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quarta-feira, 6 de maio de 2020

DISSOLUÇÃO,   SOBREVIVÊNCIA, IMORTALIDADE 
Estes três fenômenos do corpo dos seres vivos dependem da menor ou maior intensidade da consciência de cada um deles.

 
Intensidade de consciência significa unidade, coesão, estabilidade e, por isto, indissolubilidade do ser vivo.
 
Assim como um pedaço de carvão de pedra se dissolve facilmente, por ter pouca densidade mas, depois de altamente condensado em forma de diamante, é quase indissolúvel – de modo semelhante tem o corpo dos seres inferiores pouca estabilidade, pouca unidade, porque a sua consciência vital é diminuta. Unidade é garantia de estabilidade; falta de unidade é falta de estabilidade.
 
Quando o veículo material, isto é, o corpo físico, do vegetal ou do animal se dissolve pela morte, a sua individualidade vital, a sua unidade de consciência vegetal ou animal, se desindividualiza e retorna ao oceano da Vida Universal, da qual emergira como onda no momento de se individualizar. Dizemos “retorna”, embora esse termo seja inexato, porque o individuo vegetal ou animal nunca se separara, de fato, da Vida Universal; dela era distinto apenas pela forma existencial que assumira temporariamente. Nenhum ser individual está separado da Vida Universal. A Vida Universal, transcendente fora dele, está imanente dentro de cada uma das suas formas existenciais. Um indivíduo é vivo precisamente, e unicamente, por ser participante da Vida Universal, que o permeia, penetra e vitaliza.
 
Quando o veículo material da vida vegetal ou animal perde a sua idoneidade veiculante, deixa a Vida Universal de se servir dele como veículo; os elementos básicas do veículo – ferro, cálcio, fosfato, nitrogênio, etc. – voltam à terra e ao ar, mas a unidade vital deixa de existir como tal; a onda da vida individual recai ao seio do oceano da Vida Universal. O indivíduo vivo deixou de existir, reabsorvido pela Vida Universal, que sempre é e nunca deixará de ser.

Com o advento do primeiro (adi) ego (aham) o Adiaham, ou Adam, sobre a face do planeta, apareceu algo inédito e inteiramente novo na terra: um ser atingiu as alturas da consciência personal, tornou-se um ego; a intensidade vibratória de sua consciência chegou ao ponto de crear alto grau de unidade e, com isto, elevado grau de coesão e estabilidade. 
 
A figura abaixo ilustrará a marcha dos acontecimentos através de milhões de anos.
 
 
 A Vida Universal, representada no desenho pelo sinal ∞ (Infinito), irradia vitalidade, que se comunica e condensa no Universo, simbolizado no gráfico por uma lente. Atravessando essa lente do cosmos, a vida assume direção convergente, sendo a sua intensidade e unidade de grau mínimo na zona mineral, maior na vegetal e animal, maior ainda na zona intelectual do ego humano. Esse ego personal, primeira etapa da evolução tipicamente humana, é representada por um círculo (ego) em torno do centro, o verdadeiro Eu do homem.
 
Esse epicentro do ego mental representa alto grau de intensidade ou condensação de consciência, mas não atinge ainda perfeita unidade central.
 
Devido a seu elevado grau de intensidade consciente, cria esse ego mental do homem um veículo astral, isto é, um corpo imaterial capaz de sobreviver independente ao corpo material. Segundo Einstein, matéria é energia congelada (frozen energy), assim como energia é matéria descongelada. A intensidade de consciência é tanto maior quanto mais distante da passividade ou congelamento da matéria; é intensidade de vibração. Se dermos à matéria 1 grau de vibração, teremos de dar à energia, talvez, 10 graus. Essa vibração energética é que chamamos “corpo astral”.
 
Esse corpo astral ou energético do ego humano sobrevive à destruição do corpo material, porque a vibração superior não é afetada pela vibração inferior. E esse corpo astral sobrevivente serve de veículo ao indivíduo humano na sua existência post-mortem. Esse fato da sobrevivência do homem em corpo astral é conhecido desde o princípio da humanidade. A Bíblia está repleta de fatos dessa natureza.
 
Mas esse corpo astral sobrevivente à destruição do corpo material não é, por si mesmo, imortal; pode sobreviver séculos, e até milênios, consoante a sua menor ou maior intensidade unitária, mas, no fim, também ele se dissolve e, se o indivíduo não tiver creado outro corpo, indestrutível, recairá no vasto oceano da Vida Universal, deixando de existir como indivíduo particular.
 
