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quarta-feira, 25 de julho de 2018

SOFRIMENTO É MEMÓRIA 
MAIS AUTOPIEDADE

Última Parte

Tende a bondade de escutar, pois o que agora vou dizer será talvez um pouco difícil. Escutai-o, pois, com toda a atenção, como se estivésseis distanciados de mim. Vou falar sobre uma coisa que ireis encontrar, se tiverdes feito com agrado, com prazer, tudo o que indiquei. Depois de terdes examinado todo o mecanismo da ação nascida da reação, e negado essa ação, com enlevo, com alegria — e não com pesar — vereis que, natural e facilmente, alcançareis um estado mental que é a verdadeira essência da beleza.

Importa compreender a beleza. A mente que não é bela, que não se encanta com uma árvore, uma flor, um belo rosto, um sorriso; que não se detém à beira do mar a contemplar as vagas inquietas; que não tem nenhum senso de beleza — essa mente nunca, descobrirá o amor, a verdade. Essa beleza vos foi negada porque ela exige paixão, exige toda a vossa energia, requer atenção completa, não dividida; e essa atenção completa, não dividida, é negação, um estado de negação.

Só do nada pode sair a criação; desse vazio surge aquela criação que é a totalização da energia. Mas vós não podeis alcançá-la. Deveis deixar bem longe a vós mesmo, perder-vos por longe, esquecer-vos; para alcançá-la, deveis estar imaculado, sem lembrança, sem pensamento, sem memória. Porque, aí, nada podeis experimentar, não há experimentar; se buscais experiência, estais ainda preso ao “conhecido”, às coisas de ontem.

Estou falando a respeito da mente não indolente, que não tem autopiedade, que não tem memória, salvo a memória mecânica, necessária ao viver — o lugar onde se reside, o emprego que se exerce, os atos normais da vida. Essa mente não tem “memória psicológica” e, por conseguinte, nada precisa experimentar; por conseguinte, não há “desafio”. Só essa mente é, ela própria, a realidade, a criação, a beleza.

A beleza não está no rosto, por mais delicados que sejam os seus traços. Não é produto da atividade humana. Nem resulta do pensamento, do sentimento. Beleza é aquela comunhão com todas as coisas, sem reação alguma, comunhão com o feio e com o chamado “belo”. Essa comunhão sai do nada; nesse estado há aquela beleza que é Amor.


Krishnamurti, em  A mutação Interior 
http://pensarcompulsivo.blogspot.com 
 

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