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sábado, 11 de julho de 2020

O S    O L H O SUm olhar que gera vida

Amado Osho, Eu me lembro de Você falando sobre os olhos e o ato de se olhar dentro dos olhos das pessoas e do de esconder-se, ao não se olhar diretamente dentro dos olhos de alguém. Depois desse discurso, eu larguei os meus óculos, que eu usava desde que tinha um ano de idade. Sem usá-los, descobri-me mais aberta a olhar nos olhos das pessoas, e senti grande poder em meus olhos. Poderia Você, por favor, falar sobre a necessidade psicológica de usar óculos?

Isso é algo verdadeiramente significativo de se compreender.

Nenhum animal precisa de óculos. É muito estranho o porquê do homem precisar de óculos. As razões são duas: a primeira é a razão fisiológica; e a segunda é a razão psicológica.

A razão psicológica é que o nosso processo de ajudar uma mãe a dar nascimento a uma criança está basicamente errado. Por exemplo: a criança esteve durante nove meses em profunda escuridão; seus olhos são muito delicados, frágeis. E, no hospital onde ela vai nascer, ela vai encarar, imediatamente após o nascimento, luzes fortes em toda a volta. Esse é o primeiro choque para todo o delicado sistema dos seus olhos. E os olhos são a parte mais delicada do seu corpo - mais tenros que uma pétala de rosa, muitíssimo frágeis e importantes, porque oitenta por cento das experiências de sua vida dependem deles. Somente vinte por cento são a contribuição dos seus outros sentidos.

Essa é uma das razões de por que um cego, subitamente, cria uma profunda compaixão em vocês. O surdo não cria a mesma compaixão. Ele também tem a perda de algo - ele não pode ouvir. O mudo não pode falar... De qualquer outro modo o corpo pode ser deficiente, mas nada cria mais compaixão em você do que o cego. Sem saber, inconscientemente, há uma compreensão de que o cego é o mais pobre.

Oitenta por cento das experiências da vida dele estão anuladas; ele está vivendo com somente vinte por cento. Sua vida não tem cores, sua vida não tem experiências de beleza, sua vida não tem experiências de proporção. Sua vida perdeu a beleza do pôr-do-sol e da noite estrelada. Seus olhos perderam milhões de outros olhos que estão cheios de experiências - e estar em contato com eles é estar em contato com diferentes mundos.

Mas a maneira como os hospitais decidiram fazer nascer uma nova criança é perigosa. Primeiramente, estragam os olhos. Em segundo lugar, destroem a confiança da criança. A criança viveu durante nove meses no útero da mãe, com imensa confiança - a questão da dúvida nem aparece. Tudo o que ela quer, ela consegue - na verdade, antes de ela querer, ela o consegue. Não há nenhuma responsabilidade, nenhuma preocupação, nenhum problema de tempo. Ela não pensa no amanhã, nem tem lembranças do ontem. Ela vive momento a momento, completamente alegre. Não há nada para torná-la triste, nada para torná-la miserável.

Mas, no momento em que nasce, toda a sua vida passa por uma grande, trágica mudança. Os médicos estão apressados - não podem esperar nem dois minutos. Querem cortar logo o cordão que une a criança à mãe - e cortam-no imediatamente, sem se incomodar com o fato da criança ainda não ter respirado por si mesma, do seu próprio sistema ainda não ter começado a funcionar... eles já cortaram a conexão com a fonte de vida da mãe. Esta é uma das feridas profundas que será carregada por toda a sua vida.

E depois, para fazer a criança respirar, eles a dependuram de cabeça para baixo e batem-lhe na bunda - uma grande recepção! E por causa dessa pancada, a criança começa a respirar. Mas esta respiração não é natural nem espontânea. Se eles tivessem esperado por apenas dois ou três minutos e deixado a criança em cima da barriga da mãe... Ela esteve lá dentro nove meses; com apenas três minutos do lado de fora, em cima da barriga - a mesma quentura, a mesma mulher, a mesma energia -, ela começaria a respirar por si mesma. E depois, cortar o cordão, seria absolutamente lógico, racional e científico.

