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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A VIDA É O ÚNICO INSTRUTOR


Para mim a vida é o instrutor único, aprendo por meio da experiência da alegria e da tristeza, do êxito e da falência. Jamais ninguém respondeu às minhas perguntas exceto a própria Vida e ela não fala por meio de palavras, suas lições são experiências. Dado Krishnamurti, em sua libertação de tudo quanto é relativo, se ter tornado a própria Vida — o oceano que é todas as coisas — tornou-se o Instrutor. Deve, porém, surgir também em nossa mente a ideia de que seu ensinamento não se evidencia primeiramente por meio de palavras. As palavras apenas escondem, ocultam a verdade que se esforçam por expressar: somente na própria vida do homem é que o eterno se torna o transitório, aí é que a quadratura do círculo tem lugar e não na linguagem ou no símbolo.

As palavras dos grandes instrutores constituem a parte menor de seu ensinamento; o efeito produzido por suas vidas está sempre fora de toda a proporção com as palavras que proferem. Eles, são os Despertadores de uma nova vida, que nele já está plenamente consciente e que vagamente se agita nos seus semelhantes. Posto que a doutrina que eles ensinam possa encontrar-se em ensinos precedentes, no entanto ela é inteiramente nova, pelo fato de a viverem por um modo que jamais pudera ser vivida anteriormente. A nova coisa que despertam é um modo de viver e não uma doutrina. Despertam uma nova faculdade no homem, uma nova resposta para a vida, e fazem isso por meio da vida que vivem, e por serem o que são. No entanto, aquilo que trazem, não é estranho à humanidade dos seus dias. Eles são, acima de tudo, Homens Representativos nos quais já se encontra liberto aquilo que procura libertação nas multidões; assim, eles o trazem à vida e o fazem nascer em outros. São, portanto, Despertadores antes do que Instrutores do Mundo. Não ensinam uma doutrina, vivem uma vida; não possuem discípulos, porém filhos nascidos de uma vida que é a deles.

Quando os "discípulos" tentam propagar-lhes a doutrina, é sinal seguro de que essa vida já se está perdendo. Aqueles que quiserem ajudar na obra do Despertar, tem que viver uma nova vida, e não pregar uma doutrina nova. Livros e conferências, são, portanto, coisas secundárias. Sem a vida da qual eles são as centelhas, não terão significado. As palavras de Jesus teriam sido assim significativas, desprovidas de força; sem a vida que ele comunicava, não poderiam ter persistido. As palavras de Krishnaji, subitamente publicadas por qualquer maneira miraculosa, sem terem seu ser vivo como origem, não produziriam efeito, não teriam vida.

O trabalho supremo, portanto, do Despertar é o viver de uma vida. O que devemos mostrar aos outros não é quão exatamente nos é possível repetir as palavras de Krishnamurti, e ainda menos o como desdenhamos àqueles que não "compreendem", porém, sim, o como vivemos.

A arte da vida, uma nova arte de viver deve ser a nossa atividade criativa. Nenhuma arte é mais exigente do que esta arte de viver; nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas palavras e ações são todos parte dessa nova criação. Pelo fato de ser criação, pode afetar os outros, despertar a vida neles. Só assim podemos "ensinar", e assim somente. Mais importante, pois, do que a publicação de livros de Krishnamurti é a propagação da vida que ele desperta. E isto somente pode ter lugar por parte do homem na obra de arte que é a sua própria vida. Sem isto, os livros virão a perder sua significação no decurso de uma geração, pois que devem nascer de uma corrente viva de vida.

Esta criação nova é essencialmente obra do indivíduo, ninguém pode ajudar a outrem neste sentido, nada pode ser utilizado como apoio ou auxílio. É, porém, em nossas relações para com outrem, com o nosso trabalho, que o nosso novo modo de viver se evidência, sendo a vida de comunidade a orquestração da nossa música.

Necessitamos criar Ashrans nos quais a nova vida seja uma realidade vivida e não um ensinamento repetido com frases de algibeira que venham constituir os primórdios de uma nova ortodoxia.

Permito-me imaginar comunidades tais, no futuro, em todos os países.

Poderíamos chamar-lhes mosteiros modernos posto que essencialmente difiram do tipo medieval.

Neste caso é o amor da Vida que reina e não o pensamento da evasão ou refúgio da Vida.

Aqui será o homem o seu próprio libertador e não um deus qualquer criado por ele.

Nestes a Vida não será atada pelo dogma, pelo rito ou pela autoridade, porém fluirá livre e opulentamente.

Tais mosteiros modernos deveriam ser como oásis num deserto; homens sedentos de realidade, de vida livre, a eles recorreriam e, na atmosfera da nova Vida, encontrariam a orientação perdida, a solução dos seus prazeres. Pois a Vida é a única solucionadora dos problemas e pesares do homem, de suas interrogativas e perplexidades.

Um lugar como Eerde deveria ser, penso eu, o primeiro dentre esses mosteiros. Uma vez que o novo modo de Vida houvesse sido estabelecido pelo grupo dali, poderia ramificar-se e outros Ashrans semelhantes, ser fundados. O que em primeiro lugar se necessita é de u grupo de pessoas suficientemente sinceras para cooperarem neste trabalho de criação. Sem as pessoas adequadas para principiar, nada pode ser executado.

Em segundo lugar é necessário passar em revista o modo de vida exterior. Esta Vida nova dificilmente poderá ser vivida em ambientes que expressem o desejo do conforto de uma idade passada. Uma certa severidade do ambiente é necessária para manter o indivíduo desperto, pois o conforto acalenta o sono, os objetos supérfluos tem um efeito distrativo e desintegrador. A mais completa simplicidade nos dispositivos para a vida e uma atmosfera de tranquilo recolhimento e infatigável concentração sobre o que é real, todas essas coisas necessitam ser criadas para fazer da nova vida uma realidade. O conforto que faz adormecer a vigilância, e a intensidade da vida, todo o burburinho e tumulto que afogam a voz da Vida, todas as distrações que mais não são que substitutos para uma vida que não tem propósito, tudo isso deve ir-se; o trabalho deve ser feito na tranquilidade de uma perseverança amplamente desperta.

Então um estrangeiro deprimido e fatigado pela vida, que haja perdido a orientação e ande em busca de certeza, pode vir a um lugar desses e, em sua atmosfera, despertar para uma vida nova. Não há necessidade de pregar homilias sobre o que se deve e o que não deve fazer-se; a vida é a nova moral e, se estiver desperta em um homem, será um guia seguro a todos os instantes.

Assim, o novo mosteiro pode ser um oásis no deserto, a ele os homens, virão beber vida para retirarem-se depois renovados, bastando-se a si mesmos, apercebidos de sua meta.

Esta é para mim, a maneira de ensinar de que se necessita agora e é uma tarefa e um propósito para as muitas propriedades existentes por todo o mundo no sentido de continuarem o trabalho de Krishnamurti.

Naturalmente, na vida de cada indivíduo a mesma criação de vida nova tem que ter lugar, pois que a criação individual é sempre a base para o esforço em comunidade.

Ninguém necessita esperar por uma comunidade ou um novo mosteiro; cada qual pode ser um oásis de vida em torno de si, para todos, pode ser um instrutor pela vida que viver ele próprio. Pois ensinar é, primordialmente viver.



J.J. Van Der LeeuW
http://pensarcompulsivo.blogspot.com

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