A FLOR DE LOTUS DA LEI
Segunda Parte
“Tudo
o que é necessário está oculto na consciência humana. O ser humano não
precisa olhar para os céus, não precisa pedir por nenhuma graça vinda de
algum lugar. Ele precisa se tornar uma luz para si mesmo”. (Buda)
E
a luz existe, ela é a própria essência de sua vida. Aconteceu apenas
uma coisa, você a esqueceu; não que você a tenha perdido, mas apenas
esquecido.
A
vida é um esquecimento e uma lembrança. E isso é tudo, e essa é toda a
história. A pessoa adormece e sonha mil e uma coisas, e pela manhã
acorda e todos os sonhos se foram.
Assim
é a vida. Nós adormecemos – adormecemos em relação a nosso ser
interior. Nós nos esquecemos de quem somos... Daí o mundo, o samsara.
Samsara significa “o mundo de dez mil coisas”.
E
ficamos correndo de uma coisa para outra – em busca de um eu. Em razão
de termos perdido contato com nosso eu, estamos continuamente procurando
por ele.
Se
você olhar fundo na agonia do ser humano, esta é a agonia: Ele se
esqueceu de quem é e está procurando e perguntando para todo mundo:
“Quem sou eu?” Ele pode não estar tão consciente...
Perceba... é isso que você pede quando se apaixona. Você está pedindo a seu amado para lhe dizer quem é você.
Por
que as pessoas se sentem tão bem quando estão apaixonadas? Porque
começa a surgir alguma identidade. A mulher que você ama diz: “Você é
bonito, inteligente, único”. Ela está lhe dando um eu.
Quando
você diz a mulher: “Você é linda, nunca encontrei uma mulher tão linda;
não posso viver sem você, você é a minha vida, a minha alegria, a minha
própria existência”, está dando uma identidade à mulher.
Ela
está procurando por isso; ela não sabe quem ela é. Portanto, você está
criando um eu. Ela está criando um eu para você e você está criando um
eu para ela.
É
por isso que as pessoas se sentem tão à vontade quando estão
apaixonadas. Quando o amor desaparece, é quebrado, despedaçado, elas
ficam despedaçadas. Por que você fica novamente despedaçado? Porque sua
identidade novamente é perdida, novamente não sabe quem você é.
Por
que você procura dinheiro e riqueza? Apenas para ter alguma identidade,
de tal modo que saiba quem é você e as pessoas possam dizer quem é
você. Por que você procura por poder, por prestígio? Pela mesma razão.
O
ser humano está numa constante busca do eu, está numa constante crise
de identidade. Como no passado as coisas estavam mais estabelecidas, as
pessoas ficavam mais à vontade. Agora as coisas estão mudando tão
depressa que, repetidamente, sua identidade é despedaçada.
Pense...
Antes, uma vez casado, casado sempre. Você não ficava procurando de
novo por uma mulher ou por um homem; era algo para a vida toda, algo
liquidado.
Lentamente,
uma certa ideia ficava fixa: que você era o marido, o pai das crianças,
isso e aquilo. Mas hoje em dia isso é difícil.
De vez em quando, o homem troca de mulher, e a mulher troca de homem. Repetidamente, a pessoa terá de procurar pela identidade.
No
passado as pessoas costumavam fazer o mesmo trabalho por toda a vida;
isso era tradicional. Seu avô era carpinteiro, seu pai era carpinteiro,
você é carpinteiro, seus filhos serão carpinteiros – nesse contexto você
sabe quem é.
Agora é impossível saber. As pessoas ficam mudando de emprego; as coisas estão mudando tão rápido...
No passado, você sabia a que você pertencia. Você era indiano, cristão, hindu, chinês, budista. Agora você não sabe mais.
O mundo se aproximou muito e as fronteiras se tornaram falsas.
Quem é você? Esse é um dos problemas mais fundamentais. O ser humano moderno está muito confuso, praticamente paralisado.
E Buda diz: “Não ajudará se você criar uma falsa identidade”.
Você
pode viver com ela toda a sua vida, mesmo assim não saberá quem você é.
E a única maneira de saber disso é penetrar em você mesmo, com grande
recordação, atenção, percepção.
Ao
perguntar fora, tudo o que você obtém é falso. Sua mulher, seu homem,
seu país, sua religião, sua igreja – eles lhe darão certo tipo de
identidade, criarão um falso eu, mas isso não é real, e somente o
medíocre e o estúpido pode ser enganados por ele.
Mais
cedo ou mais tarde, a pessoa inteligente precisará perceber que essas
identidades são exteriores: Na verdade, ser um marido, um pai, uma mãe,
um cristão ou um hindu nada diz a seu respeito. Você ainda está na
escuridão.
Estes
rótulos podem ser de alguma ajuda no mundo exterior, mas seu cartão de
identidade não é você, seu nome não é você, mesmo sua fotografia não é
você, pois você continua mudando, e a foto simplesmente representa um
momento em sua vida, um gesto, mas não representa você.
Do
lado de fora não há como ver quem é você. Há somente uma maneira e
esta é ficar alerta, desperto e fazer grande esforço interior, de tal
modo que você não fique dormindo ali.
Somente então você terá um vislumbre da pessoa real – de quem você realmente é.
Osho
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