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domingo, 24 de maio de 2020

O     C  A  M  I  N  H  O

Budismo, um estilo de vida em busca da felicidade

Primeira Parte

A maioria das pessoas está convencida de que existe um poder divino de algum tipo operando em assuntos humanos, mas elas não têm certeza do que é e nem sabem como trazer essa Presença Divina e Poder em sua experiência diária. Houve tempo em que muitas dessas pessoas se contentavam em acreditar em um Deus num céu remoto, o qual encontrariam somente depois da morte. Nestes tempos práticos, entretanto, são poucos os satisfeitos com esse conceito limitado de Deus.

O mundo está cheio de discórdia. A questão surge repetidamente: por que, se há mesmo um Deus, Ele permite doença, guerra, fome e desastre? Como podem todos esses males existir, se Deus é bom, se Deus é vida, se Deus é amor? Como pode haver esse tipo de Deus e os horrores de experiência humana? Pessoas de todos os tempos tentaram resolver esse enigma, mas não há solução; não há nenhuma resposta, exceto que o mundo, na verdade, não conhece Deus. Nós nunca podemos, nem por um momento, acreditar que, se as pessoas deste mundo tivessem uma percepção de Deus, elas teriam também discórdia e falta de harmonia.

A discórdia e a desarmonia entram em nossa vida por causa da nossa ignorância de Deus. Conforme agora vamos nos instruindo sobre Ele, nós encontramos o segredo da existência harmoniosa. Pessoas em todos os tempos procuraram liberdade, paz e abundância; mas a sua busca foi principalmente através da atividade febril da mente humana. Prazer e satisfação foram artificialmente criados; e por causa de sua artificialidade, eles não são permanentes e nem reais. Vivendo no nível da mente, deve haver uma rodada contínua de novos prazeres, novos rostos e novas cenas. Raramente há um momento de alegria verdadeira, nem há períodos de descanso e relaxamento.

Liberdade, paz e a abundância não dependem de circunstâncias ou condições. Há homens que foram livres mesmo sob correntes, livres sob escravidão e opressão, que encontraram a paz no meio da guerra, que sobreviveram às inundações e à fome, que prosperaram em períodos de depressão e pânico. Quando a Alma do homem é livre, leva-o a atravessar os Mares Vermelhos e desertos, em jornada para a Terra Prometida da paz espiritual.

A liberdade é uma condição da alma. Voltando-nos para o reino do nosso Eu interior, encontramos o reino do poder divino no mundo exterior. Quando procuramos a paz interior, encontramos harmonia fora. Nós alcançamos a profundidade da Alma e ela assume a nossa existência, fornecendo atividade e renovação da vida, paz e serenidade jamais sonhadas. Nós então alcançamos a liberdade da Alma, a liberdade pela Graça.

Ao longo dos tempos sempre houve homens e mulheres espiritualmente dotados, místicos do mundo - que conheceram a União Consciente com Deus e que trouxeram a Presença e o Poder de Deus em sua experiência real. Sempre houve um Moisés, um Elias, um Jesus, um João ou um Paulo, mas nenhum deles teve muitos seguidores. Nenhum deles era amplamente compreendido ou o seu ensino amplamente praticado, ao menos durante seu próprio tempo ou por anos seguintes. Esses mestres espirituais dedicaram suas vidas a nos dar a Verdade que nos trouxe ao nosso atual estado de consciência.

A Luz que temos hoje é o resultado da Luz que desceu a nós através de todos os tempos. Há muitos professores espirituais que não deixaram qualquer registro e sobre os quais não temos conhecimento; mas há muitos a quem podemos identificar: Moisés, Elias, Jesus, João e Paulo, mencionados acima; Eckhart, Boehme, Fox e outros místicos do décimo segundo ao décimo sétimo séculos; bem como os grandes líderes e reveladores dos anos mais recentes. Não somente uma pessoa deu a Luz ao mundo, mas cada um desses grandes profetas espirituais tem sido um raio de Luz contribuindo para toda a Luz.

Esses grandes líderes espirituais estão todos de acordo sobre os princípios básicos e ensinamentos com os quais a maioria de nós está familiarizada: "amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração; farás aos outros o mesmo que gostaria que os outros fizessem a ti; não matarás; não roubarás; não cometerás adultério".

Eles não ensinaram que todos nós somos da mesma nacionalidade, cor ou credo; eles ensinaram o princípio do amor e cooperação. Se este princípio de amor e cooperação fossem realmente praticados e vividos pelos milhões de pessoas que aceitam os ensinamentos do Cristo, a guerra seria uma impossibilidade. É um paradoxo que, milhares de anos depois destas revelações da verdade, a guerra e a rivalidade continuam a ser a força motivadora do mundo.

Com este vasto reservatório de sabedoria mística disponível, era de se esperar que, depois de todos esses anos, o mundo estaria desfrutando de liberdade e abundância. Mas os princípios destes ensinamentos nem sempre foram praticados assim como eles foram revelados; em vez disso, eles foram cristalizados em sua forma, e gradualmente foram adulterados, às vezes afundando para o nível mais baixo do pensamento humano, em vez de se elevarem às alturas a que estas verdades, em última análise, deveriam conduzir.

