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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

DOR E PODER



O objetivo da filosofia é pôr fim à dor. O medo tem, atrás de si, a fuga à dor. Então a dor é para ser evitada? Edward Carpenter, em seu belo poema "O Homem e Satã" diz: "Cada dor que sofri num corpo tornou-se um poder que dominei no próximo." Poder é a dor transmutada.
 
Leia a vida de Napoleão. Ali você vê a grande manifestação de poder. Este homem pequeno e insignificante comandou rudes soldados como se fossem crianças. Por exemplo: ao ouvir que os Bourbons estavam governando mal seu país, ele retornou de seu exílio em Elba. As tropas foram mandadas para matá-lo. Todo o exército foi mandado para atirar nele. Os soldados estavam ali com suas armas mirando em seu peito, prontos para receber o comando de atirar.
 
Napoleão estava a pé, sozinho, sem defesa e sem armas, e caminhou em direção às tropas com um andar medido, olhando diretamente nos olhos dos soldados. A ordem “Fogo” foi gritada. Um único tiro o teria matado. Se o exército tivesse obedecido à ordem, quarenta mil balas teriam entrado no peito de Napoleão.

Mas esse homem não vacilou e ficou a alguns metros encarando a todos. O exército inteiro hesitou. Como poderiam atirar naquele homem? Estavam sob sua fascinação. Ninguém obedeceu à ordem. Todos atiraram suas armas ao solo e correram para ele gritando "Viva o Imperador!"
 
Se você analisar a vida deste homem, verá que impôs a si as mais dolorosas tarefas. Durante vários dias ficava sem dormir, descansar e comer, profundamente absorvido em seus estudos. Sua aparência, às vezes, era horrível de se contemplar por causa de suas duras privações. Mas havia um raio em seus olhos que queimavam com o fogo do espírito. Verdadeiramente, era a dor transmutada em poder.
 
O yogue cujas austeridades deixam mudo de horror o ocidental, domina os tigres e leões da floresta com um único olhar. Todos os yogues avançados têm este e milhares de tais poderes maravilhosos.
 
Além disso, a dor purifica. Durante eras as propensões animais foram desenvolvidas. A menos que métodos drásticos sejam empregados, estas propensões se tornam impossíveis de subjugar. Nada há como a dor para ensinar, porque ela purifica. Uma vez que sua natureza passou pelo fogo do sofrimento, você terá conhecido o lado sério da vida.
 
Disse o grande Swami Vivekananda sobre suas viagens a pé através da Índia: “Durante muitos dias estive nas garras da morte, faminto, cansado, com os pés feridos. Durante dias não tinha nada para comer nem conseguia dar mais um passo. Sentava-me à sombra de uma árvore e sentia que minha vida se apagava. Não conseguia falar, nem quase pensar, mas finalmente a mente voltava à ideia: não tenho medo da morte, não tenho fome nem sede. Nem toda a natureza pode me destruir; ela é minha servidora. E dizia a mim mesmo: Afirmai vossa força, ó vós Senhor dos Senhores! Recuperai vosso reino perdido! Levantai e caminhai! E então eu me levantava com nova força e aqui estou eu, vivendo hoje.”
 
Este homem viveu nas cavernas dos Himalayas durante anos. Subiu as montanhas a pé até o Tibete. E ele não foi o único.
 

Yogue Ramacháraka
 
http://yoga-ensinamentos.blogspot.com

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