Translate

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

PENSAMENTOS FLAMMARION


Primeira Parte

Oh!, noite majestosa! Como teu esplendor é ainda maior ante nossos olhos desde que entrevimos a vida sob tua morte aparente! Como tuas harmonias se tornaram deliciosas! Como teu espetáculo se transfigurou diante de nossas almas! Outrora, eu me comprazia em vos contemplar no silêncio da meia-noite, ó Plêiades longínquas cuja claridade difusa nos leva para tão longe da Terra! Eu me comprazia em ver repousar sobre vós o enxame de meus pensamentos, porque vós sois uma estação brilhante do infinito dos céus. Mas, hoje, que vejo em vossa múltipla irradiação tantos lares onde famílias humanas estão reunidas; hoje, que nessa irradiação tão calma eu creio reconhecer os olhares de irmãos desconhecidos, o olhar, talvez, de seres queridos que amei tanto, e que a Morte inexorável levou para longe de mim, desse ser, sobretudo, que se foi com um sorriso nos lábios para não me deixar adivinhar seus sofrimentos, e que, agora, está aí, sonhando, talvez, ainda, em algum ponto obscuro de uma terra desconhecida, lembrando com uma tristeza inexplicável nossos amores destruídos, e procurando, como eu, por olhares perdidos no céu... Oh! Agora eu vos amo, deslumbrantes Plêiades; eu vos amo, maravilhosas Estrelas; eu vos amo como o peregrino ama as cidades de sua peregrinação, como ele ama o altar aonde se dirigem seus votos, e onde depositará, um dia, o beijo das suas aspirações mais caras.

Não é somente a razão fria que indaga; não é somente o espírito. É também o sentimento; é também o Coração.

Não se pode pedir a um elefante que voe até o ninho das águias.

A passos lentos, avança a pesquisa da verdade, mas as paixões humanas e os cegos interesses dominadores permanecem inalteráveis.

Tudo é número, correspondência, harmonia, relação de uma causa inteligente, agindo universal e eternamente.

O corpo passa. A alma vive no infinito e na eternidade.

O método científico experimental – o único que vale para a pesquisa da verdade – tem exigências as quais não podemos nem devemos nos eximir.

A morte não existe; é apenas uma evolução, sobrevivendo o ente humano a essa hora suprema, a qual não é, de modo nenhum, a última hora. A morte é a porta da Vida. O corpo é somente um vestuário orgânico do espírito; ele passa, muda, desagrega-se, o espírito permanece.

O Universo é um dinamismo; o Cosmos bem justifica seu nome (ordem).

O Espiritismo não é uma religião, mas, uma ciência, da qual apenas conhecemos o a, b, c. Passou o tempo dos dogmas.

Regra de conduta da Ciência: Não admitir senão o que se vê, o que se toca, o que se ouve, o que fica subordinado ao testemunho direto dos sentidos, e não procurar conhecer o incognoscível.

Analisando os testemunhos de nossos sentidos, verificamos que eles nos enganam de um modo absoluto. Vemos o Sol, a Lua e as estrelas girarem em torno de nós: é falso. Sentimos a Terra imóvel: é falso. Vemos o Sol se levantar acima do horizonte: ele está abaixo do horizonte. Tocamos corpos sólidos: não há corpos sólidos. Ouvimos sons harmoniosos: o ar não transporta mais do que ondas em si mesmas silenciosas. Admiramos os efeitos da luz e das cores que fazem viver aos nossos olhos o esplêndido espetáculo da Natureza: em realidade não há nem luz, nem cores, mas, somente movimentos etéreos obscuros que, influenciando nosso nervo ótico, dão-nos as sensações luminosas. Queimamos o nosso pé ao fogo: é, sem o sabermos, em nosso cérebro somente que reside a sensação da queimadura. Falamos de calor e de frio: não há no Universo nem calor nem frio, mas, somente movimento. Como se vê, os nossos sentidos nos enganam a respeito da realidade. Sensação e realidade são coisas distintas.

Desde a última sensação acústica percebida por nosso ouvido, resultante de 36.850 vibrações por segundo, até a primeira sensação ótica percebida por nossos olhos, e que é devida a 400.000.000.000.000 de vibrações na mesma unidade de tempo, nada mais podemos perceber. Entre estes dois extremos, existe um intervalo enorme, com o qual nenhum de nossos sentidos se põe em relação.

Se as instituições monásticas tiveram o seu papel no período das invasões bárbaras, nem por isso deixou de soar a sua hora extrema, como sucede a todas as coisas perecíveis...

Fora da Ciência não há salvação... a Humanidade tanto tempo balouçada no oceano do ignorantismo, só tem um porto a proejar: o da terra firme do saber.

Quanto à [i]mortalidade da alma e à [in]existência de Deus, como podem criaturas inteligentes, seres racionais, pensantes, entregar uma vida inteira a interesses transitórios, sem se abstraírem, uma que outra vez, da sua apatia, para atender a estas interrogativas preciosas?

Assim se balança nossa faculdade pensante ao sair desta vida: entre uma realidade que não compreende ainda e um sonho não desaparecido completamente. As mais diversas impressões se amalgamam e confundem, e se, sob o peso de sentimentos perecedouros, tem saudades da Terra de onde vem exilado, é, então, oprimida por um sentimento de tristeza indefinível que pesa sobre nossos pensamentos, nos envolve de trevas e retarda a clarividência.

