A COMPREENSÃO DO DESEJO
Começamos, pois, a ver que a mente
deve ser vigilante e sensível. Estou empregando a palavra "mente" para
designar
o "intercâmbio" entre cérebro e a coisa que controla o
cérebro; pois a mente não consta apenas de nervos e células cerebrais,
mas também daquilo que é ao mesmo tempo transcendente
e constituído de
células - a coisa total.
A mente que a maioria de nós possui
está sobrecarregada de problemas, aos quais todos os dias acrescentamos
novos problemas. Dessa maneira, todo o nosso ser se torna embotado e
perdemos toda a sensibilidade. E quando não somos sensíveis, fazemos
esforço. Vede, por favor, o círculo vicioso
em que estamos
aprisionados.
Assim, pois, a compreensão do desejo é necessária.
Tendes de compreender o desejo e não viver sem desejo.
Se
matais o desejo, ficais paralisado. Se olhais o por do sol à vossa
frente, esse próprio ato de olhar constitui um deleite, se sois
sensível. Isso também é desejo - o deleite. E não podeis ver o por do
sol e com ele deleitar-vos, se não sois sensível.
Se, vendo um homem
rico passar em seu luxuoso carro, não podeis deleitar-vos com isso - não
porque desejeis um carro igual, mas porque simplesmente vos deleita
ver um homem conduzindo um belo carro; ou se, vendo um pobre ente
humano, sujo, andrajoso, inculto, desesperado, não sois capaz de
infinita piedade, afeição, amor - não sois sensível.
Como podeis encontrar a realidade, se não tendes essa sensibilidade, esse sentimento?
Assim, para compreender o desejo, é preciso compreender, escutar cada murmúrio da mente e do coração, cada alteração do pensamento e do sentimento; é preciso observar o desejo, tornar-se sensível a ele, vivo para ele. Não podeis tornar-vos vivo para o desejo, se o condenais ou se o comparais.
Deveis estar solicitamente atento ao desejo, porque ele
vos dará uma compreensão imensa. E dessa compreensão provém a
sensibilidade. Sois então sensível, não apenas fisicamente sensível à
beleza, à sordidez, às estrelas,
ao sorriso ou às lágrimas, mas sensível
também à todos os murmúrios, todos os sussurros que vos povoam a mente
- vossas secretas esperanças e temores.
E desse escutar, desse vigiar, vem a paixão,
aquela paixão aliada
do amor. Só esse estado estado
é que pode cooperar. E só esse estado
que é capaz de cooperar, sabe quando não se deve cooperar. Por
conseguinte,
em virtude dessa profunda compreensão e vigilância,
a mente
se torna eficiente, lúcida, cheia de vitalidade e de vigor; e só essa
mente pode viajar para muito longe.
Jiddu Krishnamurti
Escutamos muito sobre extirpar os desejos... Como podemos arrancar algo que nem podemos ver ? Como podemos destruir algo que não conseguimos tocar, nem tampouco compreender ? São coisas abstratas... só podemos senti-los. Só conseguiremos observá-los e analisá-los à luz do amor e, então, compreendê-los. Eles estão aí por algum motivo, pois nada existe sem uma razão. Juntos vamos observar os nossos desejos e conhecê-los melhor para existirmos com mais harmonia. KyraKally
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