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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

REPARANDO NOSSAS RELAÇÕES

Que se entende por relações? Que significa “estar em relação”? Relações significam contato, estar junto - estar relacionado, em contato direto com outro ente humano, conhecer-lhe as dificuldades, seus problemas, sua aflição, sua ansiedade, que é também nossa. E, compreendendo a si mesmo, compreende o ente humano e, consequentemente, pode operar uma transformação radical na sociedade.

Assim, torna-se de essencial necessidade a radical transformação do ente humano. Porque quase todos nós ainda somos animais. Se observar os animais, verá que somos parentes muito próximos. Observe um cachorro, um animal de estimação! Como são ciumentos! Como gostam de adulação, de afagos, etc., exatamente como os entes humanos  A menos que seja totalmente transformado o animal em nós existente, por mais que nos esforcemos, ainda que nos liguemos às mais extravagantes ideologia - nunca resolveremos esse problema.
 
Para a maioria de nós, “relações” é um termo que significa conforto, satisfação, segurança; e nessas relações servimo-nos da propriedade, das ideias e das pessoas para nossa própria satisfação. Quando nos servimos de outras pessoas, exigimos a posse, física ou psicológica; e, ao possuirmos alguém, criamos todos os problemas do ciúme, da inveja, da solidão e do conflito.
 
Assim, nossa dificuldade e nosso crescente problema decorrem da falta de compreensão das nossas relações, compreensão que, essencialmente, é autoconhecimento. É importante que compreenda fundamentalmente as suas relações com sua esposa, seu marido, seu vizinho; porque as relações são uma porta através da qual podemos descobrir a nós mesmos, e compreender o que é o pensar correto.

Nossas relações atuais são realmente muito confusas, desditosas, contraditórias, isoladas; nelas, cada um trata de estabelecer para si, em torno de si, e dentro de si, uma muralha inacessível. Examinem-se - não o que você deveriam ser, mas o que realmente são. Como são inacessíveis, cada um de vocês! - pois vocês têm tantas barreiras, ideias, temperamentos, experiências, aflições, cuidados, preocupações! E atividade de vocês de cada dia está sempre a lhes isolar; ainda que casado, com filhos, estão sempre a funcionar, a atuar egocentricamente
 
Apresenta-se, assim, o problema: Como posso eu, que vivo em relação, operar uma mutação radical nas minhas relações? Eu não posso fugir das relações. Viver é estar em relação. Assim, tenho de compreender e de alterar as relações. Tenho de descobrir um meio de operar uma transformação total de minhas relações; porque, afinal de contas, elas estão produzindo guerras.
 
Que é então a relação? A mim me parece que esta é uma das coisas mais importantes na vida, porque o viver é relação. Se não há relação, o viver não existe em absoluto; a vida se converte então em mera série de conflitos que termina em separação, solidão com seus temores, ansiedades, problemas de apego, e todas as coisas envolvidas nesse sentimento de achar-se completamente isolado.

Se minha mente é mesquinha, estreita, limitada, eu hei de enxergar a mesma coisa nos outros. Esse desejo de criticar os outros é verdadeiramente extraordinário. Como posso saber o que outra pessoa é, se não sei o que eu próprio sou? Como posso julgar outra pessoa, se minha medida é defeituosa?
 
Assim, se examinarmos a nossa vida e observarmos as nossas relações, vemos que elas constituem um processo em que levantamos resistência uns contra os outros, em que erguemos uma muralha, por cima da qual olhamos e observamos os outros; mas conservamos sempre a muralha e permanecemos atrás dela, quer seja uma muralha psicológica, quer uma muralha material, econômica, nacional.
 
Quando um homem está interessado só em si mesmo e no prolongamento de si mesmo, como pode ele ter amor no coração, como pode ter boa vontade? O homem que não pensa em si criará por certo um mundo novo, uma nova ordem, e é para esse homem que devemos volver os olhos. A boa vontade, a felicidade, a bem-aventurança, só virá quando houver a busca do real. O real está perto, não distante.

Sois responsáveis pelas misérias e pelos desastres que ocorrem no mundo, pois na vossa vida diária sois cruéis, opressores, ávidos e ambiciosos. Abrigai em vossos corações a paz e a compaixão, e aclarar-se-ão as vossas dúvidas. Se não extirpais de vós mesmos as causas da inimizade, da ambição, da avidez, são falsos os vossos deuses e vos conduzirão à desgraça. Só a benevolência e a compaixão são capazes de promover a ordem e a paz no mundo.
 
Perdemos o sentimento de humanidade; reconhecemo-nos responsáveis somente perante a classe ou grupo a que pertencemos; perante um nome, um rótulo. Perdemos a compaixão, o amor ao todo, e, sem essa vivificante chama da vida, volvemo-nos para os políticos, os sacerdotes, Em nada disso há esperança. Só no interior de cada um de nós reside a compreensão criadora, a compaixão, tão necessária para o bem-estar do homem. Os meios criam os fins justos.
 
Estamos tentando descobrir se é possível viver neste mundo sem nenhum medo, conflito, com um enorme senso de compaixão, o que exige grande soma de inteligência. Você não pode ter compaixão sem inteligência. E essa inteligência não é atividade do pensamento. Você não pode ser compassivo se está ligado a determinada ideologia, a um particular tribalismo estreito, ou a algum conceito religioso, porque tudo isso é limitação. A compaixão só pode surgir, despertar, quando há o fim do ressentimento, o que representa o fim do movimento egocêntrico.

Quando compreendo a mim mesmo, compreendo a vós, e dessa compreensão nasce o amor. O amor é o fator que está faltando - há falta de afeição, de cordialidade, nas relações; e porque falta esse amor, essa ternura, essa generosidade, essa compaixão, em nossas relações, escapamo-nos para a ação em massa, que produz maior confusão e maior miséria.
 
Não sei se você penetrou nessa questão com profundeza e por si próprio descobriu se pode viver com outra pessoa em total harmonia, em completo acordo, de forma que não haja barreira, divisão, mas um sentimento de completa unidade. Porque relação significa estar em relacionamento, não em ação, não com algum projeto, não com uma ideologia - mas estar totalmente unido no sentido de que a divisão, fragmentação entre indivíduos, dois seres humanos, não mais exista em nenhum nível.
 
 Krishnamurti
 
 
Está faltando a essência básica, fundamental, o fermento - AMOR - para sermos completos, inteiros, inteligentes. Sem ele nada seremos, nada construiremos, nada permanece. Seremos como fumaça... inconsistentes... "Ame e compreenderás". KyraKally

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