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sábado, 30 de maio de 2020

B E M - A V E N T U R A D O S 
O S  P O B R E S   P E L O   E S P Í R I T O

Bem-Aventurados os pobres de espírito. Mateus 5.7 
Jesus proclama bem-aventurados, cidadãos do reino dos céus, agora e aqui mesmo, todos aqueles que são pobres, ou desapegados, dos bens terrenos, não pela força compulsória das circunstâncias externas e fortuitas, mas sim pela livre e espontânea escolha espiritual; os que, podendo possuir bens materiais, resolveram livremente despossuir-se deles, por amor aos bens espirituais, fiéis ao espírito do Cristo: “Não acumuleis para vós bens na terra — mas acumulai bens nos céus”. 

Essa libertação da escravidão material pela força espiritual supõe uma grande experiência e iluminação interna. Ninguém abandona algo que ele considera valioso sem que encontre algo mais valioso. Quem não encontrou o “tesouro oculto” e a “pérola preciosa” do reino dos céus não pode abandonar os pseudo tesouros e as pérolas falsas dos bens da terra. É da íntima psicologia humana que cada um retenha aquilo que ele julga mais valioso.

O verdadeiro abandono, porém, não consiste em uma fuga ou deserção externa, mas sim em uma libertação interna. Pode o milionário possuir externamente os seus milhões e estar internamente liberto deles — e pode, também, o mendigo não possuir bens materiais e, no entanto, viver escravizado pelo desejo de os possuir, e, neste caso, é ele escravo daquilo que não possui, assim como o milionário pode ser livre daquilo que possui. Este possui sem ser possuído — aquele é possuído pelo que não possui.

O que decide não é possuir ou não possuir externamente — o principal é saber possuir ou não possuir. Ser rico ou ser pobre são coisas que nos acontecem, de fora — mas a arte de saber ser rico ou de ser pobre, é algo que nós produzimos, de dentro. O que nos faz bons ou maus não é aquilo que nos acontece, mas sim o que nós mesmos fazemos e somos.

A verdadeira liberdade, ou seu contrário, consiste numa atitude do sujeito, e não em simples fatos dos objetos.

‘O que de fora entra no homem não torna o homem impuro — mas o que de dentro sai do homem e nasce em seu coração, isto sim torna o homem impuro” — ou também, puro, conforme a índole desse elemento interno.

Ser rico não é pecado — ser pobre não é virtude.

Virtude ou pecado é saber ou não saber ser rico ou pobre.

Naturalmente, quem é incapaz de se libertar internamente do apego aos bens materiais sem os abandonar, também, externamente, esse deve ter a coragem e sinceridade consigo mesmo de se despossuir deles, também, no plano objetivo, a fim de conseguir a “pobreza pelo espírito”, isto é, a libertação interior. Aquele jovem rico do Evangelho, ao que parece, era incapaz de possuir sem ser possuído; por isso, o divino Mestre lhe recomendou que se despossuísse de tudo a fim de não ser possuído de nada — mas ele falhou. E por isso se retirou, triste e pesaroso, “porque era possuidor de muitos bens”. Possuidor? não — era possuído de muitos bens.

Entre possuidor e possuído há, verbalmente, apenas a diferença de uma letra, o “r” — mas esse "r" fez uma diferença enorme, porque é o 'r' da redenção. O possuído é escravo — o possuidor não possuído é remido da escravidão. Quem não sabe possuir sem ser possuído, fez bem em se despossuirde tudo. Mas quem sabe possuir sem ser possuído pode possuir.

Não raro, o ato externo do despossuir é condição preliminar necessária para a libertação interna.

Quem fez dos bens materiais um fim, em vez de um meio, pratica idolatria, porque “ninguém pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro”. Quem serve é servo, escravo, inferior. Quem serve ao dinheiro proclama o dinheiro seu senhor e soberano e a si mesmo servo e súdito. Mas quem obriga o dinheiro a servir-lhe é senhor do mesmo, porque usa o dinheiro como meio para algum fim superior.

Quem serve a Deus “em espírito e verdade” pode ser servido pelo dinheiro e por outros bens materiais.

Bem-aventurados os pobres pelo espírito, os que, pela força do espírito, se emanciparam da escravidão da matéria. Deles é o reino dos céus, agora, aqui, e para sempre e por toda a parte, porque, sendo que o reino dos céus está dentro do homem, esse homem leva consigo o reino da sua felicidade aonde quer que vá...

O nosso pequeno ego humano é muito fraco, e necessita de ser escorado por muitos bens materiais para se sentir um pouco mais forte e seguro mas o nosso Eu divino é tão forte que pode dispensar essas escoras e muletas externas e sentir-se perfeitamente seguro pela força interna do espírito.

Todo o problema está em saber ultrapassar a fraqueza e insegurança do ego e entrar na força e segurança do Eu... Bem-aventurado esse pobre do ego — e esse rico do Eu!... ele é o reino dos céus!...


Pobre pelo espírito é aquele que se libertou interiormente de todo o apego a qualquer objeto externo.

Huberto Rohden - Trecho do livro "O Sermão Da Montanha

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