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terça-feira, 17 de julho de 2018

VOU ONDE O VENTO LEVA


 Hoje de manhã saí muito cedo.
Por ter acordado ainda ainda mais cedo.
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte,
E segui o caminho para onde o vento me soprava as costas.
Assim tem sido sempre a minha vida,

e assim quero que possa ser sempre 
Vou onde o vento me leva e não me deixo pensar.


Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega - Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.


Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) (em “Poemas Inconjuntos”) 

https://obudaemmim.blogspot.com


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