É enorme a confusão que vai por nossa literatura espiritualista no tocante aos termos de “sobrevivência” e “imortalidade”, que muitos consideram como idênticos. Os meus amigos do mundo astral que, por vezes, me visitam em corpo tangível, são os primeiros a desmentirem essa identidade; perderam o seu corpo material pela morte física e afirmam que, algum dia, perderão também o seu corpo astral por uma nova morte; um deles afirma que vai morrer ainda “muitas vezes”, confirmando assim o que eu já sabia por outras fontes. Sobrevivência em corpo astral não é garantia de imortalidade.
 
Essa sobrevivência em corpo astral, após a morte corporal, não é uma conquista do homem individual, mas faz parte da natureza humana, é patrimônio universal da humanidade. Possivelmente, milênios atrás, quando o ego humano não possuía ainda suficiente intensidade consciente, essa sobrevivência não era um fenômeno universal; hoje em dia, porém, o corpo astral é transmitido de pais a filho; é transmissível biogeneticamente, prova de que a sua existência já remonta a longuíssimos períodos do passado. Propriedades recém-adquiridas pelos genitores não são transmissíveis aos filhos; a transmissão ou transmissibilidade supõe a identificação dessas propriedades com os cromossomas e genes – e é o que acontece com o corpo astral, que é herdado por todo ser humano em virtude da própria concepção paterno-materna.

O mesmo, porém, não acontece com o corpo-luz, que é o veículo do Eu espiritual do homem. Este veículo supremo acha-se ainda em estado tão primitivo na maior parte dos indivíduos humanos da atualidade que não afeta devidamente os elementos de reprodução. Esse corpo-luz tem de ser adquirido e desenvolvido, um por um, pelo indivíduo humano. Quem forma em si esse veículo de luz cósmica “renasce pelo espírito”, “entra no reino de Deus”, “adquire a vida eterna”. Assim como o ego mental do homem necessita do veículo do corpo astral para sobreviver temporariamente à morte material, de forma análoga necessita o Eu espiritual do homem de um veículo idôneo para garantir a sua sobrevivência indestrutível à destruição de todos os veículos anteriores.
 
O único veículo indestrutível até hoje conhecido pela ciência eletrônica e nuclear é a Luz no seu estado mais intenso, isto é, a Luz Cósmica, invisível. Todos os 92 elementos da química, e seus derivados, são, segundo Einstein, reduzíveis à Luz, são “lucificáveis” porque são “lucigênitos”. A Luz, porém, não é reduzível a um elemento superior; ela é a última fronteira do mundo físico. Por isto, a creação de um corpo-luz é a creação de um veículo indestrutível para a perpetuação do Eu espiritual do homem, o seu divino EU SOU. Uma vez creado esse corpo-luz – a “luz do mundo” – essa onda individual do Eu humano não se dissolve mais nem recai mais ao seio do oceano da Vida Universal, porque adquiriu o mais alto grau de autonomia unitária ou de individualidade. A sua individualidade é a sua indivisibilidade. O perfeito indivíduo é indiviso e indivisível, porque possui o mais alto grau de unidade intrínseca – “Eu e o Pai somos um”.
 
A imortalidade do indivíduo depende, pois, essencialmente, da creação de um veículo idôneo para sua individualidade. Onde não há veículo (corpo) idôneo não há perpetuação da vida individual; e onde não há intensa vida individual não há imortalidade do indivíduo.
 
Augusto Comte tentou consolar os seus leitores com a magra esperança de uma “imortalidade social”; o homem notável sobreviveria em suas obras.
 
Outros se agarram à tábua de salvação de seus filhos e descendentes como perpetuadores da vida e vivência de seus pais.
 
Certos filósofos do Oriente deliciam-se na eutanásia do nirvana, augurando a si e a seus discípulos uma vida eterna em Brahman, uma total identificação da vida individual com a Vida Universal.
 
Por demais precárias e insatisfatórias são essas formas de imortalidade. Praticamente, não consolam a nenhum homem sedento de vida eterna. Que me interessa saber que sobreviverei em minhas obras, em meus filhos, ou em Brahman? De fato, não sou eu que sobrevivo; algo sobrevive em meu lugar. Mas o que eu quero e pelo que anseio, nas últimas profundezas do meu ser humano, é sobreviver eternamente eu mesmo, em minha autêntica e inconfundível individualidade. Se o homem é o seu indivíduo, então ele é indiviso e indivisível. Indiviso e indivisível em si, e indiviso e indivisível também

do grande Todo. Mas essa indivisibilidade, imanente-transcendente, é precisamente o mais alto grau da unidade consciente, esse consciente unitário, esse indiviso e indivisível EU SOU, é a suprema garantia da imortalidade. O Eu não se separa do Todo, nem se identifica com o Todo – mas integra-se no Todo.
 
