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sábado, 28 de janeiro de 2017

TANTRA - A SUPREMA COMPREENSÃO


Terceira Parte

Age mais e deixa que as atividades caiam por sua própria vontade. Uma transformação se fará em ti, paulatinamente. 
 
Leva tempo, é preciso amadurecimento, mas também não há pressa.

Agora, entremos no sutra.


Nada faças com o corpo, porém relaxa;

fecha com firmeza a boca e permanece silente;
  
esvazia tua mente e não penses em nada.
 
 
Nada faças com o corpo, porém relaxa. Agora podes compreender o que significa relaxar. Significa que não há em ti anseio de atividade. Relaxar não significa ficar deitado como um morto e, além disso não podes ficar deitado como um morto - só podes fazer de conta. Como podes ficar deitado, tu, como um morto? Estás vivo; podes apenas fazer de conta. Podes relaxar apenas quando não há anseio de atividade em ti. A energia está presente e não anda se movendo por aí. Se determinadas situações aparecem, tu agirás e isso é tudo, mas não estarás procurando pretextos para agir. Estás de bem contigo mesmo. Estar relaxado é estar em casa.

Há alguns anos atrás, eu estava lendo um livro cujo título era Deves Relaxar. Só o título já era simplesmente absurdo, porque o deve é contra o ato de relaxar - livros assim só podem ser vendidos na América. Deve significa atividade, é uma obsessão. Sempre que há um deve, há uma obsessão escondida atrás dele. Há ações na vida, mas não há deve; quando não, o deve originará a loucura. Deves relaxar - e o ato de relaxar torna-se a obsessão. Deves tomar esta ou aquela postura, deitar-te, sugerir afrouxamento ao teu corpo, da cabeça aos pés. Dize aos dedos dos pés: “Relaxem!” e, então, ergue-te...

Por que deves? O repouso, o afrouxamento só vêm quando não há deves em tua vida. O repouso não é apenas do corpo, não é apenas da mente, é de todo o teu ser.

Estás demasiadamente ativo e, portanto, cansado, dissipado, ressecado, gelado. A energia vital não se move. Há apenas blocos, blocos e blocos. Tudo quanto fazes, o fazes em loucura. É natural que a necessidade de relaxar apareça. Por isso é que tantos livros sobre o ato de relaxar são escritos todos os meses; mas eu nunca vi alguém que se relaxasse por ter lido um livro sobre o ato de relaxar - essa pessoa torna-se mais febril ainda, ao ver que toda a sua vida de atividade permanece intacta. A obsessão de ser ativa permanece nela, a doença permanece nela, e ela fantasia estar relaxada e deita-se. Todo o torvelinho interior, todo o vulcão estão prestes a irromper e ela diz estar relaxando, seguindo as instruções de um livro: como relaxar.

Não há livro algum que te possa ensinar a relaxar, a não ser que leias teu próprio ser interior, e, nesse caso, o ato de relaxar não será um dever. O relaxar é uma ausência, uma ausência de atividade, não de ação. Portanto, não há necessidade de mudar para os Himalaias. Algumas pessoas fizeram isso: para relaxar, foram aos Himalaias. Qual a necessidade há de ir para os Himalaias? Não se pode deixar de lado a ação, porque, ao deixares de lado a ação, deixas de lado a vida. Então estarás morto, mas não relaxado. Por isso, nos Himalaias, encontrarás sábios que estão mortos, mas não relaxados. Fugiram à vida, à ação.

Esta é a sutileza a ser entendida: a atividade deve ser eliminada, mas não a ação - e eliminar ambas é fácil. Podes abandoná-los e fugir para os Himalaias, isso é fácil. Ou, há outra coisa fácil: continuar as atividades e forçar-te, a cada manhã, ou a cada noite, a relaxar durante alguns minutos. Não compreendes a complexidade da mente humana, o seu mecanismo. O relaxamento é um estado. Tu não o podes forçar. Abandona, simplesmente, as negatividades, os obstáculos, e ele virá, borbulhará por si mesmo.

Que fazes quando vais dormir, todas as noites? Fazes alguma coisa? Se fazes, és um insone, tens insônia. Que fazes? Simplesmente deitas-te e dormes. Não há “fazer” nisso. Se “fizeres”, ser-te-á impossível dormir. Na verdade, para dormir, o necessário é, apenas, interromper, na mente a continuação das atividades do dia. Isso é tudo! Quando a atividade não está mais na mente, ela relaxa e adormece. Se fizeres alguma coisa para adormecer, estarás perdido, o sono será impossível. Não há a menor necessidade de se “fazer” algo.

Diz Tilopa: - “Nada faças com o corpo, a não ser relaxar.” Nada faças! Não há necessidade de postura iogue, não há necessidade de distorções e contorções do corpo. Nada faças! Só a ausência de atividade é que é necessária. E como a obteremos? Através da compreensão. A compreensão é a única disciplina. Compreende as tuas atividades, que, então, em meio a essa atividade, tornar-te-ás consciente e deterás a ti mesmo. Se te tornares consciente do porquê de fazeres o que fazer, a atividade cessará. E essa imobilidade é o que Tilopa quer te fazer sentir, quando diz: - “Nada faças com o corpo, a não ser relaxar.”

O que é relaxamento? É um estado em que tua energia não se dirige para parte alguma, nem para o futuro, nem para o passado - está ali simplesmente, contigo. Na concentração silenciosa de tua própria energia, em seu calor, permaneces envolvido. Esse momento é tudo. Não há outro momento. O tempo pára e, então, o relaxamento existe. Se o tempo está presente, não há relaxamento. Simplesmente, o relógio pára; não há tempo. Esse momento é tudo. Tudo não pedes mais nada, apenas gozas o momento. As coisas simples podem ser gozadas, apreciadas, porque são belas. Na verdade, nada é comum - se Deus existe, tudo é extraordinário.


 Osho
 

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