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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

DO SÓ PARA O SÓ


Nunca estamos sozinhos; vivemos sempre rodeados de pessoas 
e de nossos próprios pensamentos. 

 
Mesmo quando as pessoas estão longe, vemos as coisas através 
do filtro de nossos pensamentos. São muito raros, 
ou mesmo inexistentes, os momentos 
em que o pensamento não exista. 

 
Não sabemos o que é estar sozinho,
estar livre de todas as associações, de toda a continuidade, 
de todas as palavras e imagens.

 
Somos solitários, mas não sabemos o que é estar sozinhos.
 
 
Fisicamente, podemos estar só, mas na verdade não estamos sozinhos, porque estamos acompanhados de todas as lembranças, todos os nossos conflitos, todas as nossas  preocupações; 
porque somos o passado. Só estamos só quando 
o passado desapareceu de todo, quando não há família, 
quando não há deuses feitos pelo pensamento, quando não estamos sendo perseguido por lembranças. Só então estamos só. E só essa solidão é capaz de ver. Porque só ela é inocente. 
Só os inocentes podem ver a plena beleza da vida.
 
 
A dor da solidão enche nossos corações, e a mente a encobre com medo. A solidão, aquele isolamento profundo, é a sombra negra de nossa vida. Fazemos o possível para escapar dela, mergulhamos em todas as rotas de fuga que conhecemos, 
 mas ela nos persegue, e jamais estamos fora dela. 
 
 
 O espaço e o silêncio são necessários, porque é quando 
a mente está , livre de influências, de conhecimentos, 
de seus milhares de experiências, e já não está funcionando no limitado e insignificante campo de sua monótona existência de cada dia — é apenas quando a mente está livre de tudo isso, 
, em silêncio, que ela é capaz de descobrir ou 
de encontrar uma coisa totalmente nova.
 
 
O isolamento é o modo de nossa vida; raramente nos fundimos com outra pessoa, pois em nosso íntimo estamos quebrados, despedaçados e incurados. Em nós mesmos não estamos inteiros, completos e a fusão com outro só é possível
 quando há integração interior.
 
 
Temos medo de estar sozinhos, pois isso abre a porta 
para nossa insuficiência, para a pobreza 
de nossa própria existência; mas é o estar sozinho 
que cura o intenso ferimento da solidão. 
 
 
Caminhar sozinho, sem o estorvo do pensamento, 
do rastro de nossos desejos, é ir além do alcance da mente. 
É a mente que isola, separa e interrompe a comunhão. 

 
A mente não pode ser tornada inteira; ela não pode tornar-se completa, pois esse próprio esforço é um processo de isolamento, é parte da solidão que nada consegue encobrir.
 
 
A mente é o produto dos muitos e o que é criado 
em conjunto jamais pode estar só. 

 
O estar só não é resultado do pensamento. 

 
Somente quando o pensamento está totalmente quieto 
há a fuga do só para o só.
 
 
Estar só, sem se retirar da sociedade, sem se tornar eremita, 
é um estado extraordinário. A pessoa está só porque compreendeu a influência, a autoridade. Compreendeu inteiramente a questão da memória, do condicionamento e torna-se existente uma solidão inatingível pela influência.
 
 
E você não tem ideia de quanta beleza há nessa solidão, 
e que extraordinário sentimento de virtude, que é vitalidade, virilidade, força. Mas isso requer imensa compreensão 
de todo o nosso condicionamento.
 
 
“Estar só” tem significação inteiramente diferente; tem beleza. Quando o homem se liberta da estrutura social - de avidez, inveja, ambição, arrogância, sucesso, posição - quando de tudo isso se liberta, está então completamente só.  Há então grande beleza, sentimento de grande energia.
 
 
Julgo essencial que você entre, de vez em quando, 
em recolhimento, deixando tudo o que está fazendo, 
detendo por completo as suas crenças e experiências, 
 olhando-as de maneira nova, em vez de ficar a repetir, 
 como máquinas, o que crê ou o que não crê. 
Você deixaria, assim, entrar ar fresco em sua mente.
Isso significa que você tem de estar inseguro.

 
Se vocês forem capazes de tanto, estarão abertos aos mistérios da natureza e para as coisas que sussurram ao redor de nós, encontrarão o Deus que aguarda o momento de vir, 
a verdade que não pode ser chamada, mas vem por si mesma. Não estamos abertos ao amor e a outros processos mais delicados que se verificam dentro de nós, porque vivemos fechados em nossas ambições,  realizações, desejos.
 
 
Krishnamurti
 
 
 
 
 
 

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