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sábado, 13 de outubro de 2018

PENSAMENTOS FLAMMARION


Última Parte 

Ainda hoje, sábios, filósofos, teólogos, metafísicos e pensadores, que nos falam de Deus, da Providência, da prece, da alma, da vida presente e da vida futura, das relações da Divindade com o mundo, das causas finais, da marcha dos acontecimentos, da independência do espírito, das fórmulas de culto, das entidades espirituais etc. no mesmo sentido e nos mesmos termos da escolástica do século XVI!

O que constitui o gênio não é o entusiasmo (pois este pode existir nos espíritos mais medíocres e vazios), e, sim, a superioridade do racionalismo. O homem de gênio é o que vê mais claro, o que percebe maior contingente de verdade, o que pode relacionar maior número de fatos a uma ideia geral, o que encadeia todas as partes de um todo a uma lei comum, e que, mesmo quando cria, qual se dá na poesia, não faz mais do que realizar, pela imaginação, a ideia que a sua inteligência concebeu.

Nascemos para ficar de pé e contemplar o céu.

O cérebro e todo o organismo não passam de uma sucessão de moléculas em mutabilidade constante.

A unidade da alma não existe somente a cada instante, considerada em si mesma, mas, persiste de um a outro instante, e fica idêntica em si mesma, apesar das mudanças que o tempo acarreta à composição da substância cerebral.

O movimento é amigo do repouso, e o melhor processo de criar no mundo uma instituição estável e sólida é lançar a ideia através de um turbilhão de cabeças frívolas.

Nosso Corpo Físico se renova sucessiva e completamente, molécula a molécula, de forma perpétua e rapidíssima, bastando trinta dias para que se tenha um corpo integralmente renovado... A rigor, o homem corporal não fica dois instantes idêntico a si mesmo... A matéria circula perpetuamente em todos os seres, e no ser humano, em particular, não permanece dois dias análoga a si mesma...

Não se pode provar que a constância dos traços seja o resultado de simples fenômenos de assimilação e desassimilação, e da modificação incessante da substância. Ainda que assim fosse, não existiria nisto senão uma identidade de forma, aparente, conservada pelas moléculas sucessivas, e não identidade fundamental, um ser substancial que fica. A alma não é uma sucessão de pensamentos, uma série de manifestações mentais e, sim, um ser pessoal com a consciência de sua permanência.

Todas as operações da inteligência humana são análises sintéticas ou sínteses analíticas, isto é: consistem essencialmente na decomposição de um dado todo ou na coordenação de elementos distintos, em que cada qual intervém com a sua cota e toma o seu lugar lógico.

Qualquer que seja a ciência focalizada, nela se afirma a lei do espírito humano, sem a qual não haveria qualquer relação entre os diversos objetos do nosso conhecimento e nem a própria Ciência existiria.

Se julgarmos a alma pela sua ação intelectual, reconheceremos, sem hesitação, que a força pensante não pode ser um agregado de forças elementares. De fato, como poderia a alma centralizar todas as observações que se lhe impõem, grupar silogismos secundários em torno do principal, associar julgamentos segundo as regras da Lógica, perceber a relação dos termos convenientemente enunciados, coordenar em uma mesma intuição os fenômenos estudados, formular hipóteses, comparar resultados? Como poderia, em suma, abstrair e generalizar senão como força absolutamente simples, indivisível e dotada da faculdade de tudo avocar a si, como juiz único, em consciência única?

Longe de ser um mal, a pobreza, quando provida de energia e de iniciativa pessoal, poderá se transformar em benefício, de vez que faz sentir ao homem a necessidade de lutar com o mundo, onde, a despeito dos que compram o bem-estar a preços degradantes, também há confiança, justiça e triunfo para os valorosos e honestos.

A condição precípua da liberdade é a inteligência ou a faculdade de conhecer e escolher os motivos. Quanto mais ativa for a inteligência, mais ampla será a liberdade.

A responsabilidade individual começa com a reflexão e com a possibilidade de proceder voluntariamente.

