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sábado, 28 de janeiro de 2017

TANTRA - A SUPREMA COMPREENSÃO


Segunda Parte

Viajando por muitos anos, tive muitas oportunidades de observar as pessoas sem que elas o percebessem; às vezes, só uma pessoa estava comigo, em meu compartimento, e fazia todos os esforços para levar-me a conversar. Eu dizia sim ou não, até que ela desistisse. Então eu podia simplesmente observar - uma bela experiência, sem qualquer despesa.

Observava a pessoa: ela abria a maleta - e eu podia ver que nada estava fazendo - olhava para dentro, fechava-a. Então abria a janela e depois fechava. Voltava ao jornal, fumava, tornava a abrir a maleta, arranjava-a de novo, abria a janela, olhava para fora... que estava fazendo? E por quê? Por causa de um anseio interior, algo que tremia dentro dela, um estado de espírito febril. Tinha de fazer alguma coisa, para não se sentir perdida. Devia tratar-se de alguém de vida ativa que, agora que tinha um momento para relaxar, não podia fazê-lo - o velho hábito persistia.

Dizem que Aurangzeb, um imperador mongol, aprisionou seu velho pai. O pai de Aurangzeb, Shan Jehan, construiu o Taj Mahal. Aurangzeb destronou-o e o aprisionou. Dizem - e consta da autobiografia de Aurangzeb - que, depois de alguns dias, Shan Jehan não se preocupava com o fato de estar preso, porque fora rodeado de todo o luxo. Estava num palácio e vivendo como vivia antes. Aquilo não se parecia a uma prisão; tudo, absolutamente tudo o que lhe fosse necessário, encontrava-se ali. Só uma coisa faltava - atividade. Então, ele disse a Aurangzeb: - “Está certo; providenciaste tudo para mim e tudo é lindo. Se puderes fazer apenas uma coisa mais, serei eternamente agradecido. Manda-me trinta rapazes. Eu gostaria de dar-lhes lições.”

Aurangzeb não podia acreditar no que ouvia. - “Por que meu pai gostaria de dar lições a trinta rapazes? Jamais mostrou qualquer inclinação para o magistério, jamais se interessou por nenhum tipo de educação. Que aconteceu a ele?” - Mas atendeu ao pedido. Foram mandados aos trinta rapazes e tudo estava bem. Ele se tornava, de novo, o imperador - de trinta rapazinhos. Observemos uma escola primária; o professor é quase o imperador: manda que se sentem e os alunos têm de sentar-se. Pode ordenar que se levantem, e eles terão de levantar-se. E, naquela sala, com os trinta rapazinhos, Shan Jehan criou toda a situação da sua corte: um velho hábito, e o velho apego à droga de dar ordens às pessoas.

Os psicólogos suspeitam que os professores são, na verdade, políticos. Não bastante autoconfiantes para ingressarem na política, vão para as escolas e ali se tornam presidentes, primeiros-ministros, imperadores. Como seus alunos são crianças pequenas, eles lhes dão ordens, forçam-nas.

Os psicólogos suspeitam, também, que os professores inclinam-se ao sadismo, e que gostariam de torturar. E não há lugar melhor para isso do que uma escola primária. Podes torturar crianças inocentes - e podes torturá-las por elas mesmas, para o bem delas. Observa! Estive em escolas primárias, falando, e estudei os professores. E o que os psicólogos suspeitam é verdade para mim: são torturadores. Não é possível encontrar vítimas mais inocentes, completamente desarmadas, sem possibilidade sequer de resistir que as crianças. São tão fracas e indefesas que, diante delas, o professor levanta-se como um imperador.

Aurangzeb escreve, em sua autobiografia: “Meu pai, exatamente por causa dos velhos hábitos, ainda quer fazer de conta que é o imperador. Deixemo-lo fazer de conta, iludir-se, nada há de mal nisso. Mande-se-lhe trinta rapazinhos, ou trezentos, quantos ele quiser. Que ele dirija uma madersa, uma pequena escola, e seja feliz.”

