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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

SÓ NA REVOLUÇÃO TOTAL 

ESTÁ O FIM DO SOFRIMENTO

 

 

     Embora política, econômica, social e comercialmente as coisas estejam mudando rapidamente, a ligeireza dessas mudanças é mais significativa do que as próprias mudanças. O que nós necessitamos é de uma tremenda revolução psicológica; entretanto, aparentemente, não podemos acompanhar psicologicamente, as aceleradas modificações exteriores. Individualmente, continuamos envolvidos em conflito, como já o estamos há séculos. 


     Para se descobrir o que é verdadeiro, devem ser prescindidas todas as conclusões, todas as formas de comparações e condenação; isso é dificílimo para a maioria, porque somos educados, condicionados para condenar e justificar. Quando temos um problema, tentamos achar uma solução em vez de tratarmos de compreender o próprio problema; pois a solução está contida no problema, e não fora dele. Para a grande parte das pessoas a mudança consiste apenas em troca de padrão; então se vocês considerarem isso, verão que troca de padrão não é uma verdadeira transformação. Toda mudança operada na esfera do tempo é o mesmo movimento, modificado, continuado.


      A revolução implica numa percepção total de toda estrutura psicológica do "eu", consciente e inconsciente, e que se esteja totalmente livre dessa estrutura sem pensar em "tornar-se outra coisa", pois se não há compreensão do inconsciente, toda "mudança" psicológica é simples ajustamento a um padrão estabelecido pelo inconsciente. Refiro-me a revolução no inconsciente — à completa libertação da estrutura psicológica da sociedade, total abandono da ambição, da inveja, da avidez, do desejo de poder, posição, prestígio, etc. Esta é a única revolução, porquanto, sem ela, nada de novo pode existir; sem ela, ficamos apenas acalentando ideias, conceitos e, por conseguinte, haverá sempre sofrimento. Só tem fim o sofrimento quando há revolução total.


     Mas como poderá operar-se essa revolução sem esforço, sem se procurar fazer algo a esse respeito? Todo esforço ou luta que visa transformação envolve contradição e a contradição acentua o conflito já existente; portanto, não há transformação. Só se pode perceber o que é novo num estado de "inocência", isto é, quando o passado deixou de ter qualquer significação psicológica. 


   Porém a "inocência" de que falam é o oposto da complexidade, o oposto do sofrimento, da angústia, da luta, da confusão. A verdadeira "inocência", como o amor, não é um oposto. O amor não é o oposto do ódio. Só nasce o amor quando o ódio, em todas as suas formas, desapareceu. Do mesmo modo, a mente deve ser "inocente", embora tenha passado por todas as formas de experiência. Para que a mente realize esse estado de "inocência" devem terminar as acumulações de experiência — as quais são ainda o passado, ainda fazem parte do fundo inconsciente.

 
    A inocência não pode ser "produzida" com o uso de nenhuma droga, nem de nenhum método de ioga, nenhuma crença ou rejeição de crença, ou pelo aguardar a Graça de Deus. Tudo isso implica esforço, busca, ânsia de fugir ao fato — ao que é. E a inocência só pode vir à existência com a total libertação do "conhecido" — isto é, com o morrer para o "conhecido", morrer para o passado, as lembranças agradáveis, para todas as coisas que temos acalentado, formado "ajuntado" e que constituem nosso caráter. 


Infelizmente, a maioria de nós não deseja morrer para nada, principalmente para aquilo que nos dá prazer, as lembranças de coisas que temos experimentado e a que ficamos apegados. Preferimos encontrar um refúgio, viver numa ilusão. Mas, precisamos morrer para o "conhecido", a fim de que se torne existente a "inocência". Isto não é uma mera declaração verbal ou conclusão. É necessário morrermos realmente para o "conhecido", para o passado. Mas não podemos morrer para o conhecido se temos um motivo para morrer; pois todo motivo está enraizado no tempo, no pensamento; e o pensamento é a reação do fundo (background) da consciência, o qual é o "conhecido".