Quando não se tem nenhuma base sólida sobre a qual se possa apoiar as hipóteses, quando não se tem, para as excursões caprichosas da imaginação, senão o terreno movediço do possível ou mesmo do verossímil, só se podem construir castelos de fadas, que o vento leva com a mesma facilidade com que são construídos.

Devemos adotar este princípio: para avaliar sadiamente a natureza das coisas, importa, antes de tudo, não tomarmos a nós mesmos como ponto de comparação, e não ver os objetos em seu valor relativo frente a nós, mas tentar conhecê-los em seu valor absoluto.

As modificações causadas nas condições de vida reagem sobre o organismo dos indivíduos e sobre a geração das espécies.

O absoluto não existe na Física; tudo é relativo.

A mente humana procura conhecer relações; eis tudo o que pode ousar. Cada um de seus conceitos se encontra no meio de uma linha que se perde no alto e embaixo, no infinitamente grande e no infinitamente pequeno: é na medida do infinito que reside toda ciência, e é a comparação das coisas a uma unidade arbitrária tomada como base que resulta o valor de nossos conhecimentos.

A força é tão poderosa e a matéria tão dócil que a diversidade na intensidade, na relação e na combinação de forças em ação sobre os diversos mundos não deixou de estabelecer uma diversidade nada menor no estado orgânico dos seres. Quando se está convencido que este estado nada mais é do que a resultante de todas as forças que concorreram para a manifestação da vida, admite-se sem dificuldade que um número infinito de estados diversos seja possível. Se tomamos um astro em particular, por exemplo Júpiter, os elementos deste globo, a brevidade de seus dias e noites, a rapidez de seu movimento, a intensidade de sua gravidade, o grau de luz e de calor que recebe do Sol, o concurso, enfim, de todas as condições nas quais este mundo está colocado, esta reunião de elementos tão essencialmente distintos dos elementos terrestres constituiu em sua superfície uma ordem de existências incompatível com aquela ao qual pertencemos na Terra.

As forças diversas que estiveram em ação na origem das coisas deram nascimento, nos mundos, a uma grande diversidade de seres, seja nos reinos inorgânicos, seja nos reinos orgânicos. Os seres animados foram, desde o começo, constituídos segundo formas e organismos em correlação com o estado fisiológico de cada uma das esferas habitadas. Os homens dos outros mundos diferem de nós, tanto em sua organização íntima quanto em seu tipo físico exterior.

Não existe morte; o progresso é a lei da existência.

Quando a alma, liberta das atenções, preocupações e tendências corporais, vê em sonho um objeto que a encanta e para o qual se sente atraída, tudo desaparece em torno de tal objeto – que permanece só e se constitui o centro de um mundo de criações. Ela o possui inteiramente e sem reservas, contempla-o, dele se apossa e o faz seu, o Universo inteiro se apaga da reminiscência, para deixar um domínio absoluto ao objeto da contemplação da alma.

Na Criação, existem ligações invisíveis que não se rompem, qual acontece com os laços mortais, correspondências íntimas que subsistem entre as almas, apesar da separação pelas distâncias.

O número exato de mundos ultrapassa toda a numeração humana escrita ou passível de ser escrita. Se compreendermos o ilimitado, ser-nos-á, talvez, permitido dizer que este número é ilimitado. Daí podermos concluir que há uma altíssima probabilidade em favor da existência de muitos mundos exatamente semelhantes à Terra, na superfície dos quais se realizam a mesma história e a mesma sucessão de acontecimentos, e que se acham habitados pelas mesmas espécies vegetais e animais, a mesma Humanidade, os mesmos homens, as mesmas famílias, identicamente.

Fora do movimento da Terra, o tempo não existe.