A atividade existe quando a ação não é importante. Observa em ti mesmo: noventa por cento da tua energia perde-se em atividade. E, por esse motivo, quando chega o momento da ação, não te sobra energia alguma. Uma pessoa relaxada é, simplesmente, uma pessoa destituída de obsessão; a energia acumula-se nela. Conserva sua energia automaticamente e, então, quando chega o momento de agir, todo o seu ser flui para a ação. Por isso a ação é total. A atividade, por outro lado, é sempre exercida como meia disposição, porque não é possível que nos iludamos completamente. Nós sabemos que é inútil. Estamos conscientes de que fazemos determinadas coisas por algumas razões febris interiores, que nem mesmo são muito claras para nós, pois se apresentam vagas.

Podes mudar as atividades, mas, a menos que sejam transformadas em ações, não adiantarão. As pessoas dizem: - “Eu gostaria de deixar de fumar.” E eu digo: “Por quê? É uma MT tão bonita! Continua, porque, se deixares, começarás outra coisa: poderás começar a mascar pan, poderás mascar goma ou a fazer coisas ainda mais perigosas. Estas são coisas inocentes porque, quando mascas goma, estás mascando a ti próprio. Podes ser um tolo, mas não és violento, não és destrutivo para ninguém mais. Se parares de mascar goma, de fumar, o que farás? Tua boca precisa de atividade, ela é violenta e, então, falarás, falarás continuamente - blá, blá, blá - e isso é mais perigoso.

A esposa de Mulla Nasrudin veio cá um desses dias. Raramente me visita, mas, quando vem, eu percebo, imediatamente, que deve ter havido alguma crise. Então, perguntei: - “Que aconteceu?” Ela usou trinta minutos e milhares de palavras para dizer-me: - “Mulla Nurasdin fala quando dorme. Tu sugeres alguma coisa? Que deve ser feito? Ele fala demais e torna-se difícil dormir no mesmo quarto, pois ele grita e diz coisas obscenas.”

Então, respondi: - “Nada deve ser feito. Dê-lhe, apenas, a possibilidade de falar quando estão ambos acordados.”

As pessoas falam, sem dar qualquer oportunidade às demais. Falar é como fumar. Se falas vinte e quatro horas por dia... e falas... falas enquanto estás acordado. Teu corpo se cansa e adormeces, mas continuas a falar. O relógio faz toda a sua volta, vinte e quatro horas e tu estás falando, falando. É como fumar, porque o fenômeno é o mesmo: a boca precisa de movimentos. A boca é a atividade básica, porque é a primeira atividade que inicias na vida.

Uma criança nasce e começa a sugar o seio materno: essa é a primeira atividade. E fumar é como sugar um seio; o leite morno flui como flui a fumaça morna, quando se fuma. E o cigarro entre os lábios é como o bico do seio materno. Se não te permitirem fumar, masca um pouco de goma, ou qualquer coisa assim, pois, senão, tu falarás, o que é mais perigoso, porque estarás atirando teu lixo para as mentes de outros.

Consegues ficar em silêncio por muito tempo? Os psicólogos dizem que, se permaneceres em silêncio durante três semanas, começarás a falar contigo mesmo. Então, estarás dividido em dois: falarás e ouvirás também. E, se permaneceres em silêncio durante três meses, estarás inteiramente pronto para o hospício, porque, então, já não te incomodarás em saber se alguém está ou não a teu lado. Falarás e, não só falarás, como responderás também - estarás completo, dependerás de ninguém. Assim é um lunático.

O lunático é uma pessoa cujo mundo está confinado inteiramente a si próprio. É ele quem fala e é ele quem ouve. É o ator e espectador, é tudo; todo seu mundo está confinado a si próprio. Dividiu-se em muitas partes e fragmentou-se. Por isso é que as pessoas receiam o silêncio - sabem que podem enlouquecer. E, se receias o silêncio, é porque tens, dentro de ti, uma mente obsessiva, febril, doente, que está constantemente pedindo para ser ativa.