Todos estamos condicionados — como ingleses, russos, hinduístas, cristãos, budistas, o que quer que seja. Somos moldados pela sociedade, pelo ambiente; nós somos o ambiente. A maioria de vocês, sem dúvida, crê em Deus, em Jesus, porque nesta crença vocês foram educados; ao passo que na Rússia as pessoas foram condicionadas para não aceitarem nada disso. A totalidade do condicionamento da mente é o "conhecido", e esse condicionamento pode ser quebrado, mas não por meio da análise, e sim quando considerado de maneira negativa, e essa maneira negativa não é o oposto da positiva. Assim como o amor não é o oposto do ódio, assim também esse "negativo" não é o oposto do "positivo", que é exame, análise, esforço para alterar o padrão existente ou para ajustar-se à um padrão diferente. 

  
O "negativo" de que falamos é a total rejeição dos opostos. Quando rejeitamos totalmente o método  pelo qual se procura modificar a mente por meio do esforço, de análise, então o nosso método é negativo; e só nesse estado de negação a mente pode ser "inocente". Essa é a mente verdadeiramente religiosa. A mente religiosa não é aquela que crê, que vai à igreja todos os dias ou uma vez por semana; não é a mente que têm um credo, que está escravizada a dogmas e superstições. A mente religiosa é, deveras, uma mente científica; científica, no sentido de que é capaz de observar os fatos sem desfigurá-los, de ver a si própria tal como é. O libertar-se do condicionamento requer, não uma mente crédula, uma mente disposta a aceitar, porém uma mente capaz de observar racionalmente, com sanidade, e de perceber que, a menos que seja despedaçada a estrutura psicológica da sociedade, ou seja o "eu", não pode haver "inocência"; e que, sem "inocência" a mente nunca poderá ser religiosa.

 
A mente religiosa não é fragmentária, não divide a vida em compartimentos. Ela abarca a totalidade da vida — a vida de prazeres e dores, a vida de alegrias e satisfações passageiras. Uma vez que está totalmente livre da estrutura psicológica da ambição, da avidez, da inveja, da competição, de toda exigência de mais, acha-se a mente religiosa num estado de "inocência"; e só assim a mente pode transcender a si própria, e não quando crê, meramente, num além ou nutre uma certa hipótese relativa a Deus. 
 
 
A palavra "deus" não é Deus; o conceito que vocês têm de Deus não é Deus. Para se descobrir se existe isso que se pode chamar "Deus", devem desaparecer totalmente todos os conceitos verbais e formulações, todas as idéias, todo pensamento que seja reação da memória. Só então existe aquele estado de "inocência" em que não há automistificação, nem o querer ou desejar resultado; e então vocês poderão descobrir por vocês mesmos o que é verdadeiro. 
 
 
Assim, a mente já não está em busca de experiência. A mente que busca por experiência é imatura. A mente "inocente" já não se interessa pela experiência. está livre da palavra, ou seja, da capacidade de reconhecer, com seu fundo de conhecimento (background). O reconhecimento implica associação, que pode ser verbal ou empírica, e sem essa associação nada se pode reconhecer. A mente religiosa, ou "inocente", está livre da palavra, livre de conceitos, padrões, formulações, e só assim pode uma mente descobrir por si própria se há, ou não, o Imensurável.
 
 

Krishnamurti - O homem e seus desejos


Li certa vez que quando estamos nos movimentando  na água ( mundo dos desejos) nossos movimentos são rápidos, movemo-nos à vontade, sem esforço, ao passo que quando estamos  nos deslocando no mel (mundo do amor), nossos movimentos são mais lentos, precisos, esforçamo-nos mais. Quando iniciamos nossa caminhada pelo mundo do amor é necessário esquecer o velho 'eu' condicionado a padrões preestabelecidos e começar o nosso voo para o desconhecido. Estamos preparados ? Nunca estaremos, pois se criarmos modelos mentais para adentrar esse mundo totalmente novo ficaremos perdidos novamente. Não há modelos, não há padrões para vivermos o amor. Feche seus olhos, respire profundamente e solte as amarras... Amemos e tudo entenderemos... KyraKally





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