência para além da consciência habitual). E nesse estado superconsciente entra a alma em solilóquio consigo mesma, passando, não raro, a um colóquio ou diálogo com o Espírito Cósmico (Deus), cuja presença é deliciosamente sentida e saboreada nessa zona de inefável beatitude.
 
O retorno à consciência habitual não significa um total esquecimento da experiência mística do êxtase; pelo contrário, a luz e força hauridas no samadhi penetram misteriosamente toda a vida profissional do homem, transformando-o beneficamente em todos os setores.
 
Em suma: é necessário que cada um descubra o que melhor condiga com o seu gênio individual e se aperfeiçoe nesse caminho. Mas não deixe de ser absolutamente sincero e honesto consigo mesmo, nada fazendo por simples complacência; vá sempre, inexoravelmente, em busca da verdade libertadora.

HUBERTO ROHDEN - Em comunhão com Deus - Colóquios com os homens - Solilóquios com Deus

UNIVERSALISMO

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