A atividade é a tua fuga de ti mesmo. Na ação, tu és; na atividade tu te esqueces; não há preocupações, nem angústia, nem ansiedade. Por isso é que precisas estar constantemente ativo, fazendo isto ou aquilo, mas nunca num estado em que o não-fazer floresça e desabroche em ti.

A ação é boa. A atividade é má. Procura a distinção, dentro de ti, entre o que é atividade e o que é ação: esse é o primeiro passo. O segundo é envolver-se mais na ação, de forma que a energia se transforme em ação; e, onde quer que haja atividade, sê mais observador a esse respeito, mais alerta. Se estiveres consciente, a atividade cessará, a energia será preservada e se transformará em ação.

A ação é imediata. Não é preparada, não é pré-fabricada. Não te dá qualquer oportunidade de preparação de passar por um ensaio. A ação é sempre nova e revigorante como o orvalho da manhã. E a pessoa de ação é, também, alguém sempre revigorante e jovem.

O corpo pode ficar velho, mas o frescor continua.

O corpo pode morrer, mas sua juventude continua.

O corpo pode desaparecer, mas ele continua - porque Deus ama o frescor.

Deus está sempre com o que é novo e revigorante.

Deixa de lado, cada vez mais, a atividade. Mas como farás isso? Podes tornar esse mesmo desejo de deixar de lado uma obsessão. Foi isso o que aconteceu aos monges, nos mosteiros? Deixar de lado a atividade tornou-se para eles uma obsessão. Estão continuamente fazendo alguma coisa para deixá-la: rezas, meditações, ioga, isto ou aquilo - coisas que também são atividades. Não a podes deixar de lado dessa maneira, pois ela entrará pela porta dos fundos.

Presta atenção. Vê qual é a diferença entre ação e atividade. E, quando a atividade tomar conta de ti - e na verdade isso pode ser chamado de possessão -, quando a atividade se apossar de ti, como um fantasma (e a atividade é um fantasma, vem do passado, está morta), quando a atividade se apossar de ti, digo, então tem ainda mais cuidado: é tudo quanto podes fazer. Observa-a. Mesmo que a tenhas de usar, usa-a em perfeita consciência. Fuma, mas fuma bem devagar, com perfeito conhecimento, de forma que possas ver o que está fazendo.

Se és capaz de observar o ato de fumar, chegará o dia em que o cigarro cairá de teus dedos, porque o absurdo do fumar te será revelado. É algo estúpido, simplesmente estúpido, idiota! Quando compreenderes isso, o cigarro, simplesmente, cairá de teus dedos. Não o podes atirar, porque atirar é uma atividade. Por isso é que o cigarro simplesmente cairá, tal como folha morta caindo da árvore. Se o tiveres atirado, irás apanhá-lo novamente, sob outra forma, de uma outra maneira.

Deixa que as coisas caiam; não as faças cair. Deixa a atividade desaparecer, mas não a forces a isso, porque o próprio esforço para levá-la a desaparecer é novamente atividade, sob outro aspecto. Vigia, sê alerta, consciente e alcançarás um fenômeno muito, muito milagroso: quando algo cai por si mesmo, de seu próprio acordo, não deixa traços em ti. Se forças a queda, porém, então fica o traço, fica a cicatriz. Sempre te gabarás de que fumaste durante trinta anos e, então, tu deixaste o cigarro. Bem, essa gabolice é atividade: falando sobre isso estás agindo da mesma maneira: não fumas, mas falas demais sobre o fato de teres deixado de fumar. Teus lábios estão de novo em atividade, tua boca está funcionando, tua violência está presente.

Quando um homem realmente compreende, as coisas caem e, então, ninguém pode receber crédito por isso. “Eu deixei”. Elas próprias deixaram. Tu não deixaste. Dessa maneira o ego não se fortalece através disso. E, então, mais e mais ações se tornarão possíveis. Quando quer que tenhas uma oportunidade de agir totalmente, não a percas, não vaciles - age.
 
 
Osho 
 
 

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