O princípio original ensinado pelo Mestre Cristão revelou que o Reino de Deus, a Presença e Poder de Deus, estão dentro de nós. Jesus chamou esta Presença e Poder de "Pai", "o Pai que habita em mim, Ele faz as obras". Paulo disse em outros termos: "Tudo posso em Cristo que me fortalece ".

Seja por qual nome seja chamado, Deus, o Pai, ou o Cristo, deve ser encontrado interiormente. O Reino de Deus está dentro de nós. O todo da Divindade é encontrado dentro de nosso ser individual, não em montanhas sagradas nem no templo em Jerusalém, mas no meio de nós. Se realmente acreditássemos nessa sublime sabedoria, deveríamos estar dispostos a sair do mundo por uns tempos, até o momento em que poderíamos alcançar, tocar e responder ao Pai interior. Quando começamos a reconhecer nosso bem como dom de Deus, nós deixamos o raciocínio, a especulação, o planejamento e deixamos a mente relaxar. Nós ouvimos a voz silenciosa e suave, sempre olhando para o Anjo do Senhor, o Cristo, o Pai dentro. Ele jamais nos deixará ou abandonará. É nossa provisão permanente.

Esse ouvir é a arte da meditação, e pela sua aprendizagem, chegamos a um ponto de transição onde a verdade sai da mente e entra no coração. Em outras palavras, não há mais apenas um conhecimento intelectual sobre a verdade, mas a verdade se torna uma coisa viva dentro de nosso ser.

Ilustremos: todo mundo conhece a palavra "Deus", mas são poucas as pessoas no mundo que conhecem Deus. Para a maioria de nós, Deus permaneceu como uma palavra, um termo, um poder fora de nós mesmos. Deus, Ele mesmo, não se torna uma realidade viva, exceto para as poucas pessoas que são conhecidas como místicos.

A meditação nos conduz a uma experiência em que sabemos que existe um Deus. Isso nos leva a um ponto em que estamos tão convencidos da realidade de Deus quanto estamos sobre o fato de estarmos aqui lendo este livro. Se nesta noite, todos os jornais dos Estados Unidos trouxessem manchetes dizendo que não estaríamos neste lugar e neste momento em particular, este anúncio não alteraria nosso conhecimento do fato de realmente estarmos aqui.

Deus é tanto uma realidade, tanto uma presença, tanto um poder, uma entidade e individualidade quanto nós somos, e Deus pode ser tão bem conhecido por nós quanto podemos nos conhecer a nós mesmos ou uns aos outros. A partir do momento em que conhecemos a Deus por experiência, a vida muda para nós, porque há um arrefecimento de nosso ser pessoal. Surge um sentimento de algo diferente de nós mesmos operando em nós, através de nós e para nós, algo maior que nós mesmos.

Esta tem sido a experiência de todos os místicos. Eles realmente conheceram Deus; eles sentiram a Presença de Deus e Deus tornou-se um poder ativo em suas vidas. Não há muitas dessas pessoas no mundo. Se houvesse apenas mais alguns que realmente conhecessem Deus, talvez esses poucos fossem suficientes para salvar o mundo. Segundo as Escrituras, dez homens justos salvariam uma cidade. O conhecimento consciente dos místicos da Presença e do Poder de Deus é produto de experiência. Não é mera conversa sobre a disponibilidade de Deus, não é apenas uma afirmação ou declaração, não é algo banal ou uma frase feita: é um fato vivo.

Nossa busca por Deus, nossa busca pelo Reino de Deus é uma evidência de nossa própria fé na Presença e Poder de Deus, mesmo sem termos ainda conhecimento dele através de experiência real. Aqueles que não estão no caminho espiritual não têm essa confiança. Somente aqueles que alcançaram uma convicção interna de que existe um Deus é que são levados à busca de Deus. Esses buscadores podem não necessariamente ter alcançado a percepção de Deus, mas pelo menos existe essa certeza interior: "este é o caminho, há um Deus".

Então a jornada começa, e começa por meios diferentes. Como isso começa depende da nossa bagagem; depende de onde nós estamos num dado momento e o que acontece em nosso mundo particular. Há pessoas cuja busca começou em igrejas ortodoxas e algumas delas encontraram a resposta lá. Elas descobriram o Reino dentro delas mesmas, mas continuaram trabalhando na igreja como uma forma de serviço, e às vezes como uma forma de gratidão. Alguns encontraram Deus através de uma abordagem intelectual, e alguns encontraram um caminho puramente espiritual. Outros ainda vieram através de ensinamentos que são uma combinação do intelectual e do espiritual. Existem aqueles que vieram para o caminho espiritual através de livros, e há aqueles que vieram através de professores vivos, enquanto outros ainda fizeram contato com santos espirituais e videntes que nunca morreram.


Joel Goldsmith, trecho do livro "The Art of Meditation"
Tradução de Giancarlo Salvagni 

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