Ontológica e objetivamente considerada, é a imortalidade do Eu humano um fato – lógica e subjetivamente, porém, é um problema, o maior problema da vida humana, através das “muitas moradas que há em casa do Pai Celeste”. O fato objetivo da imortalidade não resolve o problema subjetivo da mesma. Existe em cada homem o germe da imortalidade, ou seja, a potencialidade de se imortalizar – mas dessa potencialidade à atualidade vai um passo imenso. Nem o nascimento, nem a vida nem a morte resolvem esse problema, porque são três coisas que nos aconteceram ou acontecerão apenas de fora, pelo favor ou desfavor de circunstâncias externas. Só uma nova vivência, ou experiência espiritual, é que resolve o problema da imortalidade atualizada. E, uma vez realizada essa vivência, cessam nascimentos e mortes, e só resta a vida, a vida eterna. Enquanto tivermos de nascer e morrer, não possuímos ainda a plenitude do viver. Só um corpo-luz, indestrutível, é que nos isentará de nascimentos e mortes e nos garantirá vida eterna.
 
Há quem recuse aceitar a idéia de uma “morte eterna”, de uma dissolução da individualidade humana, por culpa própria; entretanto, é ensinamento unânime dos maiores mestres espirituais da humanidade que possa haver “morte eterna” tão bem como “vida eterna” dependendo ambas da liberdade do homem. Se todos os homens adquirissem, em última análise, a vida eterna, e se fosse apenas uma questão de maior ou menor espaço de tempo, para que envidar tantos esforços por alcançar a vida eterna? Cedo ou tarde, todos arribariam ao porto seguro da “salvação”.
 
Entretanto, todos os mestres espirituais da humanidade, sobretudo o Cristo, estabelecem e mantêm a disjunção nítida entre “vida eterna” e “morte eterna”. E isto se acha em perfeita harmonia com as leis cósmicas e com a lógica imparcial.
 
Pode o homem realizar tanto esta como aquela alternativa, embora o seu período evolutivo não esteja restrito, como pensam certos teólogos míopes e unilaterais, aos poucos decênios da vida terrestre. A evolução do homem abrange aiones (eons, eternidades). Só depois desse vasto ciclo evolutivo é que vem o seu “juízo final”, quer dizer, a crise ou decisão definitiva, que levará o homem ou para a “direita” da vida eterna, ou para a “esquerda” da morte eterna.
 
Há quem afirme que, se a morte eterna é a identificação do homem com o Nada, deve também a vida eterna ser a sua identificação com o Todo, a total diluição do seu Eu individual no Todo Universal, o aniquilamento no Nirvana Absoluto. Mas não é lógico. Pode o positivo realizar algo que o negativo não realiza. A Vida Eterna Universal é a Essência, o Real – a vida eterna individual é a Existência, o Realizado. A morte eterna não é nem Essência nem Existência, não é o Real nem o Realizado – mas o puríssimo Nada, a não-Essência e a não-Existência, o Irreal Absoluto.

O indivíduo que não se integra no Real deixa de ser um Realizado, porque este só é Algo enquanto unido ao Todo; depois de desunido, separado, do Real, o Realizado cai no abismo do Irreal, do Nada, da total desintegração, da morte eterna.
 
Por outro lado, se o indivíduo, pela integração no Universal, deixasse de existir individualmente, com a consciência do Eu, sucumbiria praticamente à morte eterna, porque não continuaria a existir ele mesmo, individualmente, mas continuaria o Universal (Divindade, Brahman) a ser o que sempre foi. A imortalidade não seria do indivíduo humano, mas sim da Universalidade divina. Continuaria a ser a Vida Universal, mas deixaria de existir a vida individual. E, neste caso, tanto o suicídio da separação cometido pelo pecado como a eutanásia da identificação praticada pelo amor seriam “morte eterna”, porque ambos destruiriam o indivíduo humano – e para que então fazer essa enorme e constante diferenciação entre “vida eterna” e “morte eterna”? O que interessa ao indivíduo humano não é a Vida Eterna e Universal da Divindade, de Brahman – mas sim a vida eterna e individual do homem.
 
Todos os mestres da humanidade que realizaram em si a vida eterna sabem que ela é um eterno viver integrado na Vida Infinita, mas não é a identificação da vida finita com a Vida Infinita.
 
Convém aos insipientes aceitar a sapiência dos sapientes!...
 
 
Huberto Rohden, A Grande Libertação - Diretrizes para uma Felicidade Interna Independente de Circunstâncias  Externas
 
http://universalismoesoterico.blogspot.com

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