E tudo o mais que está sendo feito então, não leva em conta as implicações. A criança esteve no útero da mãe, em uma certa quentura. Estava flutuando. O melhor modo seria, uma vez que ela começasse a respirar por si mesma, pô-la em uma banheirinha de água morna, contendo a mesma química que a do útero da mãe - é exatamente a mesma que a da água do oceano. ...E é isso o que faz com que os evolucionistas estejam certos de que o homem nasceu no oceano.

Vocês ficarão surpresos de saber que a primeira encarnação de Deus, no hinduísmo, é um peixe. Isso é muito esquisito - só a ideia... -, mas, para eles, Deus era vida. E uma pequena tradução é necessária: ao invés de dizerem que a reencarnação de Deus foi como um peixe, tudo o que é necessário é dizer que o começo da vida foi como um peixe.

Permitam à criança a mesma atmosfera, a fim de que ela não se sinta, desde o primeiro momento, num mundo de estranhos, amedrontada. Mas nós a fazemos medrosa. Destruímos seus delicados olhos, destruímos sua espontaneidade, até mesmo forçamos sua respiração. Não lhe fornecemos um desenvolvimento natural, ao qual ela está acostumada.

Todas essas pequenas coisas vão afetar toda a sua vida. Por exemplo: sempre que ela estiver aflita, sua respiração se tornará errática. Sempre que ela estiver com medo, sua respiração será imediatamente afetada. E, mais cedo ou mais tarde - como o homem é o único que usa os olhos para ler, e os seus olhos não são mais tão poderosos quanto a natureza os fez -, a criança descobre que seus olhos estão enfraquecendo. Ela não pode ver as letras pequenas, os pequenos desenhos, ou não pode ver as coisas lá longe, e aí os óculos tornam-se necessários. Se os óculos forem evitados, então, os seus olhos continuarão deteriorando. Os óculos são simplesmente para ajudá-la, apenas para compensar pelos danos que foram feitos.

Mas os óculos têm a sua própria psicologia. Com os óculos, você está sempre por trás de uma cortina, de algum modo, escondido - não encarando a vida como ela é, tentando evitar, desse ou daquele modo, jamais ser direto, sincero. Os óculos estão ajudando-o a proteger os seus olhos, mas eles trazem seus próprios problemas com eles. E esses são os problemas. Eles ficam entre você e o mundo, entre você e a pessoa que você ama, entre você e a pessoa com quem você está se comunicando.

Devido aos óculos, você jamais entra em contato direto com os olhos da outra pessoa. E isso é perder uma grande experiência, porque as pessoas são basicamente os seus olhos.

Se você puder olhar nos olhos de uma pessoa, a profundidade deles será a profundidade daquela pessoa. Uma pessoa espertalhona não lhe permitirá olhar diretamente dentro dos olhos dela, porque os olhos da pessoa espertalhona revelam a esperteza dela.

Os olhos são basicamente uma abertura - a pessoa espertalhona tem medo, ela sempre olhará de lado. Ela pode estar falando com você, mas olhando para outra coisa - sua fala e os seus olhos não estarão olhando na mesma direção. Ela o estará ouvindo, mas seus olhos não estarão concentrados em você. O homem que queira enganá-lo, não pode confrontá-lo olho no olho. Somente uma pessoa simples, sincera, uma pessoa com um coração amoroso e sem desejos de esperteza, lhe permitirá olhar dentro dos olhos dela, porque ela sabe que você descobrirá a verdade dela. Ela não tem nada a esconder.

Sendo assim, se você usa óculos, use-os somente para propósitos especiais. Se você precisa deles para ler, use-os para ler. Se você os usar continuamente, será perigoso - não para os seus olhos, mas para todo o seu ser. Se você precisa deles para ver à distância, pode usá-los; mas não faça deles, parte do seu ser.