Pode-se distinguir no ser humano três princípios diferentes, ainda que reunidos: 1º) Corpo Material; 2º) Corpo Astral; e 3º) Alma. O Corpo Material é uma associação de moléculas, formadas elas próprias de agrupamentos de átomos. Os átomos são inertes, passivos, governados pela força, e entram no organismo pela respiração e pelos alimentos, renovam incessantemente os tecidos, são substituídos por outros, e, eliminados, vão pertencer a outros corpos. Em alguns meses, o corpo humano é totalmente renovado, e nem no sangue, nem na carne, nem no cérebro, nem nos ossos resta mais um único dos átomos que constituíam o todo alguns meses antes.

Respiramos, bebemos e comemos milhares de vezes. Tal é o corpo: um complexo de moléculas materiais que se renovam constantemente.

O Corpo Astral é, por assim dizer, imaterial, etéreo, fluídico. É por ele que o Espírito está associado ao Corpo Material; é o envelope da Alma, a substância física do Espírito.

Pela energia vital, a Alma grupa as moléculas, seguindo certa forma, e constitui os organismos.

A força rege os átomos passivos – incapazes de se conduzirem eles próprios, inertes. A força os chama, faz que lhes obedeçam, toma-os, coloca-os, dispõe de todos conforme certas regras, e forma esses corpos tão maravilhosamente organizados que o anatomista e o fisiologista contemplam. Os átomos são permanentes, a força vital não. Os átomos não têm idade; a força vital [em nós] nasce, envelhece, morre.

A alma é um ser intelectual, pensante e imaterial na essência. O Mundo das Ideias, no qual vive, não é o Mundo da Matéria. Não tem idade, nem envelhece; não muda em um mês ou dois, igual ao corpo, pois, decorridos ano, lustro decênios, sentimos que conservamos a nossa identidade, que o nosso Eu permanece.

As preocupações das Almas, quaisquer que sejam, pertencem à ordem intelectual e à ordem moral, que os átomos e as forças físicas não podem conhecer, mas que existem tão verdadeiramente quanto a ordem material.

A alma é ligada ao Corpo Material pelo Corpo Astral, intermediário, que ela conserva depois da morte. Relativamente livre, a Alma pode se deslocar facilmente e, às vezes, pode se projetar mesmo a imensas distâncias, com a rapidez do pensamento. A transmissão da alma – mônada-psíquica – no Espaço é da mesma ordem.

O ano, os dias e as horas são constituídos pelo movimento da Terra. Fora destes movimentos, o tempo terrestre não existe mais no Espaço. É, pois, absolutamente impossível ter noção deste tempo.

Em virtude das leis da luz, podemos rever acontecimentos depois de ocorridos e de consumados.

A vida passada dos mundos e a vida dos seres existem sempre no Espaço, graças à transmissão sucessiva da luz através das vastas regiões do ilimitado.

Uma distinção profunda separa em geral as formas animadas dos diferentes globos. Estas formas são o resultado dos elementos especiais a cada orbe e das forças que o regem: matéria, densidade, peso, calor, luz, eletricidade, atmosfera etc., diferem essencialmente de um mundo a outro. Em um idêntico sistema, estas formas já diferem. Assim, os homens de Titã, no sistema de Saturno, e os do planeta Mercúrio não se assemelham em nada aos homens da Terra; e aquele que os visse pela primeira vez não identificaria neles nem cabeça, nem membros, nem sentidos.

Porque nada se perde, a história de cada mundo, contida na luz que dele emana incessante e sucessivamente, atravessa por toda a eternidade o espaço infinito, sem que jamais possa ser aniquilada.

Na realidade, não existe luz: há vibrações do éter. Não existe visão: há percepções do pensamento.

Cada criança traz, ao nascer, faculdades diferentes, predisposições especiais, dissemelhanças inatas e incontestáveis...

A alma não tem plena memória, integral posse de si mesma, senão na sua vida normal, na Vida Celeste, isto é, entre suas encarnações. Só então ela vê, não somente a sua vida terreal, mas ainda as outras existências precedentes.

A luz constitui o modo de transmissão da História Universal. 

Toda crença, para ser verdadeira, deve concordar com os fatos da Natureza. O espetáculo do mundo nos ensina que a imortalidade de amanhã é aquela de ontem e de hoje, que a eternidade futura não é senão a eternidade presente. Eis aí nossa fé. Nosso paraíso é o infinito dos mundos.

Segundo a Lei de Transmissão Sucessiva da Luz, todos os acontecimentos do Universo e a história de todos os mundos são espargidos no Espaço em quadros imperecíveis, verídicos e grandiosos. A Lei de Transmissão Sucessiva da Luz é um dos elementos fundamentais das condições da Vida Eterna.

Há uma diversidade inimaginável que distingue os mundos, em sua geologia, na fisiologia orgânica, nas condições da habitabilidade, nas formas humanas, nas mentalidades.

Cosmos: universal diversidade.

Virá o tempo em que todas as mentes instruídas e independentes saberão se libertar dos preconceitos que pesam ainda sobre nossas cabeças, e confessarão, com o acento de uma convicção inabalável, a doutrina da pluralidade dos mundos. Mas, hoje, grandes dificuldades de escolas ou seitas ainda se opõem. São estes preconceitos que cabe à Filosofia dissipar. É deles que se deve libertar as almas adormecidas. E não se trata de uma missão tão rude nem tão penosa quanto nos séculos passados, pois, o progresso intelectual propagou por todo lugar sua claridade benfazeja.

http://paxprofundis.org


Nenhum comentário:

Postar um comentário