As leis do som diferem essencialmente das da luz. O som percorre somente 340 metros por segundo, e seus efeitos nada têm em absoluto de comum com os da luz. Todavia, é evidente que, se avançamos no ar com uma velocidade superior à do som, ouviremos ao inverso os sons saídos dos lábios de um interlocutor. Se, por exemplo, este recitasse um alexandrino, o audiente, distanciando-se com a predita rapidez – a partir do instante em que ouvisse a última sílaba – encontraria sucessivamente as outras onze – pronunciadas antes – e ouviria o verso ao avesso! Luís de Camões

Luís Vaz de Camões

Em outros mundos, a vida orgânica difere da vida aqui existente. Lá, as humanidades, resultantes das forças em atividade, são absolutamente diversas em suas conformações da gente terreal. Por exemplo, nos mundos onde não se come, o tubo digestivo e as entranhas desapareceram. Nos mundos fortemente eletrizados, os seres são dotados de um sentido elétrico. Em outros, a vista é constituída de raios ultravioletas e os olhos nada têm de comum com os olhos dos terráqueos: não veem o que vemos, e, sim, o que não enxergamos. Os órgãos se acham em relação com as respectivas funções.

Para que a personalidade-alma exista na condição de ser independente, com consciência de si mesma, para que conserve a lembrança de sua identidade e esteja apta para a imortalidade, é necessário que, desde esta vida, ela saiba que existe em realidade. De outra forma, terá avançado no amanhã da morte tanto quanto na véspera, e cairá, qual um sopro insensível, no cego turbilhão do Cosmos, na igual condição de qualquer outro centro de força inconsciente... Os espíritos que vivem realmente a Vida Espiritual são apenas os que estão aptos para a imortalidade.

Para podermos presenciar o espetáculo de um mundo e de um sistema de vida inteiramente opostos ao existente na Terra, é necessário nos distanciarmos da Terra com velocidade superior à da luz.(1)

Homem algum sobre a Terra pode formar uma ideia, mesmo aproximada, do Universo. O homem terrestre é um homúnculo.

Há mais criminosos além dos que estão presos: são os homens cultos que conhecem as verdades e não ousam revelá-las por temerem o ridículo ou por interesse pessoal.

Proibir que sejam divulgados os fatos úteis ao progresso dos conhecimentos humanos! Não será isto um autêntico crime?

Nada se perde inteiramente. Um número qualquer, perpetuamente reduzido pela metade, por exemplo, jamais poderá ficar igual a zero. [1, 1/2, 1/4, 1/8, 1/16, 1/32, 1/64 ...]

Um ato que se realizou não poderá ser apagado; e nenhuma potência terá força para o desfazer. Longe de ser esquecido, subsistirá para todo o sempre... E porque nada se perde, a história de cada mundo, contida na luz que dele emana incessantemente e sucessivamente, atravessa por toda a eternidade o espaço infinito, sem que jamais possa ser aniquilada.

Os acontecimentos se esvaem para o local que lhes deu origem, mas perduram no Espaço. Esta projeção sucessiva e sem fim de todos os fatos consumados em cada um dos mundos se efetua no seio do Ser Ilimitado, cuja ubiquidade toca por este modo cada coisa em uma permanência eterna.

Para o Absoluto, o tempo não existe; o passado e o futuro são lidos na página aberta de um presente perpétuo.

A alma não tem plena memória, integral posse de si mesma, senão na Vida Celeste, isto é, entre suas encarnações. Só então ela vê, não somente a sua vida terreal, mas, ainda, as outras existências precedentes.

As almas encarnadas na Terra ainda não atingiram um grau de progresso bastante elevado, para que a lembrança do seu estado anterior lhes possa ser útil.

A eternidade não é mensurável.

O homem é um cidadão do céu.

O desconhecido de ontem será a verdade de amanhã.

Estudar a Natureza – eis a grande necessidade intelectual da nossa vida! Sem tal estudo, vive-se em um mundo desconhecido.

Que mistério é a vida, que mistério é a morte...


Nota:

(1). A velocidade da luz no vácuo, simbolizada pela letra c, é, por definição, igual a 299.792.458 m/s (metros por segundo). O símbolo c se origina do latim celeritas, que significa velocidade ou rapidez.


http://paxprofundis.org

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