Seus óculos jamais devem ser parte do seu ser. Somente quando necessário, use-os. Quando sentir que não são necessários, tire-os, assim, pelo menos por longos períodos, você fica, à disposição do mundo, em sua autenticidade, e o mundo fica à sua disposição - sem barreiras.

Você não pode fazer nada contra o mal básico, mas, se você der nascimento a uma criança, é melhor fazê-la nascer entre seus amigos queridos, a luz de velas, queimando incenso, com flores ao redor. Dê à criança, pelo menos, as boas-vindas ao mundo.

E não sejam técnicos - o homem não é uma máquina -, sejam humanos. Deixe-a primeiramente respirar; depois corte a conexão com a mãe. Não há nenhuma pressa. Deve ser dada a ela, a chance de ser espontânea - caso contrário, ela sofrerá, por toda a vida, dificuldades e problemas ligados à respiração.

E não há nenhuma necessidade de luzes fortes - caso contrário, você já começou a destruir os olhos dela. Logo, logo, ela precisará de óculos. Se você os esteve usando desde que tinha um ano de idade, isso mostra o que estivemos fazendo às crianças. E ninguém lhe diz para usar os óculos somente quando você precisar deles; em contrapartida, não os deixe tornarem-se um hábito essencial.

Sabe-se sobre Mulla Nasruddin, que certa noite ele acordou e perguntou à esposa: “Onde estão os meus óculos?”.

Ela disse: “Qual é a necessidade dos óculos no meio da noite?”.

Ele disse: “Eu não quero brigar - não estou em posição agora -, explicarei tudo mais tarde. Primeiro, meus óculos!”. Já com os óculos, ele tenta por alguns minutos, e depois diz: “Você destruiu tudo. Se tivesse me dado os óculos logo, talvez eu não tivesse perdido. Eu estava tendo um sonho tão lindo! Aí, lembrei-me: ‘Não posso ver sem os óculos.’ . Um sonho tão lindo! Devo ter perdido muito. E você é tão estúpida que ficou discutindo comigo.

“Quando eu estava pedindo os meus óculos, você deveria ter compreendido que devia haver alguma necessidade, e que mais tarde você poderia discutir sobre aquilo. Mas naquela hora... e o intervalo ficou tão grande, que eu tentei repetidamente com os óculos, mas o sonho já estava destruído. E com a destruição dele, eu não pude conseguir ligar-me a ele novamente.

“E não se tratava apenas de um lindo sonho, tinha algo a ver com as finanças também. Um homem estava prometendo dar-me dinheiro, e nós estávamos regateando. Ele queria comprar alguma coisa, e eu já o tinha levado para as noventa e nove rupias. Mas eu teimava - estava tentando levá-lo às cem rupias; era apenas uma questão de uma rupia a mais. E a coisa que estava sendo vendida não valia nem vinte rupias. Eu deveria tê-la dado por noventa rupias, mas eu quis ver o homem com precisão, e quis contar o dinheiro com precisão. Os óculos eram necessários.

“Depois que pus os óculos, fiquei dizendo ao homem: ‘Onde quer que esteja, volte! Tudo bem - aceitarei as noventa e nove, aceitarei noventa e oito. Estou disposto a lhe dar até por noventa.’ . Mas ninguém respondeu. Só por causa desses óculos, o lucro todo foi perdido. E eu nem sei se poderei encontrar-me com aquele homem novamente, porque, em primeiro lugar, não posso reconhecê-lo sem os meus óculos. Mesmo que o encontre amanhã, na rua, não serei capaz de reconhecê-lo, porque o que eu estava vendo eu não sei se era verdade, ou não.”.

As pessoas estão tão acostumadas com seus óculos, que eles se tornam quase os substitutos dos seus olhos. Aí fica perigoso. Seus olhos precisam de um pouco de liberdade: de vez em quando, tirem os óculos. E há alguns exercícios disponíveis. Façam esses exercícios que farão seus olhos mais fortes, mais saudáveis, e talvez você possa não mais precisar de óculos, absolutamente.

Osho, Além da Psicologia
http://www.giselebomentre.com.br/osho.htm#Os%20Olhos

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